abri um largo sorriso ao vê-lo em meio a massa de gente. O Idiota. Pensei no quanto era atrente, no quanto se sobrepunha aos outro. Quis abraçá-lo, até mesmo para não o deixar escapar, mas desviei o olhar reluzente antes que ele pudesse perceber...
Isso após captar o levantar travesso dos cantos da sua boca. Tratava-se de um sorrisinho travesso. Me impressionou. O gesto era bastante peculiar. Nunca vira sorrisos assim antes. Testumunhara um bilhão deles, contudo nada tão intenso... Quis ver um pouco mais. Talvez pudera, se ele não tivesse desaparecido com a mesma sutileza que surgira. Rápido e avassalador. Discreto e conveniente. Bonito e sensual.
Afastando depressa o pensamento, sacudi a cabeça. Antes do sorriso, se ligara em uns outros detalhes- como no cabelo esvoaçante e no terno elegante que vestia, acompanhado de uma gravata cor de vinho. Quando o conheci, naquela escada da escola, não o imaginaria, nem que tentasse, usando algo tão clássico. Mas devo admitir: lhe caía superbem. E quanto àquele simples sorriso... foi o que de fato me fascinou.
Eu não sabia o porquê de ter sorrido para ele primeiro. Talvez, agitação do momento. Talvez, distração. Ou, o que fazia mais sentido, era o que realmente queria fazer, desde que o vira naquela escada.
A festa bombava, com direito à pista de dança, DJ particular e globo de luz. Pessoas se movimentavam, agitadas, no ritmo da música, quase sempre descabeladas. Eu nunca estive em baladas, e toda aquela luz me deixava tonta. Mas nada disso importava. Eu tinha que achar o Idiota novamente.
Olhei para todas as direções, mas nada cooperou para que eu o encontrasse. Havia uma porção de rapazes de terno, e as luzes confundiam meu cérebro. Suspirei, convencendo-me a desistir.
Senti alguém puxar meu braço e notei que se tratava de Bryan. Ele arqueou uma sobrancelha, com o sorriso mais sem-vergonha que eu já vira. Ele entrelaçou o braço no meu e me guiou para a pista de dança, contra qualquer relutância minha. Antes que eu percebesse, ele já estava com as mãos na minha cintura, e forçara que eu envolvesse os braços no seu pescoço. Bryan era meu amigo, mas sempre fora muito inconveniente.
Aproximou o rosto do meu ouvido e gritou, por sobre a música alta:
-Apenas dance, Luciana. Esqueça seus problemas e dance.
Sim, ele tinha razão. Eu não podia estar na festa mais animada da minha região e carregar os problemas nas costas. Então relaxei, e deixei que Bryan me conduzisse na dança rápida e divertida.
Ele era fantástico, um pé de valsa. Eu, muito ao contrário, só ria o tempo inteiro de seus passos exóticos e de minha falta de experiência. Ele me girou vezes o suficiente para que eu visse o mundo girar, e por um momento, eu fui feliz.
Quando a dança acabou, e uma música lenta de casaisinhos românticos começou a tocar, Bryan e eu saímos da pista e fomos tomar uma bebida. Pedimos dois refrigerantes e nos sentamos em banquinhos de bar.
-Você dança bem.- Elogiu Bryan.
Eu, que começara a bebericar o refrigerante pelo canudinho, quase cuspi tudo em cima dele.
-Meu Deus, Bryan.- Engoli a força.- Não faça piadas quando eu estiver bebendo.
Ele gargalhou.
-Verdade, eu achei que uma mentirinha colaria.- Ele pegou copo sobre o balcão e mexeu o refrigerante com o canudo, observando as bolhas resultantes.- Na verdade, você parece uma pata choca quando está dançando. Cara, eu quase te larguei lá pagando mico sozinha.
-Poxa.- Ri.- Essa magoou geral.
Bryan encolheu os ombros.
-Eu tentei mentir, mas você quase espirrou refrigerante em mim. Então, verdade seja dita.- Ele fez uma pausa, colocando novamente o copo no balcão e se levantando.- Vou ao banheiro. Pode beber meu refrigerante, não quero mais.
-Eu não.- Retruquei.- Esse troço seu todo babado? Me poupe.
Ele riu e simulou uma arma com a mão. Eu segui o movimento e apontei para ele. PAH! Fizemos ao mesmo tempo, e colocamos as armas invisíveis na cintura. Era como um cumprimento entre mim e Bryan.
-Te vejo, gatinha.
-Espero que não.- Ri.
E ele sumiu no meio das pessoas. Virei-me no banquinho e apoiei os cotovelos no balcão, sugando o refrigerante pelo canudo. Fiquei com meus pensamentos tempo o bastante para refletir sobre o Idiota e sobre seu sorrisinho travesso. Em alguns aspectos, ele me causava raiva. Talvez por ser convencido demais. Mas em outros, eu me derretia toda ao vê-lo. O que estaria acontecendo comigo? Eu estava me apaixonando? Por um idiota?
-Vodka, por favor.- Pediu alguém ao meu lado.
Olhei rapidamente e encontrei, nada mais, nada menos que ele. O Idiota. Naquele terno azul-marinho, ele parecia uma pessoa bem mais séria do que de fato era, e de alguma maneira isso me incomodava. Acho que era porque isso não combinava com a imagem que eu tinha dele. Tentei ignorá-lo, sugando o restante do meu refrigerante e me preparando para levantar.
-Espere.- Disse.- Posso falar com você?
Droga, pensei. Sentei-me e comecei a girar e girar o canudo no copo vazio, num gesto monótono e cansativo, irritadíssima e intimidada.
-Aquele garoto, o Bryan, ele é seu namorado?
Arqueei as sobrancelhas, surpresa.
-Oi?- Perguntei, olhando para ele dessa vez.- Desde quando te devo satisfações?
O barman depositou sua bebida no balcão e se retirou.
-Isso quer dizer não.- Raciocinou.- E você, se não estou enganado, é do segundo ano? Hmm, e sempre se atrasa.
-Garoto, você...
-Eu tenho nome, sabia?- Ele ergueu uma sobrancelha, e eu entreabri a boca, perplexa com seu atrevimento.- Me chamo Miguel Lima, conhecido como Migg pelas garotas. Você é a mais linda até agora, portanto...
-Já chega!- Interrompi.- O que você quer comigo, Idiota?
Ele passou o dedo pela borda de seu copo e depois sorriu para mim. O sorriso travesso, sem dúvidas.
-O que posso querer?- Antes que eu pudesse retorquir, ele prosseguiu.- Ora, só quero saber um pouco de você, sua Anã.
-O quê?!- Gritei, num fio de voz.
-Eu estava te chamando assim, porque não sabia seu nome.- Explicou.- Então me dê a honra: qual é o seu nome?
-Giovanna.- Menti.- Giovanna Lopes.
-Luciana!- Liz veio correndo, gritando o meu verdadeiro nome, e busquei olhar para Miguel, que mantinha um olhar presunçoso e triunfante sobre mim. Liz se largou num dos banquinhos de bar e respirou, exausta.- Ai, Ave Maria, Lucy, te procurei por toda a festa.
-O que você quer?- Perguntei, seca, cruzando os braços sobre o peito.
-O que eu quero mesmo?- Murmurou, pensativa.- Ah, sim! Lembrei. A Alana está encrencada, é melhor você vir comigo.
E ela voltou a correr, parando no meio do caminho para tirar os sapatos e correr melhor. Miguel se levantou e ajeitou o terno.
-O que você vai fazer?- Indaguei, me levantando também.
-Vou ajudar a sua amiga, Luciana.- Disse.- Se ela é importante para você, sem dúvidas será para mim.
O observei, boquiaberta, passar direto por mim e rumar para onde Liz fora. Pisquei algumas vezes, e depois me convenci a seguí-lo.
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Apaixonada por um idiota
Sonstiges"Ele era tudo o que eu não suportava; tinha todos os defeitos do mundo. Então por que o amava tanto?" Luciana Mendes, uma adolescente problemática, achava que já tinha problemas demais em sua vida e que não precisava de mais um. Se apaixonar era tud...