~Vigésimo Primeiro~

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Johnny estava jogando sinuca.

Assim que pisei no porão muito bem iluminado, que mais parecia um cassino do que um porão, avistei Johnny de costas debruçado sobre uma mesa de sinuca. Seu cabelo era ruivo, estava cortado baixinho, todavia pelo que pude notar era enrolado. Ao contrário de Wesley e Miguel, Johnny não estava vestindo nada muito formal, apenas uma camisa vermelha de mangas e calças desbotadas, mas seus tênis pretos esverdeados não pareciam nem de longe baratos.

- Xeque Mate! - Disse ele, erguendo o taco em vitória.

- Isso deveria ser dito no xadrez. - Falei, anunciando minha presença.

Johnny se virou, com uma sobrancelha arqueada. Todo o seu rosto e ao longo de seus braços continham inúmeras sardas. Ele deveria ter a mesma altura que Miguel, senão mais alto, no entanto, era visivelmente mais magro. Tinha um nariz protuberante, olhos um tanto arredondados e pretos, e eu não podia discordar que ele possuía um charme especial.

Ao me avistar, Johnny rolou os olhos e me deu as costas novamente, me deixando boquiaberta.

- Deve ser a Luciana - Disse ele, seco. - Sou o Jonathan, não que precise saber.

Engoli em seco, entrelaçando minhas mãos à frente do corpo e tentando não me sentir estúpida parada no meio de um salão de jogos e sendo parcialmente ignorada pela única pessoa existente ali além de mim.

- Você é gostosa - Comentou ele, posicionando-se para mais uma jogada. - Posso entender porque Miguel quer você por perto. Ele sempre teve bom gosto para garotas, e sempre fica com as melhores. Miguel, Wesley, Rebecca... Todos tem uma sorte tremenda no amor. Já eu e minha irmãzinha Eloy, somos melhores no jogo!

Ele acertou uma bola, e ela ricocheteou em algumas outras, as quais marcaram mais alguns pontos para Johnny.

- Xeque Mate! - Sussurrou.

- Então a Eloisa é sua irmã? - Tentei uma nova abordagem, antes que eu ficasse tímida demais para conversar.

Johnny se afastou da mesa de sinuca, largando sobre ela o taco. Ele se virou para mim, escorou-se na mesa e cruzou os braços sobre o peito.

- Eloy é minha única irmã. - Ele disse. - Ela é dois anos mais nova. Essa casa aqui é nossa, herança de nosso pai. Chamamos Beck e Wes para morar aqui quando eles voltaram de Nova York, há uns três anos.

Assenti, sem saber mais o que dizer. Por que Johnny queria me ver, afinal? Para me explicar sobre sua família? Para ter platéia em seu jogo de sinuca? Para olhar minha cara de boba? Eu não sabia. Mas estava começando a sentir um impulso de fugir dali.

- Nossa família - Continuou ele, me avaliando com seus intimidadores olhos negros. - É dona de uma empresa multimilionária, que passa de geração em geração sucessivamente. Infelizmente, Eloy e eu não temos direito algum. Tendo ela dezesseis anos e eu dezoito, ainda não somos os mais velhos e os herdeiros. Wes tem quinze, também está longe de ter algum direito. Os mais velhos, então, são Beck e Miguel, ambos com dezenove anos, e Beck jamais vai querer administrar uma empresa.

Olhei-o desconfiada. Algo em meu interior estava me apontando que aquela conversa tomaria um rumo que eu não iria gostar. E isso estava causando uma sensação semelhante a de ser encurralada.

- O que quer dizer? - Perguntei, receando a resposta. - Por que está me contando isso?

- Por quê? - Ele riu. - Miguel é o herdeiro das ações da empresa. Talvez você tivesse pesquisado isso antes de se aproximar dele.

Senti como se o chão tivesse desaparecido. Meu coração errou uma batida, meus olhos inundaram.

- Você não sabe do que está falando! - Berrei. - Foi ele quem se aproximou de mim!

Johnny, tranquilamente, afastou-se da mesa de sinuca e veio caminhando em minha direção. Vê-lo se aproximar me fez querer desmontar.

Ao passar por mim, ele chegou a boca perto do meu ouvido; sua respiração quente em minha orelha me fazia estremecer.

- Se afaste do Miguel - Ele disse. - Todos sabemos o que você quer, e não vamos deixar por menos.

Mordi os lábios para me impedir de chorar, e Cruzei os braços. Meu mundo parecia ter caído em um abismo negro e infinito.

- Isso - Murmurei. - Isso... É uma ameaça?

Johnny se afastou, e sorriu. Seu sorriso desencadeava em mim uma ira insana. Ele esticou a mão e, com a ponta do dedo, secou uma lágrima que descera pela minha bochecha.

- Entenda como quiser - Disse, me olhando com uma falsa bondade. - Só peço que não chore. Isso pode borrar sua maquiagem. Não conte a ninguém, nem mesmo a Miguel, Beck, Wes... Nem à Eloy. Ou sofrerá as consequências.

Observei Johnny se afastar e subir as escadas. Quando me vi sozinha no porão, soltei um suspiro de alívio. Tudo o que eu queria era manter o controle sobre mim, evitar me desmanchar em lágrimas. Eu não queria subir agora. Na verdade, eu não queria subir nunca mais. Pensar em reencontrar aqueles esquisitos lá de cima me dava calafrios.

Respirei fundo uma, duas, três vezes, até que minha respiração tornou-se estável novamente. Eu tinha que parecer calma, abrir um sorriso e fingir que tudo estava bem, ou sabe-se lá o que Johnny faria comigo.

Ouvi um rangido, seguido da voz de Miguel me chamando.

- Anã! Tem alguns aperitivos aqui, você vem?

Forcei um sorriso.

- Eu estou retocando minha maquiagem - Respondi. - Eu já vou! Não coma tudo, hein, seu fominha!

Sua gargalhada foi a resposta. Bem, por ora minha atuação estava boa... E eu ia ter que usá-la durante algum tempo.

Apaixonada por um idiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora