Era hoje que Miguel viria me buscar para a festa em sua casa.
Desde que voltei da escola, esse foi meu único pensamento. Só a possibilidade de passar a noite ao lado de cinco Lima idiotas, já me apavorava. Eu sabia que eu não tinha nada de absolutamente especial, enquanto esses cinco... Todos eles... Eram perfeitos. Talentosos, objetivos, e, é claro, provavelmente todos lindos. Pelo o que eu vira de Eloisa e Miguel, só podia imaginar que os outros três eram tão charmosos quanto. Capitão de natação... Colunista... Princesa do Baile... Guitarrista... Capitão do time de basquete. Eu juro que nunca, nunquinha, vi uma família tão esquisita.
- A rainha do baile, hm? - Disse Hugo, quando comentei com ele. Ele estava sentado na mesa da cozinha, como se fosse a coisa mais natural do mundo, enquanto seu irmão lavava a louça e eu comia uma maçã sem doce. - Eu pegaria.
- Você não pega nem cachorro, Hugo - Riu Pedro, terminando de secar o último prato.
Hugo pareceu tomado pela fúria.
- Quem foi que pegou aquela japinha, outro dia, hein, hein? - Ele saltou da mesa, desafiando o irmão.
Pedro, inabalável, virou-se e recostou-se na pia, abrindo um sorrisinho sacana.
- Você - Disse. - Se passando por mim, já que eu tinha ficado com ela primeiro.
Abafei uma risadinha ao ver a cara de descrença de Hugo.
- Seu projetinho de E.T...
Eu adoraria ficar para ver como isso terminaria, mas, no instante seguinte, a campainha tocou e eu corri para atender. Ao encontrar Alana parada à soleira, com uma bolsa enorme pendurada no ombro e um sorriso tímido, outra vez me vi com receio do que aconteceria essa noite.
Jantar com cinco Lima. Jantar com cinco Lima. Isso não pode ser bom. Isso definitivamente não é bom.
Convidei Lana a entrar, entrelaçando meu braço no dela. Mesmo da sala, os gritos histéricos de Hugo podiam ser ouvidos altos e nítidos.
- E aquela ruiva? - Insistiu Hugo. - Eu quem peguei! Fui eu sozinho. Não você. Eu!
Alana me olhou com uma interrogação no olhar, e eu só pude dar de ombros.
Segui com Alana, subindo a escada para o meu quarto. Assim que chegamos, eu tranquei a porta e ela se sentou na cama, abrindo sua bolsa e tirando de lá o mais lindo vestido que eu já vira.
- Uou! - Exclamei, tomando em minhas mãos o vestido.
Era um longo vestido vermelho-escuro, decorado com várias pedrinhas brilhantes na área da cintura. Havia um corte, desde a barra até a coxa, com a intenção de deixar exposta a perna direita. O decote era ousado, no entanto, nada vulgar. Era tão lindo e elegante, que me fez duvidar se eu, a "Lucy Loka", a menina estranha, iria ficar bem nele.
- Liz mandou fazer pra você - Ela disse, deslizando a mão ao longo do vestido para tirar alguma amorrotado. - Está chegando o natal. O presente é antecipado.
Apanhei o vestido pelas alças e coloquei-o à frente do corpo, mirando-me no espelho. Definitivamente, todo o glamour desaparecia quando combinado com meu cabelo esfiapado e minha maquiagem borrada.
- A Liz é incrível - Eu disse. - Sério. Ela é totalmente incrível. Mas talvez eu não deva ir àquela festa com ele.
- O quê?! - Espantou-se Lana. - Todos os Lima são lindos e brilhantes como o universo. Se você aparecer lá de calça jeans...
Suspirei. Uma parte de mim achava que Alana estava certa; que eu devia aparecer lá toda glamourosa, no salto quinze e desfilando, estilo Angelina Jolie. Contudo... A parte mais racional do meu cérebro não queria que eu chamasse tanta atenção para o meu humilde "eu". Para ser franca, os Lima me assustavam tanto, que eu queria mesmo era ser completamente diferente deles.
- Eu não quero me parecer com eles - Falei. - Eu conheci Eloisa hoje. Ela me disse que "ser sempre a garota perfeita" acaba sendo cansativo, e isso me fez pensar que talvez nem eles mesmos queiram carregar esse título.
Voltei-me para Alana, e sorri. Seus olhos negros eram compreensivos, e seu sorriso era um dos meus favoritos. Me fazia lembrar minha mãe... Quando eu me machucava, ela me sorria do mesmo modo. Por mais que ela não dissesse nada, eu sempre podia sentir um "vai ficar tudo bem" pairando no ar.
- A questão não é "ser igual à eles" - Disse Lana. - A questão é: ser você mesma de um jeito especial. Vista o vestido, por favor. Liz vai ficar chateada se souber que não o usou na festa.
A Liz. Eu não podia decepcionar meus amigos nunca mais... Acabava sendo mais doloroso para mim que para eles.
No fim, eu estava usando o belo vestido que, honestamente e modéstia a parte, até que não ficou ruim. Alana passou delineador em minhas pálpebras e um pouco de sombra dourada para complementar. Passou um batom rosa em meus lábios e, para finalizar, máscara de cílios preta. Ela disse que eu não precisava de muita maquiagem, e que ela não queria esconder minhas poucas sardas sob um monte de pó.
Deixei que ela escovasse meus cabelos, como fazia minha mãe. Fechei os olhos e me imaginei de volta aos seis anos.
Minha mãe.
Minha mãe.
Que cruel.
Quando Alana terminou, eu estava quase chorando. Ela abriu a boca para me perguntar o que estava havendo, mas uma série de barulhos de buzina engoliu sua voz.
Eu estava pronta. Pronta para conhecer os perfeitamente esquisitos.
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Capítulo curto :(
Gomenasai (Desculpe) kkkk
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Apaixonada por um idiota
Altele"Ele era tudo o que eu não suportava; tinha todos os defeitos do mundo. Então por que o amava tanto?" Luciana Mendes, uma adolescente problemática, achava que já tinha problemas demais em sua vida e que não precisava de mais um. Se apaixonar era tud...