Na quinta-feira, dia do jogo, eu estava largada num banquinho da arquibancada, lendo um romance que pegara há uns dias na biblioteca para me destrair. A manhã estava fria, então eu me enfiara num dos casacos de meus primos e calçara luvas deles. A leve brisa congelava meu nariz e minhas orelhas, mas isso não importava.
Lá embaixo, na quadra, as líderes de torcida ensaiavam sua coreografia, enquanto uns jogadores treinavam uma última vez. Bryan estava alguns bancos abaixo de mim, debatendo palpites do jogo com uns três rapazes que eu não conhecia.
Antes que eu percebesse, dois jovens se largaram um a cada lado meu, e se esticaram para ver o que eu lia. Fechei o livro com força e ergui os olhos para Hugo e Pedro.
-O que fazem aqui?- Indaguei, alternando olhares entre os dois.
-Oi pra você também.- Sorriu um deles, que usava uma camisa roxa com o eblema da minha escola: uma coruja carregando uma rosa no bico. Olhei para suas sobrancelhas em busca da cicatriz e, quando a encontrei, constatei que se tratava de Hugo.
-Anda! O que vieram fazer aqui?!- Insisti, indignada.
-Ora, docinho.- Pedro falou. Estava vestido com a camisa vermelha da Scarlate School, que possuía o eblema de uma águia em pleno voo.- Queríamos ver o basquete. Que outra razão nos traria aqui? Para ver sua cara feia? Isso vemos todos os dias.
Eles se ajeitaram e fixaram os olhos nas líderes de torcida. Afundei no assento, pondo o livro de lado.
-Olá, Lu.- Ouvi, acima da minha cabeça. Ergui o olhar e encontrei Liz e Alana, que acenaram para mim. Ambas usavam casacos brancos abertos e a blusa com o símbolo da Blink High School.
Aos poucos, as arquibancadas foram se enchendo de pessoas eufóricas, de rosto pintado e cartazes fosforescentes. Todos estavam animados com o jogo do século, e muitos além dos meus primos haviam vinham de outras escolas. Esperei pacientemente, até o loucutor anunciar os jogadores da Scarlate School, vestidos todos de blusa vermelha. As líderes de torcida, com suas micro-saias e pompons balançantes, fizeram sua coreografia e depois se retiraram. Em seguida, entraram os jogadores de Blink High School, liderados pelo Idiota.
Miguel irradiava autoconfiança. Ele estudou as arquibancadas e se permitiu um sorriso ao ver o tanto de gente.
As líderes de torcida vieram para a coreografia, e a chefe delas era Janine. Elas dançaram, rebolaram, deram piruetas... E, assim que saíram do caminho, o jogo teve início.
Como eu não gostava de basquete, abri meu livro e recomecei a leitura. Hugo e Pedro não cansavam de berrar aos meus ouvidos, e assim seria mesmo muito difícil me concentrar. A gritaria ao meu redor, os assobios, foram ficando cada vez mais altos e estridentes. Espiei por cima do livro e vi Miguel correndo para cá e para lá, com a posse da bola, que quicava incasavelmente. Ele pingava suor, estava sério e focado. Sacudi a cabeça e voltei ao meu livro.
No fim do jogo, nossa escola havia vencido por um ponto e estavam todos muito felizes. Eu achava aquilo uma tremenda estupidez, então desci da arquibancada e tomei meu rumo para o ponto de ônibus, pois estava faminta e não tinha um tostão furado.
-Hey, Lu!- Alana me alcançou, ofegante, com Liz em seus calcanhares.- Não acha que foi um jogo e tanto?
-Ah, é.- Revirei os olhos.- Pode crer.
-Onde está o Bryan e as Figurinhas Repetidas?- Perguntou Liz, olhando em volta.
-Hugo e Pedro sairam para beber.- Lembrei.- Bryan está comemorando com os jogadores.
-Idiotas, né?- Riu Alana.
-É.- Falei, meio dispersa.- Idiotas.
Nesse momento avistei Miguel vindo em minha direção. Ele havia tomado um banho e trocado suas roupas suadas por outras secas, mas idênticas. Exibia um lindo sorriso.
-Ah, não...- Sussurrei.
Mas ele não virou, não parou e nem voltou como eu esperava. Na realidade, ele chegou até nós e beijou as nossas mãos, galanteador. Quando seus lábios tocaram a minha, senti um leve formigamento na área em que ele beijara. Ele ergueu o olhar para mim e, ainda segurando minha mão, falou:
-Posso conversar com você?
Meu coração errou uma batida. As meninas, entendendo a deixa, voltaram para as arquibancadas e nos deixaram a sós.
-Bem- Começou ele.- É impressionante que tenhamos ganhado da escola mais premiada da região.
-Você foi bom- E, percebendo o que dissera, emendei.- Capitão. Você foi um bom capitão.
Ele riu e baixou o olhar, brincando com meus dedos.
-É. Acho que fui.- Disse.- Mas você não acha isso incrível? Eu pensei que merecia uma comemoração.
-Comemoração?- Ecoei, hesitante.- Tipo o quê?
-Sei lá.- Deu de ombros.- Tem um parque de diversões por aqui. Seria... Divertido. E nada mais justo do que levar a garota que me fez vencer.
Com meu coração a mil, tentei formular uma resposta decente, mas só o que consegui dizer foi:
-O quê?
-Quando eu estava naquela quadra, pensei que ficaria orgulhosa se eu vencesse o jogo. Talvez gostasse mais de mim depois da vitória, não sei... Eu queria te conquistar. Bem, pensando em você eu arrebentei geral o povo da Scarlate!- Ele se empolgou e me olhou nos olhos. Eles brilhavam de entusiasmo, ele parecia mesmo feliz.- Te pego às sete, esteja pronta. Vou perguntar a Bryan seu endereço e passo lá.
-Mas...- Recuei, pasma.- Eu não disse que iria!
Ele cobriu a distância que nos separava e envolveu minha cintura com as mãos. Seu rosto chegou muito perto do meu, porém ele desviou o caminho para meus lábios e chegou a boca bem perto do meu ouvido.
-Você- Sussurrou. Seu hálito quente me causou um certo calafrio.- Não tem escolha, mocinha.
O empurrei e ele riu e piscou para mim antes de correr de volta para a quadra de basquete. Fiquei fitando o nada por um momento considerável, até me dar conta de que deveria ir embora.
No caminho para o ponto de ônibus, apaguei-o da minha mente e me convenci de que não iria de forma alguma a esse encontro.
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Apaixonada por um idiota
Random"Ele era tudo o que eu não suportava; tinha todos os defeitos do mundo. Então por que o amava tanto?" Luciana Mendes, uma adolescente problemática, achava que já tinha problemas demais em sua vida e que não precisava de mais um. Se apaixonar era tud...