3. Conchinha

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 - Não acredito que topei isso tão fácil. – reclamei, sem acreditar em meus próprios atos. – Tinha que ter feito você me implorar de joelhos.

 - Tinha mesmo, porque foi muito mais fácil do que eu pensava. – Simone provocou.

 O que eu poderia fazer, se toda vez que eu olhava para aquela mulher, mesmo depois de todos aqueles anos, sentia vontade de agarrar em seu pescoço e beijá-la loucamente? Aceitei a proposta no calor do momento, colocando a emoção acima da razão e sendo "obrigada" a fazer o que jurei a mim mesma que não faria.

 - Você pode me dizer quais são os planos? – perguntei, olhando para seu rosto.

 - Então, resumindo: você sabe que o fascista ganhou as últimas eleições...

 - Claro, foi por minha culpa. – a cortei.

 - Não! Foi uma vitória injusta, escorada em fake news. Enfim, os últimos anos foram horríveis e por ser oposição desse desgoverno, ganhei muito apoio nas ruas e alguns seguidores nas redes sociais. Precisamos começar a pré-campanha da pré-campanha, se é que me entende.

 - Uhum. E você quer minha ajuda para tentar vencê-lo, certo? – Simone assentiu. – Que pergunta idiota a minha, hum? - debochei de mim mesma. - E, sendo sincera, você acha que consegue, Tebet?

 - Antes eu achava que não, agora com você, tenho certeza que sim. – soltou uma leve risada. – E você, acha que tenho chances?

 - Olha, queria dizer que sim, mas não posso te dar esperanças antes de estudar e ler tudo o que foi feito e tudo o que vem pela frente.

Um silêncio ensurdecedor tomou conta do carro alugado por Tebet, onde passaríamos 19 horas para chegarmos em Miami.

- Então você se sente culpada pelo Haddad ter perdido as eleições? – Simone me perguntou, tirando os olhos da estrada e olhando diretamente no fundo dos meus olhos.

- Tenho certeza que foi por isso, Simone. Estávamos ganhando e depois que aquele nojento vazou minhas fotos, virou uma polêmica gigante e começamos a despencar nas últimas pesquisas, resultando na derrota. – sorri sem graça. – Acontece.

- A culpa não foi sua, So. Saiba disso.

Eu amava quando Simone me chamava de "So". Me remetia a nossa juventude, onde pegávamos os vinhos de seu pai escondidas, íamos para a sacada de seu quarto e passávamos horas observando as estrelas e criando teorias bizarras.

- Você lembra quando pegamos um vinho argentino de seu pai e ficamos tão bêbadas que não conseguíamos levantar do chão? – perguntei, tirando uma gargalhada de Simone.

- Lembro sim. – respondeu em meio a risadas.

- Você começou a chorar com medo de eu morrer, Simone. – soltei uma risada alta.

- E você disse que me amava pela primeira vez. – me olhou fixamente, cortando total o clima.

Fiquei sem reação. A resposta para a tal frase ficara agarrada em minha garganta. Nada conseguia sair de minha boca.

Eu também lembrava desse detalhe, pois foi um momento importante para mim. Sempre tive dificuldade de dizer certas coisas e um "eu te amo" com certeza era uma delas.

Apesar de crescermos juntas, eu e Simone nunca nos consideramos irmãs ou coisa do tipo. Um amor muito genuíno dominava nossa relação, com o tempo e os hormônios da adolescência, esse amor intensificou-se.

Nós nunca escondemos uma da outra nosso sentimento, sempre foi bem explícito, mas apenas para nós duas. Nosso medo era nossos pais descobrirem e nos afastarem, o que aconteceu anos depois.

Jogada de Mestre - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora