III

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Denji segurava o braço de Aika esperando uma resposta, ela não sabia o que fazer, mas decidiu aceitar. Agora vinha a questão, sobre o que conversar? Bom, já que Denji havia falado sobre seu passado, ela poderia falar um pouco também.

- Posso falar sobre mim, se quiser. - Propôs, sentando-se ao lado dele.

- Claro, eu adoraria saber mais sobre você. - O simples olhar de Aika já era o suficiente para deixá-lo corado.

Antes que a garota pudesse pensar em por onde começar, a porta foi aberta bruscamente. Revelando uma infernal com o gato num braço e umas sacolas no outro.

- Cheguei! - Power falou em alto e bom som.

- Fala baixo, o Hayakawa tá dormindo. - Denji alertou. - E porquê chegou tão tarde, ein?

- Isso não é da sua conta. - Foi em direção a cozinha, deixando as sacolas por lá. - E essa menina aí? Finalmente desencalhou? - O loiro corou com a pergunta dela.

- Não tá me reconhecendo, nos falamos outro dia. - Aika respondeu por ele. Power parou para observá-la e logo a reconheceu em suas memórias.

- Ah, a irmã do Hayakawa! Você vai morar com a gente?! - Correu até Aika, animada.

- Sim.

- Finalmente outra garota nessa casa! Tô cansada do emo e desse virjão. - Olhou para Denji com desprezo.

- Fala baixo, garganta de microfone! - Denji ficou irritado.

- Olha, eu não tô nem aí se o Hayakawa acordar! Quem ele pensa que é pra brigar comigo! Quebro ele na porrada! - Ela saiu de sua pose convencida assim que ouviu a porta do quarto de Aki abrir, vagarosamente.

- Foi mal, Hayakawa... - Denji desculpou-se imediatamente.

- Acho que falei um pouco alto, foi mal. - Power também parecia apreensiva.

Não houve resposta do moreno, que caminhou, sonâmbulo, até o banheiro. Aika riu da situação, mas Power logo voltou para a sua pose convencida e Denji respirou fundo ao ver que não estava em apuros.

- O Aki é algum tipo de monstro ou algo assim, pra que ter tanto medo?

- Quem disse que eu tô com medo?! - Denji virou o rosto.

- É, a gente não tem medo daquele pulmão preto!

- Pulmão preto, essa foi boa! - O garoto começou a gargalhar junto com Power.

Aika ficou observando Aki vir em direção a sala, furioso. Parou atrás do loiro e da garota que ainda não haviam percebido sua presença e falou firme:

- Calem a boca, eu tô tentando dormir. - Os dois imediatamente pararam de rir e ficaram em choque.

- Tá... - Power falou, apreensiva. O loiro olhou para Aika em busca de ajuda, mas ela olhou para o lado como se dissesse "Se vira".

- Aika, você devia ir dormir, já está tarde. - Hayakawa mudou, ficando altamente prestativo com a irmã.

- Tá, eu vou daqui a pouco.

- Se me chamarem de pulmão preto de novo, deixo vocês passando fome a semana inteira. - Falou olhando diretamente para os culpados que concordaram com a cabeça. E voltou para o seu quarto.

- Que chato, a gente não pode nem rir um pouquinho. - Power cruzou os braços, reclamando, quando certificou-se de que Hayakawa já estava em seu quarto.

- Né? Que cara chato. - Denji revirou os olhos.

- Vou contar tudo pra ele amanhã. - Brincou.

- Não, Aika, por favor! - O loiro ajoelhou-se. - Eu faço qualquer coisa, mas não faz ele ficar com raiva de mim.

- Qualquer coisa mesmo? - Tanto Aika quanto Power olhavam com zombaria para o garoto.

- Sim! - Assentiu com a cabeça.

- Então, vira meu cachorro, faz o que eu pedir, sei lá. - Estava sem criatividade.

- Aí não dá, sou cachorro da Makima. Ela me salvou e... - Foi interrompido.

- Ah, tá, tá, já sei! Makima pra lá, Makima pra cá, não sei o que você e o Aki viram nela. - Aika ficou irritada, sentiu uma pontada de ciúmes. Ela odiava como o seu irmão era apaixonado por Makima, e ver Denji na mesma situação deixou-a irritada.

- Peça o que quiser, menos isso.

- Quer saber? Essa é a minha condição, se não vai aceitar, não me importo. O problema é seu.

- Tá... - Falou baixinho.

- O que disse?

- Au au! - A garota ficou surpresa, mas decidiu "entrar no personagem".

- Já que é assim, - Segurou o queixo de Denji, levantando-o levemente e aproximou-se dele. - você vai me obedecer, não é?

- Com certeza. - Ele estava extasiado com aquela proximidade, queria ficar mais próximo, muito mais próximo.

- Então tá. Eu vou dormir, vê se não faz barulho, eu não vou pegar leve que nem o meu irmão. - Levantou-se cautelosamente, evitando o garoto ajoelhado na sua frente, e foi para o quarto.

Power soltou uma risada que estava prendendo desde que aquela cena começou, rindo baixo, tentando não fazer barulho.

- Muito boa, cachorrinho. - Riu, enquanto zombava de Denji que continuava ajoelhado, pensando no toque de Aika.

- Tanto faz, vou dormir. - Levantou-se, fingindo indiferença.

- Ótimo, assim ficamos eu e o meu Miauzin. - Pegou o felino e começou a enchê-lo de beijos.

*

Durante a madrugada, Aika acordou com alguém chamando-a. A princípio, achou que já havia amanhecido, mas notou que ainda estava escuro demais para isso. Esfregou os olhos e olhou para a pessoa na sua frente.

- Tive um pesadelo. - Denji coçou a nuca.

- Eu não tenho pacto com demônio de sonhos bons...

- E esse demônio existe?

- Sei lá.

- Eu sonhei que morria, junto com o Pochita, numa batalha. Morrer é bem mais escroto do que eu imaginava...

- Quer o quê? Um beijinho de boa noite, para dormir bem? - Denji acabou levando a sério e olhou-a com expectativa. Sob a luz da lua, ele até parecia mais atraente para Aika, mas ela dispersou esses pensamentos, acabou de conhecê-lo.

- O beijinho não vai rolar, né? - Percebeu, ao notar o silêncio constrangedor entre eles.

- Era brincadeira.

- Entendi, então, já vou indo. - Caminhou até a porta. 

- Ei! - O loiro olhou para ela, com expectativa, novamente. - Vê se não sai entrando no quarto de alguém do nada, pode ser embaraçoso.

- A porta tava destrancada.

- Estar destrancada não significa "Entre, por favor". - Cruzou os braços e foi até ele.

Denji estremeceu ao sentir os braços de Aika ao redor de si. De alguma forma, ela sentia uma certa empatia por ele, não sabia se era o sono ou a história triste dele que a deixou assim, mas sentiu que era uma das únicas pessoas com quem ele poderia contar, se não fosse a única.

Ela abraçou-o por mais um tempo e falou:

- Vê se para de pensar na morte, você não teria pesadelos se não se preocupasse demais. - Ela era horrível com conselhos.

- Pode deixar. - O loiro saiu, fechando a porta atrás de si.

Colocou as mãos no rosto e fechou os olhos, tentando assimilar o que havia acontecido. A sensação de ser abraçado ainda percorria seus pensamentos, até que ele lembrou do abraço de Makima e voltou para o seu quarto, iludido.

𝐴𝑀𝐼𝑍𝐴𝐷𝐸 𝐶𝑂𝐿𝑂𝑅𝐼𝐷𝐴 - Denji ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora