O despertador toca às 6 horas. Era mais uma manhã de segunda.
Droga, é hora de ir para o colégio.
Infelizmente o ano letivo começara novamente. Digo infelizmente porque minha vida escolar nunca foi boa, não por eu ser um péssimo aluno, mas por sempre ter alguém para me lembrar de que sou gay (sim, sou assumido desde meus 13 anos então essa história não será sobre descobertas), de que sou errado, de que não tenho futuro, de que sou pecador, de que ... Bom, vamos parar por aqui antes que eu me suicide antes mesmo da história começar.
Terceiro ano aí vou eu.
Passei o colegial inteiro sendo vítima de bullying na rua e sofrendo agressão verbal dentro de casa. Sempre fui oprimido pelos outros e nunca tive forças para lutar contra. Até Agora.
Me levanto com o mesmo desânimo de sempre. (acho muito inútil levar uma vida normal) Não é intencional, eu só não vi , ainda, razões para ter um bom humor nesse mundo.
Vou ao banheiro para tomar um banho frio e escovar os dentes. Após terminar, paro enfrente ao espelho e ao ver minha imagem refletida fecho meus olhos por uns instantes respirando fundo e penso sobre o sentido de tudo que faço na vida, simplesmente porque o senso comum diz que tem que ser feito ..." Por que precisamos seguir padrões?... Por que não podemos ser felizes com nossos próprios gostos sem ter que dar explicações de nada a ninguém?" ... até minha mãe gentilmente gritar que irei me atrasar.
Me desligo dos pensamentos e vou para o meu quarto, me enxugando e caindo na cama novamente... mas ainda preciso escolher a roupa. Tenho um estilo dark (na verdade eu decidi que teria esse estilo hoje) peguei então uma calça rasgada em toda a perna e uma camiseta preta que tinha a estampa de uma caveira e vesti. O tradicional all-star preto não podia faltar já que nunca usei outro. Fui até o quarto da minha mãe e peguei o lápis de olho preto dela (sem que ela soubesse é claro) e passei ao redor do olho e nas pálpebras de forma que meu olho ficasse todo preto quando fechado, peguei a chapinha e fiz um cabelo bem da hora com uma franja que cobria meu olho direito o que dava destaque ao meu piercing no nariz, uma argola preta que combinava com a cor das minhas unhas. Fiquei realmente bem chamativo, afinal ser normal sempre me irritou.
Ao terminar tudo, junto meus materiais, apago a luz e saio do meu quarto na intenção de não ser visto pela minha mãe para evitar o sermão do dia (afinal tudo é motivo para que ela brigue comigo, assim como meu pai. Uma tal de Bíblia diz coisas pra ela implicar comigo). Mas infelizmente ao fechar a porta dou de cara com ela que ao me ver logo grita:
- Eu não acredito nisso que estou vendo. Toma moral de homem e vai se vestir como gente normal garoto, Deus não gosta que os filhos passem vergonha nos seus pais não, e muito menos aceita esse tipo de atitude com essas roupas demoníacas. (Ótimo, será que ela já tomou chazinho com deus enquanto ele contava de suas preferências?)
Eu, para evitar discussões maiores coloco meus fones de ouvido e escuto Tokio Hotel ft. Kerli 'Strange' (quando escutar, vai saber exatamente quem eu sou por dentro) e saio porta afora deixando minha mãe falando sozinha o que a deixa com mais raiva ainda (não gostava de fazer isso, mas com a família que tenho é a melhor solução). Acho que agora vocês podem ter uma ideia do que passo dentro de casa.
(Ufa, sair de casa é uma das etapas a serem vencidas. Que venha a próxima.)
No caminho para o colégio, percebo pessoas que passam por mim e zombam, fazem piadas e até têm a audácia de rir de mim, talvez pela forma que me vesti, mas como sempre fiz em toda minha vida eu finjo que aquilo não me atinge e continuo minha caminhada solitária pelo meu mundo imaginário ao som da banda que canta minha vida (mas por dentro a minha vontade era de dizimar cada um que me humilhava porque aquilo era doloroso).
Vinte minutos depois chego ao colégio. Respiro profundamente e mentalizo que é meu último ano ali, logo estarei livre. A caminhada parecia ficar mais árdua a cada passo que eu dava em direção aquele prédio. Minha intenção era ser invisível mas como sempre, ao entrar portão adentro dou de cara com as pessoas mais estúpidas que existem, os estudantes "normais". Os ditos "populares" do colégio que se acham no direito de zoarem comigo na frente de todos me chamando de viadinho, bixinha, sem eu nem ter olhado na cara de ninguém. As risadas foram imediatas, afinal se você não quer ser zoado junte-se a quem tira sarro dos outros (é quase uma questão de sobrevivência. Ou falta de conhecimento).
Dei uma olhada rápida para trás conseguindo encarar apenas uma pessoa na intenção de rebater, mas resolvi deixar de lado, conflitos logo no primeiro dia de aula era muito drama para a minha pessoa. Acho que o fato de eu estar ali da forma como eu me sentia bem os incomodavam já que, pela popularidade, eles não podiam ser "eles" de verdade, e como eu sei ficar por cima de qualquer situação desse tipo (séculos de experiência e tortura rsrs e há quem diga que tudo isso é escolhas que fazemos. Patético), simplesmente ignorei e fui direto procurar a sala onde eu ficaria "preso" pelo resto do ano.
Eu até gosto de estudar, mas o bullying constante me desanimava. Acho que isso ocorre comigo e mais milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas parece que nunca nos encontramos pois sempre nos sentimos sozinhos. Aquela altura eu não tinha nenhum melhor amigo naquele lugar. Apenas colegas para fazer trabalhos e nada mais. Nunca nem olhei para outra pessoa ali com interesse e creio que também nunca fui olhado dessa forma.
A única coisa que rondava minha mente era saber o por que será que as pessoas não podiam simplesmente seguir com suas vidas sem se importar com a forma que o outro está vivendo? Trocar essa raiva que elas têm por espalhar amor, ou ajudar o próximo, seria tão edificante.
Andei quase o corredor inteiro e, ao encontrar a minha sala entrei e, logo em seguida, uma boa parte dos "populares" também entraram, e ao me ver na mesma sala percebi que a graça deles havia passado. Tentei sentar no fundo, isolado de todos, mas por eu ter tido a "sorte" de os otários que me zoaram ficarem na mesma sala que eu, me levantei e sentei na primeira carteira que ficava na parede, pensado:
.... esses idiotas agora vão ter que me aturar todos os dias. 66'
O massacre enfim começou.
As três aulas que se seguiram foram Química, Física e Matemática com aquele blah blah blah de sempre de que deveríamos crescer e correr atrás dos sonhos, como se resolvesse alguma coisa dizer isso para aquele bando de loosers. Já começo o ano bem. Não consegui me concentrar em nenhuma das aulas, primeiro porque detesto exatas e depois porque minha cabeça estava em outra dimensão.
Uma forma que encontrei de fugir desse mundo foi criar um mundo paralelo e eu sempre ia pra lá quando tentavam quebrar meu espírito.
Ultimamente eu andava um pouco aéreo por conta de tanta coisa absurda que eu escutava das pessoas. Elas pensam que não provocam nenhum mal, mas psicologicamente eu estava devastado já. A gente pensa que é forte o suficiente até a mente começar a fraquejar. E olhar ao redor e perceber que não há ninguém pra te apoiar fica mais desanimador ainda.
Fiquei, então, apenas observando as atitudes e conversas idiotas da classe. Assuntos tão sem sentido. Tipo, por que alguém falaria da bunda de uma garota ao invés de falar sobre como ele poderia conquistar o amor dela? Ou por que alguém falaria do tamanho masculino ao invés de saber o tamanho do caráter dele? É tudo tão superficial.
Nunca fiquei muito tempo pensando em relacionamento e amor e essas coisas, mas eu me considerava uma pessoa prudente suficiente para querer um amor de verdade.
Eu gostaria muito de conhecer alguém que compartilhasse do mesmo pensamento que eu, que fosse fora do padrão, anormal, ou pelo menos que achasse fascinate alguém que não fosse normal, mas ali parecia impossível de isso acontecer, ainda mais sendo o último ano. Talvez na faculdade... e isto me fez questionar: O que eu realmente fazia ali naquele lugar?
E infelizmente eu teria o ano todo para descobrir essa resposta. Digo infelizmente porque eu estava praticamente sozinho ali. Não seria fácil. Fiquei tão perdido em meio a esses devaneios que não vi o tempo passar. De repente o sino do intervalo tocou. O melhor acontecimento daquela manhã. Os brutamontes e as piriguetes saem da sala, parecendo que estavam saindo de um estábulo. Finalmente consigo a paz que eu tanto queria, pelo menos por alguns minutos.
Abaixei minha cabeça na carteira e fechei os olhos na intenção de relaxar um pouco. Transportei minha mente para meu universo paralelo na intenção de poder respirar livremente. Mas como tudo que é bom dura pouco, logo chegou alguém que me cutucou bem de leve no pescoço.
Quando eu ergui minha cabeça pronto para expressar minha raiva tudo mudou....
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AmOr NãO CoNvEnCiOnAl (Romance Gay)
Romance"Olhos castanhos que por uns instantes me hipnotizaram. Gelei de cima em baixo e o coração acelerou. - Olá, sou o Rafael, estudo na sala ao lado." Esta obra se trata de um rascunho que estou fazendo de acordo com as ideias que vão vindo em minha me...