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6 meses atrás

[...]

Queria eu nem ter aparecido no colégio nesse dia.
Assim que chegamos no colégio, Giovana já estava no portão. A quantidade de alunos era até significativa para um último dia de aula. Mas provavelmente só apareceram para fazer uma última bagunça.
Rafa segurou minha mão, e conseguiu, como sempre, atrair olhares de reprovação em nossa direção. Acho que as pessoas ali nunca iriam aceitar o fato de estarmos juntos. Deixei isso de lado, quando notei que Giovana estava um pouco diferente, parecia ansiosa, nervosa. Chegamos até ela, e seu olhar foi direto para Rafa, um olhar apreensivo e cauteloso.
-Bom dia Gi! Disse me dirigindo a ela, que desviou seu olhar rapidamente para o lado e retornou pra mim um pouco assustada.
- Ah, bom, bom dia Edu, tudo bem?
Ela respondeu com a voz um pouco falha.
-Estou bem, eu acho... Respondi sentindo um clima estranho entre Giovana e Rafa, que também percebeu Giovana agir estranha.
- Está tudo bem com você Gi? Rafa perguntou a ela fazendo-a o notar ali finalmente. Você parece ansiosa...
- E, eu ansiosa? Que isso rsrs. Coisa de sua cabeça. O que acha de entrarmos?
- Me parece uma boa ideia, respondi, já agoniado com o clima daquela conversa.
Subimos calados para a sala. Quando estávamos chegando, passei pelo bebedouro para tomar um pouco de água, Rafa e Gi ficaram um pouco afastados, e pude perceber que ela falou algo perto do ouvido dele, e a expressão de Rafa ficou séria, como se estivesse impressionado com algo. Aquilo me incomodou, então tratei de voltar até eles.
Quando cheguei, os dois estavam com uma expressão indiferente.
- Tudo bem com vocês dois? Perguntei desconfiado.
- Sim, tudo. Foi até engraçado a forma que responderam, ao mesmo tempo e meio sem graça.
Fiquei encarando os dois por um tempo, até que a coordenadora saiu pelo corredor gritando com todo mundo para que fossem para suas salas. Virou uma confusão até que todo mundo estivesse em seus devidos lugares.
Fomos para nossa sala, e a professora de inglês já havia começado a aula. Ficamos parados na porta sem saber o que fazer pois a professora era brava, ainda mais quando aluno chegava atrasado.
- Are you going to stand there all day? Come on in, now, the three of you!
Ficamos um olhando para o outro, até eu entender que era para a gente entrar. Fomos calados para nossos lugares enquanto o olhar da professora nos acompanhava severamente, bem como o dos alunos curiosos, mas nenhum teve a coragem de fazer alguma graça.
A professora então pegou um bloco que folhas
- Eduardo, entregue uma para cada aluno, agora.
Calado, me levantei, fui até a mesa dela, peguei as folhas e comecei a distribuí-las para os alunos presentes.
- Rafael e Giovana, continuou a voz autoritária da professora, vão os dois buscar os dicionários de inglês na biblioteca, e sejam rápidos.
Olhei imediatamente para os dois, que se entreolharam e rapidemente deixaram a sala...

Na Biblioteca. [Rafael]

Enquanto caminhava com Giovana até a biblioteca, não pude deixar de pensar um segundo sequer no que ela me disse no corredor minutos atrás. Como ela sabia da existência dele? Iria aproveitar aquele momento para tirar a história a limpo, e ela deveria saber que eu faria isso. Ao entrarmos na biblioteca, ela seguiu para o fundo. Eu sabia que não era lá que os dicionários ficavam, então logo percebi que ela também queria conversar. A bibliotecária estava em uma das prateleiras organizando alguns livros. Passamos por ela tentando não ser notados, mas foi em vão.
- O que procuram queridos?
Olhei pra Gi e ela para mim, e uma mentira veio rápida em minha mente
- Fomos mandados para cá de castigo, para fazer um resumo de um livro dona Estela.
- Ora, pois muito bem, falou ela pegando dois livros aleatórios e nos entregando. E passem a ser melhores alunos, para não precisarem passar por isso novamente, falou ela num tom firme e conselheiro.
- Concerteza dona Estela, falou Gi com um sorriso disfarçado.
Procuramos a última mesa da biblioteca e nos sentamos.
- Muito bem senhorita Giovana, falei indo direto ao ponto, pode me esclarecer toda essa história, como conhece o Miguel?
Ela deu um suspiro, e começou a falar
- Eu havia acabado de nascer, quando meu pai se separou de minha mãe e foi morar em Portugal. Minha mãe sempre dizia que não foi por minha causa, mas a medida que eu crescia, eu ia percebendo que foi sim por causa de mim. Um tempo depois ele conheceu uma mulher com quem se casou, e teve outro filho, meu meio irmão, Miguel.
- Não acredito que ele é seu irmão, falei ainda em choque com a notícia. Ele nunca me falou que tinha uma irmã, quer dizer, ele mencionou uma vez mas nunca passou disso, e eu também nunca procurei saber. E ela continuou
- Sim ele é. Quando ele nasceu, meu pai voltou ao Brasil. A mãe dele começou a se envolver com coisas erradas, e meu pai conseguiu a guarda total dele, o trazendo de volta.
Ninguém soube que ele havia voltado durante anos, até que a dois anos atrás, eu estava com minha mãe em um shopping e ela avistou um homem saindo com dois garotos do lado, em uma agência de viagens. O homem já aparentava ser mais velho, e quando o segui, descobri que se tratava de meu pai, e meu irmão que estava com seu namorado. Falando isso, percebi que ela ficou sem graça, e minha garganta ficou seca quando lembrei do ocorrido.
Mas ainda assim ela continuou
- Nos sentamos em uma mesa da praça de alimentação, e enquanto meus meus pais conversavam, pude falar com meu irmão um pouco. Ele me disse que estava indo para Portugal ver a mãe dele, contou que tinha terminado um relacionamento com um garoto chamado Rafael e estava indo com o Pedro, para se conhecerem melhor...
Não pude evitar a raiva dentro de mim, quando ela falou esse nome, dei um soco forte na mesa que ela se assustou
- Tudo bem aí? Veio dona Estela em nossa direção, querendo saber o movito do barulho
- Sim dona Estela, tudo, só bati a perna na mesa, desculpa, falei tentando ser convincente, e ela se retirou.
- Olhei para Gi que também estava assustada
- Me desculpa, é que esse nome me trás péssimas recordações, falei ainda com raiva por lembrar de tudo novamente. Continue...
- Bem, continuou ela, depois disso ele viajou, e não tivemos muito contato. Meu pai continuou indiferente comigo, mas nem tentei ir atrás dele. Até que semana passada, ele apareceu de surpresa na minha casa. Acho que ele está tentando voltar com minha mãe, não sei, mas brevemente ele me disse que Miguel estará voltando no fim do ano para ficar aqui definitivamente. Então ele me passou o contato do Miguel. Fomos conversando, até que o assunto do ex namorado Rafael veio novamente, só que dessa vez ele me mandou um arquivo de foto, quando abri, vi que era você.
Isso me preocupou bastante, sabendo que você está junto com o Eduardo.
- Ele te contou o que aconteceu antes de ele namorar o Pedro?
Perguntei com um tom de nojo em minha voz.
- Não, acho que não tivemos intimidade para isso, ela falou estranhando um pouco minha pergunta.
-Não confie nele. Falei de forma seca.
- Porque você diz isso? Ela perguntou confusa.
- Ele me traiu, da pior forma possível.
Ela continuou me olhando, curiosa, mas não disse nada, então continuei...
- Conheci Miguel em uma balada. Sempre fui atraído por garotos com beleza exuberante, e ele era um desses. Eu também não ficava para trás, então sempre que eu queria alguém acabava dando certo.
Eu era um garoto bastante superficial, buscava apenas beleza, e nele encontrei. Cheguei nele, conversarmos um tempo e logo fomos para as finais. Depois disso começamos a nos ver com um pouco mais de frequência e acabou se tornando algo mais que uma simples ficada. Fomos nos envolvendo até que o pedi em namoro. Ele relutou um pouco, pois dizia querer um relacionamento aberto, mas acabou aceitando meu pedido, então começamos a namorar.
Pedro, era meu amigo, bem antes de conhecer Miguel. Ele sempre estava comigo, e eu sempre falava de Miguel a ele, e das minhas intenções, até porque eu estava mais envolvido nessa relação do que devia.
Depois de uns dez meses de namoro, eu resolvi noivar com Miguel, e preparei uma surpresa.

Gi percebeu que eu comecei a chorar, então ela segurou firme minha mão, me dando forças para continuar...

Então, eu fui até a casa dele, com o anel de noivado em mãos, e quando cheguei havia algumas malas na sala de estar e me deparei com a cena de Miguel e Pedro se beijando.

Parei um momento para respirar, pois as lágrimas já não se continham, e me lembrei de Edu, não era justo com ele eu estar relembrando tudo isso e ainda chorando. Pensar nele me acalmou mais, e Gi continuou com sua mão na minha, apenas me escutando...

- Bom, acho que nem é preciso dizer o que aconteceu depois disso né, disse entre lágrimas e Giovana balançou a cabeça negativamente, concordando comigo. Eu, sem dizer uma palavra, apenas deixei o anel em cima da mesa e desejei boa viajem, virando as costas sem nenhuma chance de arrependimento. Desde então não tive mais contato com ele. Minha decepção foi profunda por um bom tempo, demorei a me recuperar, e a me relacionar com alguém. Desde então, prometi a mim mesmo que jamais iria procurar alguém pela beleza. Depois de mais um tempo com essa convicção na mente foi que vi Edu entrar na escola no começo desse ano, e ao olhar nos olhos deles, percebi a inocência que eu precisava do meu lado. Foi aí que tudo começou. Terminei, dando um respiro de alívio ao relembrar toda a história vivida com Edu até ali.
-Uau, Gi respondeu incrédula, jamais imaginaria toda essa situação. Apertando minha mão ela continuou
-Estou do seu lado Rafa, vou te ajudar com toda essa história, não se preocupe, se ele voltar, o que eu acho bem improvável, veremos o que fazer.
Sorri sem graça para ela
-Tudo bem se guardarmos essa história do Edu por enquanto? Não quero colocar em risco nossa relação por causa de um passado.
- Claro, respondeu ela, é seu passado e só você tem direito sobre ele.
Falando isso ela se levantou, e eu também. Demos um abraço, até percebermos que já tinha mais de 15 minutos que estávamos ali. Quando enfim resolvemos sair, demos de cara com Edu
- O que ainda estão fazendo aqui? Perguntou ele confuso. A professora está na sala esperando os dicionários, e não está nada feliz com esse atraso.
Eu e Gi nos entre olhamos e ela entendeu
- Desculpa Edu, ela falou tentando disfarçar, é que acabei tendo que contar uma situação para Rafa de um relacionamento meu.
- É, respondi coçando a cabeça, tentando parecer convincente.
- Vocês dois hoje estão tão estranhos, de conversinhas para todos os lados, falou Edu com ar suspeito.
Tentei disfarçar então o abracei forte por trás
- Claro que não bebê, falei dando um beijo em seu rosto, estamos todos bem. E vi ele sorrindo com aquilo. Me senti péssimo em esconder isso dele, mas por enquanto era a melhor opção.
Assim voltamos para a sala.

De Volta à Sala [Eduardo]

Eu percebi que tinha alguma coisa de errado com aqueles dois, mas preferi não insistir no assunto. Quando a professora brigou com os dois achei o máximo e comecei a rir, fazendo graça com eles, enquanto eles mantinham a cabeça baixa.
Enfim, todas as aulas do dia haviam acabado, e não teve muita coisa importante.
Depois disso, fomos os três a uma lanchonete e fizemos uma festinha de despedida naquele dia. Prometemos não nos afastar de Gi, pois ela já estava em prantos.
E foi o que aconteceu. Durante todas as férias, nos encontramos para fazer algo.
Enquanto meu relacionamento com os pais de Rafa, eu ainda não havia me acostumado, tinha muita vergonha. Meus pais não haviam me procurado mais, e isso me deixava muito triste. Rafa sempre percebia isso, mas procurava não tocar no assunto, e me alegrava de outras formas.
O segundo semestre foi tranquilo. Estávamos todos eufóricos pois era nosso último semestre ali na escola. Novos horizontes, novos caminhos. Eu e Gi vivíamos juntos imaginando nosso futuro, chorando com medo de nos separarmos. E assim foi passando, até chegar o último dia de aula do ano...

Nota: Oi amados, então, para compreensão deste capítulo, é necessário reler o capítulo "Savior". Perdão pela demora com o capítulo. Beijos de luz :*

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