Havia acordado com tanta preguiça de ir no último dia de aula daquele primeiro semestre. Mas, mais do que isso, estava com uma sensação estranha em minha mente. Não sabia exatamente o que estava sentindo, mas por algum motivo não estava com vontade alguma de sair daquela cama. Sabe aquela história de sexto sentido, déjà-vu e tudo isso? Pois é, a sensação era disso.
Quando olhei para o lado, procurando por Rafael, não o encontrei, mas, ouvi o barulho do chuveiro ligado. Provavelmente era ele, se aprontando para ir ao colégio também.
Pensei por uns minutos, na cama, se deveria falar do que estava sentindo aquela manhã com Rafael, mas havia algo em minha mente que bloqueava qualquer tentativa de imaginar como começar aquela conversa com ele, então logo desisti da ideia. E no mesmo instante ele entrou no quarto, com um sorrizinho no rosto, olhando para mim. Ele estava só com a toalha enrolada na cintura, seu corpo estava a mostra e água ainda pingava pelo seus cabelos. Foi difícil não me sentir atraído por aquele homem na minha frente. Tantas coisas passaram pela minha mente, que em poucos segundos já estava ruborizado de vergonha e constrangimento. Claro que Rafa e Eu já tínhamos experienciado uma certa intimidade, mas nunca passamos de beijos e sexo oral. Nunca havíamos ficado mais íntimos, então eu ainda sentia vergonha de vê-lo sem roupas e de ficar excitado por isso.
- Bom dia meu bem! Que maravilha acordar com você aqui sabia.
Rafa falou isso, olhando para mim e sorrindo. Tentei disfarçar meu desconforto com a situação, mas com ele era impossível. Por isso tentei virar o rosto
- Bom dia meu bem. Respondi com a voz falha de vergonha.
- O que foi com você? Ouvi a voz dele se aproximando e sua mão pousou sobre meu ombro.
- Nada. Continuei virado para o outro lado. Só estou com preguiça de ir a aula hoje. E tenho que concordar, acordar com você é ótimo.
-Ah, temos que ir hoje sim. Último dia antes das férias, temos que saber como estão indo nossas notas e preciso me despedir do pessoal também.
-Quem dera eu tivesse de quem me despedir lá. Falei com a voz um pouco triste.
- Claro que tem, e a sua nova amiga?
-Ah, eu e Giovana já combinamos de nos ver nessas férias. Porque você não vai, se despede e eu fico por aqui curtindo preguiça?
-Poxa... Porque quero que você me acompanhe. Quero meu namorado do meu lado ué. E falando isso ele deitou na cama e me abraçou depositando um beijo calmo em meu rosto.
Minha vergonha só aumentou quando senti que Rafa estava excitado, e foi inevitável eu não ficar também. Ele começou a beijar meu pescoço e morder minha orelha, enquanto eu me arrepiava todo. Se eu cedesse mais alguns segundos eu sabia o que iria acontecer
- Tudo bem, você me convenceu. Vamos para a aula, falei já levantando da cama e indo para o banheiro tomar banho, nem tive tempo de olhar para trás, mas queria muito ter visto a cara de Rafa, sai sorrindo imaginando isso.
Alguns minutos depois eu já estava de volta ao quarto, limpinho e cheiroso. Esperava encontrar Rafa ainda lá para curtir com ele, mas quando entrei o quarto já estava vazio. Fiquei um pouco triste, mas lembrei que ele e a família já deveriam estar na mesa tomando café, já que eles eram muito pontuais. Que vergonha, irei aparecer sozinho. Eu ainda não me sentia confortável em estar na casa de Rafa, ainda mais acompanhado de seus pais. Era estranho, principalmente pelo fato dos acontecimentos com o senhor Roberto, e por eu não ter contado ao Rafa.
Meus pais não haviam dado sinal nem de vida e nem de arrependimento. Não culpo minha mãe pois ela sempre foi submissa aos caprichos daquele homem cruel e frio. Isso me fazia sentir um pouco mal, parecia que eu estava sozinho no mundo. Já é difícil demais passar por todas as pedras de uma vida homossexual, ainda ter que passar sozinho, é muito "karma" para um só garoto... pensando bem, quase sozinho, tenho sorte de ter Rafa e sua família. Enfim, relevemos...
Quase perdido em tantos pensamentos, Rafael apareceu na porta e me deu chá de realidade
- Ué, não vai descer não? Estamos esperando você faz "mó tempão" Edu, ele falou chegando perto e me dando um selinho.
- Eu já estava descendo, só me distrai um pouco aqui.
- Distraiu? Com o que? A beleza de minhas fotos? Ele fez uma cara de "estou me achando", e eu ri disso.
- Não né "narciso", falei rindo dele, não dessa vez.
-Tudo bem. Você está diferente hoje. Está acontecendo algo?
Meu coração acelerou e um frio na minha espinha percorreu. Nem tive tempo de pensar em uma resposta e já estava totalmente nervoso com a pergunta.
-Não, nada! Estou bem sim, é só a preguiça mesmo. O mundo poderia acabar em cama hoje. Falei abraçando-o. Ele riu de minha cara, pegou minha mão e descemos.Foi um café da manhã estranho... pelo menos para mim. Passei a maior parte do tempo me distraindo com a colher mexendo o açúcar no chá. Por sorte, toda a família me deixou na minha, assim evitamos explicações.
Sem muito ânimo, segui com Rafa para escola, mas não o deixei perceber que eu estava tão agoniado. Claro que ele notou que eu não estava no meu normal, mas evitou tocar no assunto. Quando chegamos à escola, haviam mais alunos do que eu esperava. Desci com Rafa que logo me abraçou e fomos em direção à escola para nosso último dia de aula daquele longo e surpreendente semestre. Não digo que foi horrível porque com essa reviravolta da vida conheci meu Rafa. Enquanto passávamos, percebi todos nos olharem e fiquei incomodado com aquilo. Achei estranho o fato de alunos que eu não via pela escola a algum tempo, também estarem lá.
- É, para um último dia de aula hoje está bem movimentado por aqui né amor. Rafa disse beijando meu rosto.
- Está sim. É estranho isso. Comentei ainda sério.
- Tem certeza de que está bem amor? Estou achando você tenso hoje. Rafa perguntou segurando minha mão.
Meu coração voltou a disparar, e toda a sensação ruim que sentia se aflorou mais por meu corpo. Já estava ficando agoniado com aquele sentimento.
- Estou sim amor, só estou com uma sensação de algo ruim. Não sei o que é, mas acho que não deveríamos ter vindo aqui hoje.
- Calma meu bem, é o último dia. Nada vai nos acontecer, além do mais, estou contigo e, enquanto estivermos juntos, nada poderá nos fazer mal. Confie em mim. E dizendo isso Rafa apertou nossas mãos e me deu mais um beijo. Isso me acalmou um pouco, então me aninhei nos braços dele e tentei relaxar.
-Tudo bem, confio em você.
Ficamos aguardando no pátio, enquanto os professores e a coordenação da escola resolviam as últimas pendências antes de anunciar as notas finais do semestre no mural. Quase dormi no colo de Rafa, quando finalmente eles vieram e colaram no mural a relação de aprovados de cada turma.
Fomos até lá, e foi um alívio da cabeça aos pés ao ver que tínhamos sido aprovados e finalmente eu estaria livre daquelas pessoas. Pelo menos pra mim foi...
A felicidade de Rafa era visível, ele estava muito animado por ter sido aprovado, tão animado que simplesmente me abraçou e me beijou na frente de todas aquelas pessoas... Que beijo mágico, Rafa colocava a mão entre meus cabelos e nossos lábios molhados, pressionados um contra o outro, faziam questão de não se separarem...
Rafa continuou sorrindo e me abraçando
- Finalmente amor, fomos aprovados. Agora sim vamos ter a vida que merecemos. Vou te fazer tão feliz!
As palavras de Rafa me fizeram ficar sentimental, eu já ia começar a chorar e fazer um discurso épico, mas algum amigo dele apareceu
- Rafael meu velho, quanto tempo cara!
Ele era da altura do Rafa, cabelos castanhos claros, corpo atlético, bronzeado, os olhos eram uma cor mel, era muito bonito, mas agiu como se eu nem estivesse com Rafa.
- E aí Miguel, nossa quanto tempo hein cara! Rafa me soltou e abraçou o cara, numa felicidade estranhamente grande...
Forcei um barulho com a garganta após alguns estranhos minutos de conversa entre os dois, e Rafael se voltou pra mim um pouco constrangido, ele me olhou e olhou novamente para Miguel
- Bem Miguel, esse aqui é meu namorado Eduardo, Edu esse é meu amigo Miguel
- Olha só, que bom conhecê-lo Eduardo, a galera do colégio já me falou um pouco sobre você.
Apenas sorri de volta, meu olhar para Rafa ficou meio confuso e ele percebeu rapidamente. O clima ficou estranho entre nós então decidi estender o assunto. Tinha alguma coisa a mais ali.
- As pessoas disseram o que mesmo a meu respeito? Perguntei com olhar fixo em Miguel.
Ele deu um sorriso meio sem graça antes de responder
-Ah, você sabe, que vocês estavam juntos, e disseram que você é um pouco diferente dos caras que Rafael costumava sair. Tive que te conhecer para ver mesmo.
- Desculpa, não estou entendendo direito, diferente como? Perguntei incomodado com aquilo.
- Bem, continuou Miguel, você é diferente... De mim por exemplo.
Olhei imediatamente para Rafael que parecia muito constrangido com a situação, com um olhar que exegia uma explicação imediatamente.
Mas nada, Rafael apenas abria a boca como se fosse falar algo mas logo desistia...
- Rafa e eu namoramos a um tempo atrás. Ficamos noivos aliás. A voz de Miguel atravessou minha mente e apenas encarei o chão. A única coisa que consegui imaginar foi uma cena dos dois juntos. Um impulso de ciúmes me fez sair dali rapidamente sem dizer nada nem olhar para trás. Tudo ao redor tinha desaparecido e minha visão escura de raiva me levou imediatamente portão a fora.
- Edu, volta aqui, isso não tem importância, foi passado...
- Ah Rafa, deixa o garoto, tem tanta certeza assim que ficou no passado?
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AmOr NãO CoNvEnCiOnAl (Romance Gay)
Romance"Olhos castanhos que por uns instantes me hipnotizaram. Gelei de cima em baixo e o coração acelerou. - Olá, sou o Rafael, estudo na sala ao lado." Esta obra se trata de um rascunho que estou fazendo de acordo com as ideias que vão vindo em minha me...