AmOr NãO CoNvEnCiOnAl (Romance Gay)

Descobertas

Parado em frente ao espelho, me olho por uns momentos e começo a pensar no que exatamente foi aquilo na sala, e, instantaneamente os palpites sobre Rafael voltam em minha mente.
Por que ele estava agindo daquela forma comigo?
Não queria ter pensamentos surreais sobre ele, mas algo me encantou naquele garoto, fantasiar não seria tão ruim, afinal, nunca ninguém se interessou por mim. Minha vida foi sempre cercada de rejeição, até mesmo por parte da minha família, e eu nunca entendi o porquê.
Abro a torneira e molho minhas mãos para passar no rosto e ver se os pensamentos vão embora com o toque gelado . Fecho os olhos por um instante, e o sinal da escola toca. O silêncio aos poucos volta a reinar naquele lugar, parece que todos já estão em sala. Bem, todos menos um. Quando abro meus olhos me assusto com Rafael atrás de mim e instantaneamente reconsidero, todos menos dois. Nem consegui perceber se ele estava mesmo vindo comigo. Mas tive minha resposta naquela hora.

- Você me assustou, disse a ele num tom hesitante.

- Desculpa, não foi minha intenção, só queria te observar um pouco sem que você ficasse com vergonha de mim - disse ele de uma forma natural.

Fiquei logo vermelho e sem jeito, tanto que desviei meu olhar novamente para o meu reflexo no espelho.

Ficamos em silêncio um curto tempo.

- Muito útil esse objeto - falei me referindo ao espelho. Ele reflete muito mais que a nossa imagem. Se bem utilizado ele pode até nos ajudar a solucionar problemas mais profundos - não sei porque raios eu disse isso mas fez ele voltar mais ainda sua atenção para mim.

Rafael olhou para mim através do espelho com uma expressão pensativa e foi chegando mais perto de mim.

- Muito útil mesmo - disse ele se aproximando mais - Agora mesmo ele está me dizendo que você está nervoso com minha presença, e não é nervosismo de medo que eu possa fazer algo contra você, é nervosismo de excitação e confusão, não na forma sexual, mas em forma de alegria, de felicidade.
Olhei pra ele com a expressão mais confusa ainda. Confusa porque era realmente assim que eu estava me sentindo. E isso fez ele continuar
- Tenho certeza que você deve estar pensando no motivo de eu estar falando assim com você, mas Não se preocupe - disse ele com uma voz suave agora quase encostado por trás de mim - eu não te farei mal, só quero te conhecer melhor. Sei o quão estranho isso é, já que não fazem nem vinte e quatro horas que colocamos os olhos um no outro, mas você me atraiu como um metal é atraído por um imã. Você acordou algo em mim que eu pensei estar congelado a muito tempo - dizendo isso ele colocou as duas mãos em minha cintura e aproximou seu rosto do meu cabelo, fechando os olhos como se estivesse querendo sentir meu cheiro.

Fiquei paralisado tentando captar tudo aquilo que eu escutei da boca, da perfeita boca dele, enquanto sentia o toque de sua mão em minha cintura, qe foi ficando mais intenso, um toque com algo mais especial do que antes, uma vontade maior, foi tão intenso que arrepiei todo e o coração acelerou novamente, e não deu para disfarçar, dessa vez ele percebeu.
Os pensamentos sobre ele eram lançado em minha mente um atrás do outro.

Aproveitando a situação ele afastou meu cabelo do rosto e chegou sua boca bem perto do meu ouvido, com uma mão ainda na minha cintura e sussurrou de forma firme

- Deixa eu mostrar a você que posso ser o que você tanto sonha. Quero fazer todos os seus pensamentos se tornarem realidade. EU SOU A PESSOA QUE VOCÊ TANTO ESPEROU. Não sei bem o que está acontecendo, mas sinto que devo me entregar de corpo e alma para você. Me dê uma chance Eduardo, prometo não te decepcionar. Você precisa de mim. Eu vou te proteger.

Me assustei no momento em que ele disse isso. Imediatamente me virei, nossos rostos ficaram bem perto um do outro e olhando no fundo dos olhos dele perguntei:

- Como todos meus pensamentos? Por acaso você sabe no que estou pensando?

Comecei a me afastar mas suas mão logo foram em direção das minhas e ele me puxou novamente para perto de si, olhando nos meus olhos me disse:

- Eu te falei que não precisa ter medo de mim, eu jamais lhe faria mal. Não fique preocupado pensando se sou gay ou hétero ou bissexual, isso são apenas rótulos que as pessoas criam para se sentirem confortáveis nada mais, o importante é o sentimento, o verdadeiro sentimento que uma pessoa sente pela outra, independente de qualquer diferença. As diferenças são o que tornam o mundo especial e convidativo. Só vamos ter cem por cento de proveito disso quando aprendermos a aceitar as diferenças.

Incrível, cada palavra que ele dizia parecia ser estrategicamente pensada e era carregada de um discurso bem estudado. Realmente ele estava me surpreendendo enquanto eu continuava totalmente confuso. E Ele continuou:

- Eu sei que tudo leva tempo, não quero forçar nada, ao contrário, quero que tudo isso flua da forma mais natural possível, podemos começar com uma amizade, afinal a base para as outras coisas é a amizade verdadeira. Mas claro que sempre vou demonstrar este meu interesse por você.

Algo dentro de mim, de repente, começou a pedir por um beijo, um beijo dele. Engraçado, nunca havia sentido dessa forma por um garoto, e olha que a escola era cheia deles, mas nenhum nunca demonstrou nenhum interesse, e acho que isso fez com que eu me fechasse para experiências. Mas parecia que Rafael era diferente. Eu sentia isso,apesar de estar com o pé atrás, estar a sós ali com ele me fez esquecer completamente que a qualquer momento alguém poderia entrar ali e nos flagrar naquela intimidade, me fez esquecer que eu era alvo fácil ali naquele prédio, me fez esquecer que eu teria que voltar pra casa, era com se existissem somente eu e ele no mundo, nada mais. A forma como ele me tocou, o jeito como ele me olha, como ele fala comigo, desde o primeiro momento eu percebi que era diferente, mas, por eu ter me exceptuado do mundo como fiz, tive medo de confirmar, medo que fosse apenas um mero devaneio de minha mente, mas eis que a confirmação apareceu sem nem um esforço através daquelas palavras.
Me controlei o máximo que pude e colocando um fim na magia que estava naquele lugar eu disse, quase sem querer:

- É melhor a gente voltar, a aula já deve ter começado.

- Tem razão - respondeu ele um pouco insatisfeito, o tempo aqui parece que parou - mas temos que voltar ao mundo real lá fora meu bem. Posso te abraçar? Perguntou de forma espontânea.

- Claro, respondi sem hesitar.

Sentir o corpo dele colado ao meu daquela forma me causou um calor diferente , fiquei até meio tonto, e o coração continuava acelerado.

- Calma, disse ele cheirando meu pescoço, logo esse coração vai estar tão cheio que nem vai conseguir mais ficar acelerado de nervosismo.

Olhei para ele e sorrimos um para o outro ao mesmo tempo. Saímos do banheiro e seguimos cada um para suas salas.
A partir daquele momento eu entreguei aquela situação nas mãos do destino. Ele sabe exatamente o que vai acontecer.
Cheguei na porta da sala e fiquei com receio de entrar pois já fazia uns bons minutos que o sinal havia tocado. Com muita hesitação batia na porta e pedi licença. Era a professora de inglês, graças a Deus a matéria que eu mais amava.
- Excuse me teacher, may I come in?
- Of course, come come, but don't be late again. Disse ela sorrindo.
Apenas afirmei com a cabeça e fui para meu lugar

- Ui Ui Ui, parece que alguém finalmente achou outra aberração pra ficar de namorinho gay - as risadas foram imediatas. Olhei pra trás e era o grupo infame novamente.
Pensei em responder mas a voz de Rafael veio em minha mente "Eu vou te proteger".
Fechei meus olhos, respirei fundo e me virei pra frente ignorando mais uma vez aquele grupo.
A graça deles pareceu ter desaparecido e claro que o olhar intimidador da professora contra eles ajudou.
Foquei naquela aula com toda força que tinha. Mas nas duas últimas a única coisa que insistia em ocupar minha mente era Rafael.