3:0.2

252 32 14
                                    

Ato de crueldade

Seu corpo estava cansado devido a correria ardente que continuava sem fim. Yeosang, com o rosto cheio de poeira, cortes na face e no corpo, olhava de relance o amigo atrás de si, sem saber o que fariam para acabar com esse inferno. Jamais poderia tomar uma decisão errada que os colocasse em frente a algum anjo da primeira Tríade. Compostas pelos anjos que jamais viriam à terra, Serafins, Querubins e Tronos. Com a forma de asas gigantes e nada tão bonitos como os anjos mais fracos, esses podem causar destruição aos demônios de maneira rápida, sendo eles a Tríade mais forte. Contudo, seus poderes talvez sejam igualados ao de San.

Kang estava para sair do último beco em que atravessavam tentando fugir da cidade. Quando Ouviu-se vozes numa conversa. Com rapidez, puxou Wooyoung e o encontrou na parede, enquanto seu peito subia e descia rápido, preocupado com que tivessem os vistos. O desespero tomou conta do rapaz no mesmo momento, mas, tampou a boca do amigo, tentando escutar qualquer coisa.

— Maldito seja o Miguel. Agora temos que perder nosso tempo matando esses insignificantes demônios e humanos. Sinceramente Rafael, acredito que ele esteja louco. — Gabriel, o arcanjo, dizia sobre seu irmão, sentado no capô de um carro, enquanto seus dentes agarravam a ponta de um palito.

— Não seja tonto, Gabriel. Você sabe muito bem o que Miguel tem de objetivo com isso. Ele arduamente matou nosso próprio irmão, buscando extinguir os demônios e Hades. Ele planeja trair Zeus.

Yeosang arregalou os olhos. Mas que porcaria tinha acabado de ouvir? Matar o próprio irmão, apenas para uma traição... Não podia acreditar que a culpa sobrecaiu nas costas de Seonghwa. Não podiam deixar que essa guerra continuasse. Jongho morreu tentando avisar. A feição de Yeosang se fechou, tirou a mão da boca de Wooyoung e cerrou os punhos.

Yeo... Se confiar em mim, acho que eu tenho um plano. Por favor, me escute. Eu estou pensando nisso há um tempo. — Sussurrou, tendo uma confirmação de cabeça do Kang, que agarrou o tecido do braço do mais novo e puxou para longe dali, buscando um abrigo seguro.

Atravessando a poeira e destroços de alguns edifícios, tossindo a areia que adentrava a garganta. Pularam uma janela e se esconderam atrás de uma mesa de madeira destruída.

— Yeosang, quando a garota entrou naquela casa abandonada, onde encontrou o maldito do Uriel, estava tudo arquitetado. Era um plano entre ele o Miguel, era atrair um de nós, qualquer um e deixar que algo provasse que fosse um demônio que tinha o matado. Ele iria morrer desde o início para o irmão. Eu me lembro dessa cena. Depois que San o derrubou no chão, Miguel apareceu...

Foi questão de segundos até que Miguel acabasse completamente com a vida do próprio irmão, depois, sorrindo como um verdadeiro diabo, procurou qualquer coisa que pudesse provar que algum de nós estava lá e que fomos responsável pela morte do arcanjo. Com isso, ele encontrou um fiapo de cabelo do Seonghwa, que foi usado como prova. Se o que os arcanjos ali disseram, ele planeja trazer Zeus a esse mundo, para o trair. Acho tolo, de qualquer forma, já que Zeus seria um ser impossível de ter sua destruição.

O que pensei foi que, se tinha algo de Seonghwa lá na casa, imagino que possa ter algo de Miguel, algo que prove a morte de Uriel causada por ele.

E então, o plano dos dois foi feito. Invadirão a casa abandonada e procurarão alguma pista do ocorrido, para enfim acabar com a guerra.

[...]

Seonghwa seguia caminho com a garota à sua frente. Corriam em direção nenhuma, ao mesmo tempo que ela dizia que era por aquele caminho que Yeosang se encontrava. Ele estava preocupado, cansado e com medo.

Ele sabia que caiu sobre suas costas a culpa de um crime no qual não cometeu. Porém, precisava que apenas seus amigos acreditassem nisso. Ele queria voltar vivo para HongJoong, acabar com isso e viver em algum lugar fresco com seu amor. Naquela noite, quando seu amado foi levado, Seonghwa espumava de raiva. Derrubou a mesa e caiu em um briga com seu pai naquela sala. De jeito nenhum ele iria se casar com uma mulher se seu amor estava em perigo bem na sua frente.

Decretou que iria atrás dele, mas a porta tomou a forma de seu tio mais velho, com uma faca de prata na mão. E disse, que se o menino ousasse o desafiar, mataria ele ali mesmo. Foi trancado no porão da casa, sem janelas, sem saída. Suas unhas sangravam com as arranhadas na parede que ele dava em busca de liberdade. Seu coração doeu. E na manhã seguinte, após dar dezessete facadas no seu tio, atravessou a cidade às pressas em fuga, procurando seus amigos na grande árvore, onde iria contar a seu amor sua fuga com si. Mas tudo foi estragado, a maldição o proibiu de contar e conviveu com o ódio do mesmo direcionado a si, sem que pudesse contar.

Foi quando a garota parou de andar, entraram em um beco escuro, com tudo destruído. Seonghwa franziu o cenho, sem saber o que estava havendo.

— O que... — iria começar a perguntar, com a respiração fraca e cansada. Yeosang não estava ali, então por que ela parou?

— Sabe... Seonghwa, você é um tolo. — Não, ele não podia acreditar. Ela virou o rosto em sua direção e o sorriso maléfico se gravou em sua mente. — Não acredito que foi tão fácil assim o enganar.

A forma humana da menina se desfez. Não, não podia ser. Um Querubim. Seu peito começou a subir e a descer de tanto medo e horror que estava estampado em seu rosto. Ele não tinha sequer uma chance de sair vivo daquilo.

— Não, não... por favor. Eu preciso ficar vivo. Eu preciso voltar para quem amo. Por favor, não faça isso comigo. — Implorou, vendo o grande ser a sua frente caminhar em sua direção. Ela indescritível sua forma física, tão perturbadora, e ao mesmo tempo límpida, que não sabia para onde olhar, a não ser o grande olho. — Por favor... Eu não matei aquele anjo, eu te imploro.

Seus olhos soltavam lágrimas, não conseguia mais correr, não tinha força e não tinha ninguém por perto. Estava apavorado, sentindo que seu coração iria explodir do peito. Ele não queria morrer ali. Então, mesmo que sua força fosse como a de um mosquito, ele tentaria lutar. Pelo seu amor.

Seu único amor.

Estava pronto, respirou fundo e esperou. Nem sequer deu tempo de se defender, a mão do Querubim já lançava o ataque, cortando sua garganta como se não fosse nada. Seonghwa colocou sua mão sobre o ferimento, caindo para trás. O sangue jorrava por todos os lados, enquanto o Querubim ria em satisfação, o deixando lá para morrer. Seu corpo escorregou na parede, até que caísse no chão.

Foi quando se lembrou do rosto de HongJoong. O angelical e delicado rosto da pessoa que mais amou a vida inteira. Seus olhos brilhavam enquanto as lágrimas melancólicas caminhavam para o limbo no fim do rosto. E na sua memória, na última lembrança feliz, o som da risada e o sorriso do rapaz amado cruzou seus pensamentos e ecoou em sua orelha. Se perdoou ali pelo passado e se arrepender por não ter tido antes de morrer, o quanto o amava.

Foi sua última memória, antes que sorriso, largando a mão do ferimento e seu corpo deixando a vida. 

Estava morto.

The Book Of DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora