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O corpo tencionou e uma onda de calor a atingiu em cheio. Deveria ter imaginado que era uma armadilha. A porta atrás dela fechou, a prendendo ali dentro com quem quer que ele fosse. Estava perdendo qualquer resquício de calma, ainda mais pela maneira burra que agiu em deixar o livro lá embaixo.

Logo a forma angelical se virou completamente para ela. Notou a auréola quase invisível sob sua cabeça, ela brilhava como ouro. Os cabelos curtos e loiros combinavam com a pele absurdamente branca do anjo. Diferente de um de seus irmãos.

O rosto era delicado, como se fosse desenhado à mão. As asas brancas logo tomaram forma, e encantou-a com a beleza da pureza. Os olhos azuis cristais encaravam-na profundamente e seu semblante era acolhedor. Não cairia nessa, não confiava em mais ninguém que não fizesse parte dos demônios do livro, confiando em quase todos.

Deu passos lentos para trás, tentando pensar em uma forma de sair dali e chegar na sua mochila no andar de baixo.

— Você me parece assustada — acusou o anjo. — Não precisa me temer, mas sim aqueles com quem andas.

— Não sei do que você está falando. — Viu o anjo sorrir, criando rugas de expressão no rosto jovem.

— Eu não vou tocar em você, por mais que esteja aliada a eles. Temo que fizeram sua cabeça. — O anjo deu um passo à frente. — És uma jovem tão bela, não devia ter caído no conto de demônios.

— Fica longe de mim, não ouse se aproximar! — recomendou, tentando controlar o nervosismo que fazia com que suas pernas começassem a tremer e falhar.

Não poderia acontecer agora. Foi se aproximando da cômoda que ficava na parede ao lado da porta. Não sabendo mais o que fazer, enquanto o anjo continuava a dar passos lentos para perto dela.

— Ou o que? — ameaçou — Olha, eu já disse que eu não quero machucar você. Eu só vim pegar o que meu irmão pediu. Me fala onde o livro está e eu prometo que vou reconsiderar rasgar sua garganta com esse sangue sujo de sangue de demônio!

Estava apavorada.

Ele estava tão perto que sentia como se o rosto dele fosse beijar o seu a qualquer minuto. E bem, o anjo tocou os fios do cabelo, sorrindo de lado, com um olhar assustador e profundo. Arrancou a mão dele de seu cabelo, jogando-a para longe. Ouviu uma risada medonha.

— Eu fui bem simpático, mas você não me dá escolha. — Agarrou-a pela garganta. Só poderia ser um pesadelo, não queria estar passando por aquilo de novo.

Ele então jogou-a contra a cômoda, fazendo com que as costas arderem de forma aguda. Engoliu o choro, precisava pensar e talvez tivesse uma solução.

Levantou a cabeça e viu um abajur que quase desequilibrava para a ponta do móvel, dando-lhe uma ideia. Se levantou, sentindo muita dor, mas seguiu. O anjo suspirou, antes de tentar seguir para cima dela novamente. Pegou o abajur velho e empoeirado e bateu com tudo na cabeça do anjo, na qual o fez desequilibrar.

Foi o suficiente para distraí-lo e correr para abrir a porta. Correu para as escadas abaixo, ouvindo o grito de ódio do anjo tremer a casa. Olhava para a mochila e o livro que estavam no chão, perto da lareira.

Estava quase perto de terminar de descer as escadas, quando sentiu seus cabelos serem puxados com força para trás. Ele era mais rápido do que ela pensava. Gritou e sentiu lágrimas no canto dos olhos.

Como pode deixar isso acontecer?

— Eu só quero o livro, seja uma boa menina. — Queria morrer. Tentava se soltar, se contorcendo, mas o anjo era muito mais forte. Não teria jeito, sabia que se comunicar com o livro era a única maneira de pedir ajuda.

Cedeu com a cabeça, apontando em direção a mochila.

Uma risada vitoriosa ecoou, sentindo o aperto em seu cabelo ser afrouxado. Segurou-a pelo braço, arrastando-a escada abaixo. Precisava muito dos meninos, estava quase implorando para que eles atendessem seu chamado e a ajudassem.

Largou-a quando viu o livro, pegando em mãos o objeto cheio de magia.

— Eu não faço ideia do que meu irmão quer com isso. Porém tem uma magia intensa e poderosa, eu vejo — disse com um sorriso de satisfação.

Sentiu o corpo fraco, enquanto ele sorria para ela. Não poderia desmaiar agora, o toque do anjo era o bastante para que percebessem que algo estava errado.

Precisava tanto deles. O anjo apertava o livro esmagando seus próprios dedos. Sentiria que poderia morrer. O anjo virou de costas, folheando o livro de página em página.

Isso facilitou para que não notasse quando dois demônios pararam ao lado da garota, como névoa em um dia frio. Suspirou aliviada quando Seonghwa e Hongjoong estavam ali.

Seonghwa fez sinal de silêncio. Um ranger saiu enquanto Hongjoong pisava no chão, fez o anjo sentir que algo estava errado, alguma movimentação diferente.

O anjo se virou e em um avanço Seonghwa partiu para cima dele, sacando sua espada, antes que o anjo pudesse reagir. O angelical desviou, jogando o corpo do demônio para longe apenas com um movimento de sua mão. Seonghwa perdeu a arma, que foi jogada para longe dele.

Estava desesperada, ainda mais que sem perder tempo, fez a mesma coisa com o Hongjoong, que foi arremessado para outro cômodo. Precisava arrumar alguma forma de ajudar. Só que o anjo estava mais que disposto a machucá-los por nada.

Ele deu uma última olhada para ela com um sorriso sombrio.

O movimento de sua mão indicou para que o corpo de Seonghwa voasse para cima, e apertando os punhos, sufocava o demônio.

— Para, está machucando-o! — gritou falho, a voz não saia mais. Odiava o som do Seonghwa agonizando, sufocando e tendo o pescoço quase entortado pelas mãos do anjo.

O livro estava na outra mão dele, não conseguia pensar com a dor do demônio na sua cabeça.

— Solta ele! — Avançou no anjo, mas tudo que ganhou foi uma cotovelada no rosto, acertando bem o nariz. Sentiu o líquido viscoso enquanto cambaleava para trás.

A visão ficou turva e caiu sentada no chão. Com a visão embaçada só conseguia ver o Hongjoong avançar também, na tentativa de rebater com feitiços. Mal conseguia ver, mas o raio de feitiço negro rebatia o raio branco, perdendo espaço.

Na distração, nem esperou a visão se recuperar, avançou direto para o livro, arrancando das mãos do anjo. Tentou correr para algum outro cômodo, mas acabou tropeçando em um dos móveis coberto pelo tecido branco.

Caiu no chão de joelhos, apoiando os braços ao redor do livro que agora estava aberto em uma de suas páginas vazias. O sangue de seu nariz escorreu e a gota viscosa caiu sob a página.

Um sussurro, um sussurro a dizia algo importante. Algo como:

"Movere"


Movere significa mover, afastar

The Book Of DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora