A IRA DOS DEUSES CELESTIAIS

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ATO 2: A IRA DOS DEUSES CELESTIAIS

Os céus estavam escuros. Indicavam que uma tempestade muito forte viria logo. Sua perna batia freneticamente no chão, enquanto a ansiedade tomava conta do seu corpo por completo. San tinha sido capturado e pior, não só ele como Yeosang também desapareceu misteriosamente. Deixaram-na trancada no quarto enquanto insistiram que precisavam ter uma reunião com todos para decidir como as coisas seguirão. Ela só queria estar participando e entender por que Hades agiu daquela forma e porque o capturar de graça. Bom, de graça não era. San não foi muito obediente — segundo Hades —, mas não precisava disso tudo.

Tinha que sair dali e ouvir a conversa deles. Levantou-se da cama e correu para a porta, onde girou a maçaneta várias vezes, pensando em uma forma de sair. Talvez fosse uma boa tentativa, então se dirigiu ao banheiro do quarto e abriu as gavetas da pia, onde lá fuçava a procura de um grampo. Achou um no fim da gaveta e parecia estar lá há anos. Correu para a porta e abaixou-se diante a fechadura, onde meio sem jeito colocou o grampo ali dentro, remexendo-o, na tentativa que magicamente fosse abrir. Bufou irritada, tirando e limpando-o na roupa. Colocou entre os dentes da boca, separando-o no meio. Tentou mais uma vez, ouvindo as vozes na parte de baixo e ficou desesperada em perder a conversar. Foi quando ouviu o trinco da porta abrir. Comemorou silenciosamente, abrindo a porta devagar, tentando não chamar a atenção.

Atravessou a porta em passo lento e calculado, com medo da madeira ranger e entregar sua espionagem. Segurou na parede enquanto descia degrau por degrau, vendo as costas dos rapazes no final da escada. Abaixou-se e seguiu fora da vista deles.

— De verdade, eu estou completamente confuso, como que o Yeosang foi desaparecer justo agora? — Hongjoong estava tão nervoso que sua voz tremia enquanto falava.

— Eu não sei, ok?! — respondeu Jongho. — Eu falei com ele antes de vir para cá, ele disse que estava vindo.

— Como vamos resolver isso? — Antes quieto, Seonghwa aproximou-se. Passou a mão no cabelo, sentindo o peito acelerar.

Estavam em volta da mesa de jantar, nem perceberam que ela se aproximava ainda mais.

— Quem fica no comando, então? — Depois de um tempo, Yunho quebrou o silencio, girando a espada na mão. Os rapazes se entreolharam.

— O Yeosang fica no comando quando San não está, né? — disse Wooyoung. Mingi que estava ao seu lado bufou, virando a cabeça para ele.

— Você está vendo-o aqui para assumir o cargo, gênio? — Wooyoung resmungou. Mingi o analisou antes de soltar um pequeno riso.

— Então... Jongho, né? Ele que assume, é o terceiro mais forte. — Todos olharam, inclusive a garota, nas lacunas entre os corpos, para Jongho, quando Hongjoong falou. Ele parecia tenso, estava encostado em um canto na parede.

— Eu acho melhor esperarmos para ver se Yeosang não vai mesmo aparecer. — Coçou a parte de trás da cabeça.

— Tudo bem, mas enquanto isso assume o lugar. Não podemos prometer nada. Como vamos falar para ela que não sabemos se San irá voltar? — questionou Hongjoong.

— Vocês não sabem se ele vai voltar? — Se levantou do esconderijo quando ouviu a frase. Seu rosto estava cinzento e a boca levemente aberta. Os rapazes a olharam, surpresos por ela estar ali.

— Eu não mandei você ficar vigiando a escada? — Hongjoong olhou para Mingi furioso.

— Eu não achei que ela fosse realmente sair, né? — defendeu-se, coçando a nuca. Hongjoong resmungou.

— Meu bem, mantenha a calma — começou Wooyoung, tentando se aproximar dela. — O que dissemos é só por precaução, mas provavelmente ele vai voltar, é o San. — Sorriu amargo, sem saber o que fazer.

Ela se afastava ainda mais deles. Não conseguia entender o que tinha acontecido com San e como eles poderiam falar que ele nunca mais poderia voltar.

— Não vão nem tentar resgatá-lo? — perguntou com a expressão rígida, seguindo para a porta de saída.

— Não é simples assim. É de Hades que estamos falando. — Jongho tentou intervi-la de sair, mas desviou dele, seguindo para a porta. Tentaram lançar alguns feitiços enquanto gritavam para ela esperar, sem qualquer sucesso.

Deixou a casa, correndo pela rua. Estava irritada, tudo aconteceu de forma tão rápida que não teve nem tempo de processar o que estava acontecendo. Não podiam deixar San naquele lugar.

— Deixem que eu vou — disse Yunho, deixando a casa e seguindo o rastro do cheiro dela.

Cogitou até ela mesma resgatar o rapaz, mas não sabia ir a inferno sozinha. Claro, a não ser pelas passagens de Perséfone, a esposa de Hades. Existia certas épocas do ano na qual ela poderia voltar para a terra. Tinha lido sobre isso quando foi a biblioteca, só não deu muita importância na hora.

Parou a caminhada, pensando em uma questão em específico. Se essas passagens existiam, por que fazer com que ela entrasse em um estado de quase morte?

Era uma questão para se pensar.

Outra coisa fico na mente dela, e voltando a caminhar, se lembrou de Ellén. Pensou em como aquela garota poderia saber sobre o sangue no livro. Se era magia, então talvez ela fosse uma feiticeira.

Bingo!

É claro, como não tinha pensado naquilo antes? Aquele velho dono da loja também poderia saber alguma coisa que não estava contando. Se estivesse mesmo disposta a ir atrás de San, então talvez devesse aprender a se defender.

— Ei, garota, espera! — Yunho apareceu alguns minutos depois, agarrando o braço dela.

— Você pode me soltar — começou tentando afrouxar o aperto que o Yunho dava em seu braço. —, eu não tenho intenção de sumir. Só queria um tempo para digerir tudo.

— Vamos atrás dele quando for oportuno, não podemos arriscar ficar mais sem ninguém. Realmente não sabemos se San irá voltar, porque não sabemos a intenção de Hades nisso tudo. — Respirou, descendo a mão até a dela, apertando os dedos gelados. — É o San. E ainda tem o Yeosang que não temos ideia do que pode ter acontecido com ele.

— Me desculpa, é só que... — Abaixou o olhar, sem saber o que dizer. Yunho sorriu minimamente. Odiava aproximações, odiava que tocassem nele sem permissão, mas faria um exceção dessa vez.

— Está tudo bem, eu entendo. Precisamos voltar, ou Hongjoong terá um infarto. — Ela riu, seguindo com Yunho de volta para casa.

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