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Abriu lentamente os olhos, sentindo o ouvido zunir e a visão desembaçar a cada minuto. Se sentia fraco, mas tinha total consciência de onde estava. Os braços estavam acorrentados, cada lado. Quando a visão finalmente voltou a ficar por inteira, mal conseguia ver a sua frente. O chão era úmido e a escuridão exorbitante. Forçou o pescoço a olhar para os lados e quando notou o corpo desmaiado — também acorrentado —, soube onde estava.

San e Yeosang estavam presos no Tártaro.

Era onde as almas travessas e ruins pagavam pelo seus pecados, Era o lugar mais escuro e profundo do submundo. Tinha sorte de não estar ouvindo os gritos dos pecadores do lado de fora. Estavam em uma jaula, que sem sombra de dúvidas foram feitas para punir aqueles que desobedeciam Hades.

Ele não sabia como Yeosang estava ali com ele. Tentou puxar os braços para se livrar das correntes, mas sua força não era o suficiente. Precisava que o companheiro acordasse.

— Yeosang — chamou-o mais alto que conseguiu, preocupado com o eco que o local fazia, podendo chamar a atenção de Hades. — Yeosang, acorda, droga!

Yeosang começou a despertar aos poucos, tão confuso quanto San. Quando retomou a consciência e percebeu que estava enjaulado, gritou, se debatendo na tentativa de se soltar.

— YEOSANG! — gritou, chamando a atenção dele. Precisava o acalmar e traçar uma maneira de sair dali.

Ele parou de gritar, mas não de se debater. Estava raivoso, com as veias saltadas no rosto. Os olheiras embaixo dos olhos e o olhar nebuloso. Se lembrou de resquícios.

— Calma... por favor — San tentou se aproximar, puxando as correntes tentando se mover para um pouco mais perto. — Como veio parar aqui?

— Ele sabe que eu sei — disse como um sussurro. San permaneceu em silencio, sem saber do que ele estava falando. — Ele apagou a minha memória.

— Ele quem? Do que você está falando? — Puxou as correntes com ainda mais força, recuperando a sua força absoluta aos poucos. E quando recuperasse, reduziria essa cela a cinzas em segundos.

Quando Yeosang abriu a boca para falar, fechou quando os passos tão conhecidos ecoaram pelo silencio da escuridão. San parou imediatamente. O peito subia e descia desesperado.

O assobio fez com que Yeosang se debatesse ainda mais em busca de uma maneira de se livrar daquelas correntes. San não entendeu esse desespero tão repentino em Yeosang. Os passos e assobio cessaram e as tochas acenderam-se em fogo, iluminando aquele lugar escuro.

— Acordaram finalmente. — Aquele sorriso fez formigar a mão de San e o corpo todo queimar. — Achei que iria demorar mais dias.

Dias? San olhou de relance para o companheiro, que estava tão surpreso quanto ele. Preocupou-se em como a garota estava com seu sumiço repentino.

Precisava sair dali o mais rápido possível.

— Eu espero que vocês dois tenham aprendido a lição. — A feição de Hades era dura, ele estava sério. — Tive que castigar os meus dois melhores soldados. Isso me entristece profundamente.

Fez uma cara de tristeza completamente falsa.

— Vai soltar a gente? — perguntou Yeosang ofegante. San percebeu pela voz trêmula e olhos arregalados que ele estava tão surpreso quanto ele.

— São meus melhores soldados, por que não soltaria? — A pele dele brilhava com o reflexo das chamas, junto com o sorriso que não saia do seu rosto por nada.

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