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Alguns deles taparam os ouvidos com o grito agudo que se espalhou pelo quarto. Ouviu os passos rápidos que vieram da escada de sua casa. A porta se abriu de forma brusca. Os olhos de sua mãe estavam arregalados e a respiração ofegante, indicando que ela tinha corrido para chegar até ali mais rápido.

— O que aconteceu, minha filha? — perguntou entre a respiração pesada. — Ouvi seu grito lá de fora.

Olhou para sua mãe e de relance para os demônios ainda parados em sua frente. Abriu a boca e fechou, soltando um gemido confuso. Sua mãe não conseguia enxergá-los.

— E-eu acabei me assustando com uma sombra, pensei que tinha uma barata atrás da minha cama. Desculpa, mãe. — A mãe suspirou aliviada.

— O plantão acabou comigo — desabafou. Ela era enfermeira em um hospital perto da casa, quase nunca estava em casa, mas sua filha entendia o cansaço de sua mãe e não a incomodava com bobagens, principalmente escolares. Odiava dar trabalho, muito menos pedir ajuda quando estava com dificuldade ou intriga com colegas. Gostava da sua própria solidão. —, eu vou tomar banho e dormir direto. Tem comida na geladeira, então não fique sem comer!

Ordenou antes de fechar a porta. Estava sozinha novamente com oito coisas que não sabia quem eram.

Quando olhou para aqueles seres novamente, nada foi dito, um silêncio perturbador estava na distância entre eles. Era assombroso como um clima esquisito e uma aura se voltou no quarto. Uma sensação borbulhou no estômago dela. Uma mistura de bondade e ruindade carregava nas sombras projetadas daqueles à sua frente.

Analisou-os, cada centímetro do corpo de cada um deles. As vestes pretas pareciam antigas, como um uniforme unânime entre eles, em especial chamou sua atenção, pelos brasões costurados em linha branca na lateral. Não sabia o que significava, mas era uns diferentes dos outros. Dois não usavam chapéus — os que usavam, ou tamparam seus olhos, escondendo as expressões, ou qualquer sinal dos fios para que pudesse ver as cores de cabelo. —, estes, tinham ambos os fios negros, diferenciando-se pelas mechas vermelhas que um deles tinha.

Entre os outros, dois eram mais altos que o restante, mas nada sabia sobre a aparência e dos rostos, devido aos chapéus longos. Os mais baixos entre os dois, nada sobre si se revelaram, além de olhos inexpressivos e desconfiados.

— Vai ficar nos encarando? — O de mechas perguntou, com a voz um tanto irritada. Conhecia aquele rosto de algum lugar, tentava lembrar, mas simplesmente fugiu de sua cabeça. Era bonito, sim. Não fazia ideia do que eram e o que estavam fazendo em seu quarto. — Eu sou o San.

Nada disse, nada havia o que dizer, afinal não entendeu por que o nome dele era relevante para que ela soubesse. Estava perdida, pensando e pensando. Entretanto, o olhar deles demonstraram esperar alguma resposta.

— Quem são vocês? E o que são? — perguntou com a voz trêmula, um tanto baixa, mas para o que eles eram, ouvir não foi um problema.

Apenas ouviu um riso daquele que se nomeava San.

— É um pouco complexo, minha querida. Somos demônios — disse simplista. A sensação no estômago passou a piorar. A respiração falhou. Isso era impossível, essas coisas não existem, são apenas criadas por religiões. Não?

— Com o tempo vai saber quem somos também. — Uma segunda voz soou no quarto, suave.

— Isso... Isso é loucura. Eu só posso ter enlouquecido, não é possível. — Se levantou, deixando os oito de guarda armada, caso ela decidisse sair correndo daria tempo de desacordá-la, ou tapar a boca caso gritasse novamente. Colocou a mão na testa, soltando de forma descompassada a respiração.

The Book Of DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora