Capítulo Um

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Lady Marie Nora Astrid

🏷 Vianden, Junho de 1810.

"Querido caderninho antigo,

Eu fui a criança que errava contas básicas de matemática que a senhora May aplicava, sou a escritora que não escreve um poema a quatro anos, sou o sorriso que é perdido logo após risadas estéricas, sou o vendaval que estraga o brilho do sol: "mimada demais", "reclamona demais", "rebelde demais".

Acho que as versões de mim não dialogam entre si, como um casal predestinado ao matrimônio mas que não se amam, acho que escutei muito o meu pai ao ponto da voz dele sobrepor a minha, acho que deveria ter escrito minha própria história com uma dose a mais de coragem, mas agora não é hora de achismos, pois tenho certeza que peguei todos os caminhos errados.

A verdade é que a criança nunca foi burra, só era péssima em matemática, mas não eram o que seus pais e sua tutora diziam, eles nunca falaram: "sua escrita é fantástica e você deveria focar nela", eles só diziam: "não é possível que você não consegue calcular essas pequenas equações."

Eu tenho a estranha sensação de que o mundo me decepcionou, mas ao mesmo tempo não me lembro se o mundo havia me prometido algo, e para ser bem sincera e justa, acredito que tenha decepcionado o mundo. Deve ser sobre as expectativas que eu criei e criaram em mim, sinceramente no fim é tudo meio solitário, e ainda nem chegamos ao fim.

As vezes eu queria voltar a ser criança, mas não aguentaria descobrir novamente tudo que sei agora, a cada centímetro que você cresce há uma sensação de um sonho morrendo, e os piores são aqueles que você observa morrer. Se algum dia eu tiver um filho ruim de matemática, juro que ensinarei equações para ele passar no teste, e logo após direi: "não é disso que a vida é feita, e você entende".

Talvez eu devesse ficar escrevendo neste antigo livro secreto sobre essas coisas, faz mais sentido quando escrevo, quando estou escrevendo parece que tudo irá dar certo, é como voltar para a infância por alguns minutos.

Eu deveria saber lidar com as críticas, mas o mundo é cruel, e eu nunca soube lidar com o cruel. "

- Desabafo semanal feito! - grito para meu quarto.

Guardo ao mesmo tempo debaixo do colchão meu antigo caderninho, que ganhará de Anne no meu décimo aniversário.

Hoje será um longo dia Marie, me recordo da caminhada que prometi para minha irmã antes do almoço, Sophie e suas caminhadas matinais, segundo a mesma, "é necessário estar em forma, nunca sabemos quando iremos precisar caminhar apressadamente."
Minha irmã que vive no mundo da lua, acredita fielmente que um dia podemos ser roubadas ou até mesmo sequestradas, e que um príncipe em um cavalo branco irá nos salvar, isso para ela seria um capítulo perfeito em seu conto de fadas. E eu, que não ficarei esperando um príncipe me salvar.

Sigo em direção as longas escadas que me levarão ao saguão rezando aos céus para não encontrar o Duque de Vianden, ou seja, meu querido pai, não quero ver sua carranca logo cedo, chegando ao saguão me dirijo até a cozinha.

Lá encontro senhora Valérie que esta concentradíssima preparando um delicioso desjejum e minha super amiga Anne a auxiliando.

- Olha só quem já está de pé, se não é a mais poderosa de todas.- diz Anne largando o bolo de laranja e me abraçando de lado.

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