XI

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- idiota. - murmurei enquanto caminhava para fora do estabelecimento.

eu estava sem um tostão para pagar um táxi, e até pensei em ameaçar algum motorista, mas seria arriscado demais atrair a polícia para nós.

a pousada não era tão longe, e eu me lembrava do caminho perfeitamente. Como faz falta saber dirigir a porra de um carro. Eu poderia ter pegado antes de Styles, e agora, ele quem estaria andando na rua, não eu. Suas palavras continuavam na minha cabeça.

Provavelmente, ser taxado de insuficiente no meu trabalho era o pior dos xingamentos. Minha vida inteira foi treinando para isso. Perdi minha infância, adolescência, e sabia que perderia minha juventude e velhice, apenas para cumprir o que me foi ordenado. Todos esses anos de vazio dentro do peito, todas as dores, os esforços, os sacrifícios, para ouvir que eu não era bom o suficiente? Eu teria matado qualquer outra pessoa que tivesse se atrevido a me dizer algo assim.

mas nao podia matar Styles, e honestamente? Não tinha motivos para faze-lo. Eram só mais alguns dias e eu estaria livre dele para sempre. Não é como se ele fosse uma pessoa que merecesse morrer, apesar de ser insuportável.

enquanto eu pensava nisso, também pensava quanto tempo demoraria para a pessoa que estava me seguindo se revelar. Eu não tinha a noite toda rodando em círculos pela rua.

suspirei, deixando de lado todos esses pensamentos e me virei, para dar de cara com uma pessoa de preto. Bem o que eu esperava.

- então, o que você quer? Ande logo com isso. - apontei o revólver em sua direção.

- Tomlinson...sempre imprevisível. - eu não reconhecia sua voz - estou aqui a mando de você sabe bem quem. Parece que não tem se comportado muito bem. - ele se aproximou, tirando o capuz. Seu rosto era horrível. Cheio de cicatrizes, um olho cego e todos os músculos tensionados, além do sorriso macabro em seu rosto.

- ah, é mesmo? Vai fazer o que o fraco do seu chefe não tem coragem de fazer? - dei uma risada irônica - tente. - desafiei.

seu sorriso aumentou e ele partiu para cima de mim. Acertei um tiro em seu braço, mas ele parecia usar alguma porra de roupa impenetrável, então eu joguei minha arma para o lado ao perceber que seria uma luta braçal.

agarrei seu colarinho e lhe acertei um soco no queixo, mas fui pego de surpresa por um na boca do estômago. Eu não tinha comido muito, e isso me desestabilizou por algum segundo, já que senti refluxos, mas não tinha nada para liberar, então meu corpo fazia um esforço em vão.

grunhi com a dor e bati minha testa na dele, o distraindo a tempo de acertar um chute no seu joelho. Assim que ele caiu, passei a desferir socos em seu rosto medonhamente feio, pensei na raiva que eu já sentia antes e intensifiquei meus golpes. Seu sangue espirrava em meu terno e rosto, mas eu não pararia.

talvez eu estivesse cego demais pelo ódio, que não percebi sua mão se aproximando de minha barriga e enfiando algo afiado ali. A dor foi tão aguda que eu arregalei os olhos buscando por ar. Essa foi a deixa perfeita para ele se reerguer e me acertar um soco no rosto.

e mais um, e mais um.

com toda a força que me restava, aproveitei o momento que ele se abaixou para perto de mim e enfiei um dedo dentro de seu olho, empurrando com força. Ele gritou e me largou por um instante, me dando tempo de rastejar até minha arma, no chão.

- seu-

ele se aproximou novamente, mirei a arma para seu rosto, bem perto, e descarreguei o pente. O sangue espirrou por toda parte e seu corpo caiu parcialmente por cima do meu, coberto de sangue, vazando.

deitei minha cabeça no chão e respirei fundo algumas vezes, antes de empurrar o corpo para o lado. A faca ainda estava dentro de mim, teria que ser rápido ao puxa-la e estancar o sangue.

- isso vai doer pra um caralho... - peguei a faca e puxei para fora, fazendo um esforço a mais do que eu tinha naquele momento. Assim que saiu, a dor se alastrou ainda mais forte. Tirei meu terno rapidamente e amarrei em minha cintura. Isso seria o suficiente até eu voltar para a pousada pelo menos.

mas eu não poderia simplesmente sair. Fui até o homem morto do meu lado, e vasculhei seus bolsos, em busca de alguma pista. Achei apenas um papel.

Acho que te subestimei, Tomlinson. - Payne.

- Payne? - franzi o cenho, tentando me lembrar desse nome, que me parecia familiar.

seja quem fosse, sabia que eu mataria esse homem. Provavelmente foi enviado para morrer. Mas para que isso?

uma distração...

porra.

- Styles! - me levantei com certa dificuldade e peguei minha arma e a faca. Eu não teria tempo de mexer no cadáver, então apenas passei por cima dele enquanto andava o mais rápido que eu conseguia de volta para a pousada. Sabia que aquilo me dariam complicações, mas estava preocupado com outro corpo no momento.

assim que vi as luzes vermelhas da pousada, suspirei aliviado. Parecia intacta, sem resquícios de um massacre. Pelo menos na parte externa.

eu não poderia passar pela recepção, então aproveitei a adrenalina no meu corpo, para subir uma pilastra e passar por uma janela, que dava acesso a um corredor. Subi as escadas de forma rápida para chegar ao nosso andar e abri a porta, coração batendo forte, e em mãos, a faca que estava no meu corpo.

mas não tinha nada.

apenas Styles, é claro.

ele continuava com o terno, e por um momento havia me esquecido de nossa discussão, mas quando me lembrei, a raiva voltou em dobro. Sabendo que se ele não tivesse inventado toda aquela briga idiota, já teríamos voltado juntos a muito tempo, e eu não estaria todo fodido agora.

- o que- o que aconteceu? - ele perguntou alarmado, com seus olhos arregalados se aproximando com rapidez.

fechei a porta com força atrás de mim.

- me larga! - falei firme quando senti seu toque em meu braço.

- mas você-

joguei a faca ensanguentada e minha arma descarregada no chão enquanto caminhava até o banheiro.

- Tomlinson, é sério, deixe-me ajuda-lo... - continuou.

- vai me ajudar muito calando a porra da boca.

- não seja infantil, caralho! Você está-

não tive forças para responder, então apenas entrei no banheiro e fechei a porta com força. Eu não precisava de ajuda e da pena de ninguém, muito menos vindo dele.

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