XXVII

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Harry Styles

Abri meus olhos lentamente e os fechei quase na mesma hora, uma luz forte batendo sobre eles. Também ouvia sons altos, e demorei alguns segundos para perceber que estava jogado em uma mata ao lado de uma rodovia.

me sentei confuso, olhando para os caminhões que passavam rápidos.

porque haviam poupado minha vida?

arregalei os olhos me lembrando de Louis levando uma forte pancada na cabeça, eu tentei me soltar para não deixar que seu corpo colidisse com o chão, ou tentar matar o filho da puta do Paul, mas senti uma dor aguda na minha nuca, mais especificamente, a dor que uma arma de choque daria. Tudo ficou preto e eu apaguei.

me sentei na grama com dificuldade por estar dolorido e acordando depois de não sei quando tempo, mas devido ao meu estado, não parecia muito, alguns machucados ainda estavam abertos. Me levantei e bati em minhas roupas para que as formigas e folhas saíssem de mim. Eu não tinha tempo para fazer perguntas, precisava encontrar Tomlinson. Mas precisaria de ajuda.

suspirei sentindo meu coração acelerar ao pensar em alguma coisa de muito ruim acontecendo com ele. Eu jamais me perdoaria. Eu não deveria me sentir assim, não deveria pensar nisso, deveria estar feliz por estar vivo...mas eu só sentia uma agonia subindo para minha garganta e me causando ânsias.

parei na beira da estrada e fiz um sinal com a mão, precisava de uma carona, ao menos sabia onde estava.

fiquei por volta de meia hora ali, até um caminhão parar na minha frente e me fazer quase sorrir de alívio.

- olá, amigo, tudo certo? - o homem perguntou. Parecia ter na faixa dos cinquenta anos, e pelo sotaque, percebi que ele era do interior.

- hm, olá. - limpei a garganta, me aproximando da porta. - estou perdido, fui assaltado e deixado aqui, levaram meu carro...preciso voltar para casa.

- oh, céus! - abriu a porta, e eu entrei na mesma hora. - bem percebi pelo estado do senhor, sem ofensas. Esse mundo está cada vez mais perigoso...bandidos por todo lado!

- é, pois é. - suspirei falsamente - se importa de dar uma carona?

- claro que não, rapaz, hoje o dia está tranquilo. - lhe dei o endereço e ele novamente confirmou que estaria tudo bem, então encostei a cabeça no banco enquando o caminhão dava partida. As vezes o homem fazia alguns comentários, mas eu respondia secamente para não aprofundar no assunto, até que ele parou.

eu estava tão angustiado, tão puto e com medo. Medo. Medo do que estaria acontecendo com Tomlinson nesse momento.

Em retrospectiva das minhas últimas semanas, tudo o que poderia falar é que eu não imaginava que algo assim pudesse acontecer.

era uma tarde comum quando um número desconhecido me discou, se apresentando como Paul Payne. Eu não pedi muitos detalhes do serviço oferecido, mas sabia que tinha que levar o filho de Mark Tomlinson para dar uma volta por algumas semanas. Mark era um homem conhecido, eu mesmo já havia escutado várias histórias a seu respeito. Seu filho deveria ser a porra de um mimadinho sortudo.

era o que eu pensava.

estava fazendo alguns bicos, mas precisava de algo maior, então quando vi o cheque que seria depositado na minha conta, não pude dizer não.

quando conheci Louis, o achei esnobe. Pensei que era um adivinhador, porque era exatamente o que eu tinha imaginado. Mas as coisas podem ter saído dos trilhos em algum momento.

eu descobri que ele estaria atrás de Malik. E porque não juntar o util ao agradável? Eu repudiava Zayn Malik.

ouve um tempo em que eu o chamaria de amigo caso me perguntassem a seu respeito. Me lembro de quando éramos apenas dois adolescentes inconsequentes. Saímos para várias festas privadas, ostentávamos muito. O conheci em uma dessas noites, ele me oferecendo um baseado, e então, sua amizade. Acabou muito rápido, já que em uma noite qualquer eu estava chegando em casa depois da farra e encontrei meu pai morto no chão da sala, uma taça de vinho derramada pelo carpete junto ao seu corpo.

Não demorou para que eu soubesse que havia sido Malik, e a partir daí, larguei aquela vida e decidi orgulhar meu pai. Apesar de que agora ele não deve estar tao orgulhoso.

não fazia parte do plano beijar Louis, isso eu fiz porque me deu vontade, achei que seria apenas um beijo. Eu não poderia negar a atração que sentia por ele, sempre esteve lá.

mas então a coisa foi ficando estranha.

na noite que Tomlinson chegou na pousada completamente insanguentado, eu fiquei alarmado. Quem havia feito aquilo com ele? Paul não mencionou que iria mata-lo também, esse não tinha sido o acordo.

foi aí que Payne entrou na jogada como uma incógnita para nós dois. Então realmente comecei a fugir com ele, porque aquilo não poderia ser bom para nenhum de nós.

Louis cuidou de mim quando eu estava todo fodido após a aparição daquele homem, Nick. Eu me sentia terrivel olhando para ele, todo cuidadoso, enquanto eu o enganava. Eu não me sentia culpado por ser um filho da puta na maioria das vezes, mas esse caso era uma exceção. E eu não poderia cogitar abrir o jogo com Tomlinson, ele estouraria minha cabeça com um tiro antes que eu pudesse terminar a primeira frase.

eu me pegava observando Tomlinson enquanto ele tomava seu café durante as tardes. Via como suas maçãs do rosto ficavam coradas com o ventro frio batendo sobre elas, como o cigarro se encaixava tão bem na sua boca. E consequentemente vi que eu me importava demais com aqueles míseros detalhes.

quando ele saiu correndo da casa de Horran, eu fiquei tão preocupado que não sabia o que fazer. Eu nunca fui do tipo de cara que conforta as pessoas, não que eu quisesse ser assim, mas nunca tive alguém que precisasse de cuidados, ou que eu quisesse cuidar. Eu estava quase roendo minhas unhas inteiras, e ele continuava fechado no quarto, resolvi que entraria despretenciosamente, na hora inventaria uma desculpa.

mas minha confiança se esvaiu quando o olhei, parecendo tão indefeso e pequeno ali em sua cama, os olhos arregalados como se tivesse acabado de ver um fantasma. Eu não pensei exatamente quando fui ao seu encontro e o abracei, ele apenas precisava. Ou eu também. Precisava esquentar seu corpo naquela noite fria e garantir que ele não amanheceria doente, precisava ter certeza de que ele dormiria bem, e precisava saber o que tinha acontecido para aquela reação que não fazia seu "estilo". E eu não sabia porque.

quando Louis me entregou seu corpo na cozinha, eu percebi que estava ferrado. Não era bem o cenário mais romântico de todos, estávamos na cozinha, tranzando igual dois animais e gemendo alto após tanto esperar por aquele contato direto, mas de alguma forma, havia sido o momento mais ingênuo da minha vida.

me lembro de ter me sentido completo enquanto o tinha nas minhas mãos, via meus dedos longos apertando sua pele enquanto eu o fazia meu por pelo menos algum tempo, e mesmo que após gozarmos tudo fosse acabar, eu me permiti sentir aquilo. Aquela felicidade.

então era isso?

se apaixonar.

era isso?

- você tem filhos? - murmurrei para o homem, focando meus olhos em um porta retrato com duas crianças e uma mulher.

- oh, sim. - ele desviou o olhar para a foto também, e sorriu automaticamente. - minha mais velha tem onze, o caçula oito, e essa é minha esposa Jessy. - assenti - sabe rapaz, o trabalho de caminhoneiro é muito difícil, estou voltando para casa hoje após três dias na estrada. - suspirou - sinto falta da minha família, mas sei que tudo que faço é por eles.

- é um pensamento muito nobre.

- é o que você pensa quando ama, não? - sorriu novamente, e eu não respondi, porque não sabia.

talvez eu estivesse apaixonado, ou talvez Louis fosse apenas um amigo muito próximo. Neguei com minha cabeça.

com certeza aquilo não era amizade. Independente do que estava sentindo, não deveria ter esperanças quanto aquilo. Meu peito pesou novamente ao pensar, e me encolhi no banco, esperando chegar rápido aonde queria.

- você pretende ter filhos algum dia?

- não. - respondi sem pensar muito. Em que mundo alguém como eu poderia cogitar essa hipótese?

- certo. - riu - na sua idade eu falava a mesma coisa.

- hm.

- um dia rapaz, você encontrará alguém que lhe trará desejos que você nunca sonhou um dia.

eu pagaria para ver.

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