Um encontro inesperado

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Laura

Duas semanas tinham se passado desde a festa e eu ainda me pegava pensando as vezes em como o sexo com aquele homem tinha sido bom. Depois da nuvem da ressaca, algumas lembranças voltaram à minha mente. O jeito como ele tinha me feito rir na festa, a maneira como ele tirou o meu vestido quando entramos em seu apartamento. Seu toque na minha pele. Tudo isso ficava martelando na minha cabeça sempre que eu me distraia entre um afazer e outro.

As semanas se arrastavam enquanto eu seguia meu trajeto, trabalho, casa; casa, trabalho. Os finais de semana eram para eu comer bem, tomar um vinho, descansar e ver meus amigos. A minha vida na Sicília era normal, e eu já estava me acostumando com ela.

Domingo eu aproveitei o dia para ficar deitadinha no sofá enrolada nas cobertas vendo uns filmes. Segunda infelizmente eu teria que voltar para minha rotina de trabalho, então aproveitei ao máximo aquele momento de relaxamento.

O dia seguinte chegou cedo demais e às sete da manhã já estava na rua indo em direção ao meu emprego. Meu chefe não gostava nada quando eu me atrasava, então sempre saia cedo de casa para que não precisasse dar explicações para ele.

Eu trabalhava como garçonete em uma livraria/café e assim que cheguei já coloquei meu avental. Fui atender as mesas e estava distraída. Estava cantarolando uma música na minha cabeça e balançava minha cabeça no ritmo enquanto deixava a comanda na área onde o pessoal do balcão fazia as bebidas.

Quando me aproximei para pegar o pedido de uma nova mesa, eu travei no caminho. Droga, o que ele fazia ali? Eu nunca pensei que seria tão rápido pra gente se ver de novo. Tinham se passado apenas duas semanas desde aquela noite. Que droga, será que ele sabia que eu trabalhava ali?

— Matteo, o que faz aqui? — na mesma hora que fiz a pergunta percebi como tinha soado rude. No mesmo momento, fiquei sem graça pelo que tinha falado. Ele levantou os olhos do cardápio e tomou um susto quando me viu.

— Bom, eu ia te fazer a mesma pergunta, mas vi que está com um uniforme. Olá Laura, como você está? — ele parecia indireitar sua postura já perfeita na cadeira.

— Estou bem. Bom, sinto muito por falar com você daquele jeito. Eu trabalho aqui, você não sabia disso, não é? — disse enquando trocava de peso de um pé para o outro. Eu estava desconfortável com ele ali. Sua presença era intimidadora. Seus cabelos negros estavam perfeitamente alinhados e seus olhos azuis brilhavam na luz amarelada do café.

— Não sabia. Por favor, não quero que pense que eu estou seguindo você ou coisa parecida. Eu nunca faria isso. — ele deixou o cardápio na mesa e olhou na minha direção mais uma vez. Eu não sabia mais o que falar com ele. Era normal ficar desconfortável perto de uma pessoa que até alguns dias atrás tinha te visto completamente nua, não é mesmo?

— Tudo bem. Confio em você. E então, o que vai querer? — "Confio em você?" Porque eu tinha dito aquilo?
Eu brigava com a minha consciência enquanto me forçava a prestar atenção no que ele iria falar. Não queria ter que voltar ali e perguntar mais uma vez. Ou até pior, correr o risco de fazer o pedido dele errado, e correr o risco também de vê-lo irritado comigo. Ele já era intimidador o suficiente em sua normalidade. Não queria vê-lo alterado.

— Só um latte maquiatto, por favor. — Ele disse com um tom de voz neutro. Será que ele estava desconfortável pela situação também? Bom, se estava, não aparentava nem um pouco. Olhava como sua blusa social ficava apertada em seus músculos do braço, como ele era lindo, não acreditava que tinha ido pra cama com alguém como ele, sempre que pensava nisso ainda ficava em choque.

— Algum adicional?

— Não. Ah, e eu queria pra viagem, se não tiver problema. — Ele abriu um sorriso glorioso que me fez ficar só um pouquinho sem ar. Nossa, deve ter sido muito fácil pra ele me levar pra cama.

— Tudo bem. Já trago pra você. — disse e quase agradeci por poder me afastar dali.

Pareceram horas enquanto Matteo esperava seu café na mesa, e quando finalmente ficou pronto, ele pagou e foi embora. Eu olhei na nota na minha mão e fiquei chocada. O café era oito euros e lá estava na minha mão. Uma nota de 500 euros. Eu fiquei chocada durante um tempo. Tudo além do valor dos produtos ali no café eram gorjetas. Em um dia bom eu fazia 100, talvez 200 euros. E ali naquele momento tinha feito mais de 400 euros. Eu sorri e agradeci mentalmente por ter atendido a mesa dele, mesmo que eu tivesse sido rude com Matteo no começo.

O restante do dia passou sem mais acontecimentos surpreendentes e quando o meu expediente acabou, fui para o meu apartamento, parando no caminho para comprar umas coisinhas no mercado. Estava com vontade de comer macarrão com muito bacon.

Assim que cheguei em casa, fui preparar o macarrão e deixei a televisão ligada em um canal de filmes. Estávamos nos aproximando do natal, então todos os canais de filmes passavam maratonas de natal. Eu não reclamava, pois era completamente doida em todos os tipos de filmes de natal.

Depois de comer eu simplesmente apaguei no sofá mesmo, e parece que assim que eu deitei já tive que levantar para ir trabalhar. Os dias pareciam passar muito rápido, o que era estranho. Estava feliz e aliviada porquê era minha última semana de trabalho. Logo estaria de férias e poderia dormir até tarde. Me agarrava ao pensamento de que estava acabando enquanto tomava banho e me arrumava, ainda sonolenta.

Estava sentindo um mal estar estranho e decidi que não iria tomar café naquele dia. Quando cheguei na livraria, fui logo colocar meu avental, e respondi algumas mensagens enquanto esperava algum cliente aparecer. Eu me sentia mais lenta, como se estivesse com sono durante o dia todo. Eu resolvi tomar um suco de laranja que eu comprei na lojinha de frente para a livraria. Quando eu bebi, me senti muito bem, estava morrendo de vontade de tomar aquele suco. Voltei correndo para o trabalho antes que meu chefe percebesse que eu tinha saído.

Atendi muitas pessoas que me perguntavam sobre edições específicas de livros, me pediam recomendações literárias, eu ria e fazia meu melhor para ajudá-los, enquanto pegava seus pedidos.

Assim que coloquei a comanda de um dos pedidos na cozinha, senti uma sensação horrível. Eu fui correndo para o banheiro e antes mesmo que eu pudesse pensar, meu corpo foi no automático. Abri a tampa do vaso e vomitei todo o suco. Era a única coisa que eu tinha tomado no dia, e eu fiquei super irritada por ter feito isso. O que estava acontecendo comigo? Eu teria que tirar uma folga para ir no hospital, ou algo assim. Ao mesmo tempo que pensei nisso, decidi simplesmente esperar. Era minha última semana de trabalho. Esperaria pelo menos essa semana terminar.

Ninguém veio atrás de mim no banheiro para ver como eu estava, o que me deixou um pouquinho triste. Sabia que estava no meu trabalho, mas não tinha conseguido criar laço de amizade com ninguém ali. Eles eram muito fechados. Eu lavei minha boca e arrumei meu uniforme, saindo do banheiro. Eu ainda tinha que trabalhar, mas depois de vomitar, não estava sentindo mais nada. Bom, na verdade, sentia algo sim, estava morrendo de fome.

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