Consulta

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Laura

Eu estava sentada no sofá do meu apartamento. Eu tinha a respiração acelerada, e não conseguia organizar meus pensamentos. Matteo estava vindo me buscar, e eu achei melhor descer e encontrar com ele na frente do meu prédio. 

Quando um carro preto completamente escuro parou na minha frente, Matteo saiu do outro lado e veio até a mim. Ele usava um terno risca de giz azul escuro quase preto, e uma blusa social cinza. Seu cabelo estava molhado e penteado para trás. Seus olhos azuis brilhavam na luz do sol. Ele abriu a porta do meu lado e esperou eu entrar, logo depois fechando a porta e entrando mais uma vez no lado do motorista.

Passamos um bom tempo em silêncio no carro. Eu não queria falar com ele porque estava magoada por como ele tinha me tratado depois que recebeu a notícia. Claro que eu não imaginava que ele iria soltar fogos depois de descobrir que teria uma criança com a mulher que ele pegou em uma festa. Mas não imaginava que seria chamada de golpista. Não conversaria isso com ele. Só daria mais poder a ele saber que tinha mexido com a minha cabeça.

Ele também não fez o menor movimento de começar uma conversa, o que eu agradeci. Não estava com saco de fingir ser agradável. Quando chegamos, ele desceu e eu fiquei esperando um tempo. Estava nervosa. Não queria sair e ter uma confirmação com base científica de que eu realmente estava esperando um bebê. Não queria nada disso, eu só queria a minha cama. Matteo abriu a porta pra mim e estendeu a mao. Eu fiquei envergonhada quando segurei ela e me impulsionei para fora do carro.  Ele foi andando na frente e eu a segui, timida. Não conhecia aquele lugar, e a presença de Matteo me deixava nervosa. Ele era intimidador. 

Chegamos na porta da clínica e ele tocou a campainha. Um homem de meia idade veio e abriu a porta para nós.

— Bom dia, senhor Ricci.

— Bom dia, entrem, entrem — o homem disse abrindo espaço na porta e Matteo colocou sua mão na base da minha coluna, me conduzindo para frente. Nós entramos e o senhor Ricci fechou a porta mais uma vez. Eu estava muito nervosa, não sabia o que pensava, mas não conseguia controlar minha ansiedade. 

— Sente-se aqui, Laura — Matteo apontou para uma das cadeiras na sala de espera. Ele foi falar com o moço e eu esperei. Depois de alguns minutos, eles se aproximaram.

— Então, vamos lá? — o senhor sorriu na minha direção e eu me levantei. Seu consultório era bem bonito e aconhegante. Era azul claro e os móveis em madeira de cor clara. Eu me sentei e o médico começou com a anamnese. Logo depois, ele fez um exame físico em mim, como um check-up. Logo depois ele chamou Matteo no consultório e eu já estava deitada na maca, pronta para a ultra. O médico tinha me falado que a primeira ultra era transvaginal e eu estava bem desconfortável, mas era necessário. 

Assim que o médico virou a tela na nossa direção, eu olhei para Matteo e ele me olhou. Ele tinha as sobrancelhas franzidas e os braços cruzados. Se mantinha afastado de mim o quanto podia, e e eu voltei o olhar para a telinha. O médico apertou uma tecla e um som alto preencheu o ambiente. Era um batimento, e era tão rápido. Eu sorri quando ouvi aquele som. Meu olhos estavam marejados e eu fiquei nervosa. Matteo perguntou antes que eu tivesse a chance.

— Os batimentos são rápidos assim mesmo? — Ele deu um passo a frente, e mesmo que fizesse força para demonstrar desinteresse, ele não conseguia com tanto afinco como imaginava.

— Sim, isso é normal. Por enquanto ele ainda é só um borrão, mas com toda certeza, está ai. Você esta grávida, senhorita Laura.

Mordi minha língua para evitar de responder "eu já sabia" e so sorri. Eu estava assustada, mas aqueles batimentos me trouxeram uma calmaria que eu não soube comoo explicar.  O médico tentou, junto com a ajuda do Dr. Ricci, me localizar do que eu estava vendo, mas foi sem sucesso.

Quando terminou,  médico pegou o aparelho e saiu do consultório. Dr. Ricci coletou meu sangue e pediu para que eu me vestisse mais uma vez. Quando saí do banheiro, Matteo também coletava sangue.

— Achei que tivesse tirado meu sangue para fazer um hemograma por conta da gravidez. Porque coletou sangue dele tambem? — perguntei pra o médico curiosa. Matteo não disse nada, na verdade, nem se incomodou em olhar na minha direção enquanto eu fazia a pergunta. Ele simplesmente continuou desfazendo a dobra em sua camisa social e colocou o paletó de volta.  Foi o Dr. Ricci que me respondeu.

— Vamos fazer vários exames com o seu sangue, querida. Os seus são exames normais que pedimos para todas as grávidas, e o dele é um teste de DNA para confirmar a paternalidade do senhor Bianchi. Por isso coletei mais sangue da senhorita. Temos um laboratório aqui, então os resultados vão ficar prontos em uma hora, no máximo. Tudo bem? — ele fez a última pergunta para o Matteo. Claro, eu não tinha nada a ver com aquilo. O teste era coisa deles dois. Eu só queria saber se estava tudo bem.

— Tudo sim, senhor Ricci. Vou levar Laura para almoçar. Depois voltamos para saber os resultados. 

— Doutor, já da pra saber o sexo do bebê? — Perguntei curiosa. Já pensava em economizar para o enxoval, e saber o sexo era imprescindível para direcionar o que eu iria comprar.

— Existe a possibilidade de saber o sexo do bebê, o exame se chama sexagem fetal e através da ausência ou presença do cromossomo Y, o cromossomo masculino. 

— Pode fazer esse também, doutor.

— Ele é mais caro. — o doutor olhou na direção de Matteo, e eu já estava pronta para cancelar, quando ele deu o aval para fazer o exame, enquanto saía do consultório. Eu me despedi e fui atrás dele. O senhor Ricci abriu a porta para nós e saímos da clínica. Dentro do carro, eu estava distraída com uma mão na minha barriga. Matteo pigarreou chamando minha atenção.

— O que houve?

— Ia perguntar como você esta. 

— Ah, eu tenho ficado bem enjoada todas as manhãs. Estava vendo na internet que isso é normal nos primeiros três meses. Só espero que eu não fique assim durante esse tempo todo.

— Acho que não, provavelmente você vai melhorar logo. Está com vontade de comer alguma coisa específica?

— Lasanha.

— Tudo bem. Vou levar você em um lugar que eu gosto bastante. — Eu não disse mais nada depois daquilo, porque não sabia exatamente o que dizer. Aquela situação era muito desconfortável, e parecia que qualquer palavra trocada entre nós poderia começar uma discussão, então, enquando ele dirigia, acabei pegando no sono. Acordei com Matteo me balançando devagar.

— Ahn? O que foi? — estava sonolenta ainda e minha visão demorou a focar nele. Não tinha me dado conta ainda de como ele estava cheiroso. Era um perfume masculino, mas não era forte, e ele não usava muito. Era um cheiro diferente, que me lembrava alguma coisa que eu não sabia o que era. Só sabia que gostava bastante.

— Nós chegamos Laura. Venha, vamos comer alguma coisa. — ele saiu de seu lado do carro e atravessou, abrindo minha porta enquanto eu me enrolava para soltar o cinto de segurança. Matteo quando viu o que eu estava passando, se enfiou ali e destravou a trança em volta do meu corpo. Seu rosto encostou no meu peito, mas ele parecia alheio a isso, então não dei atenção também. Ele voltou a posição atual, estendendo a mão para me ajudar a sair do carro, que eu aceitei de bom grado.

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