Mia

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Voltar a entrar em campo e jogar um pouco de bola, mesmo sendo em um ritmo reduzido, foi maravilhoso. Mas em compensação estou exausta e isso só mostra que ainda preciso entrar em forma. Amanhã tento dar mais do que duas voltas correndo no quarteirão. O teste da equipe de futebol é na próxima semana e quero muito conseguir uma vaga no time. Eu preciso disso. Ainda sonho em conseguir entrar em uma boa universidade com uma bolsa de esportes e depois começar a trabalhar para juntar dinheiro.

Agora que não tenho mais o Bill no meu pé posso fazer mais planos como esse. E também não quero depender do Logan por muito tempo. Sei que ele está apenas me tolerando e não vê a hora de se livrar de mim. Só penso em com vou sofrer ao me afastar do meu irmão. O garoto acabou me ganhando o coração pela insistência de sua parte. Meus olhos recaem sobre a foto da minha mãe e pego o porta-retrato.

_ Quem diria que um dia teria um irmão. – Falo com um meio sorriso ao sentar na cama. – Queria que a senhora pudesse conhecê-lo. Tenho certeza de que iria amá-lo. Ele é uma graça. – Comento alisando o seu rosto através do vidro fino. – Sinto saudades, mãe. – Abraço a sua foto enquanto me deito encolhida.

Fecho os olhos e sinto lágrimas teimosas escorrerem por meu rosto enquanto me esforço para lembrar a voz dela como faço todas as noites, mas com o passar dos dias começo a esquecer e isso me dói mais que qualquer surra que já levei de Bill. Em meio a esse mar de dor acabo adormecendo. A princípio é um sono tranquilo.

Estou em meio ao campo jogando com o meu antigo time e mamãe está sorrindo e gritando por mim na arquibancada, mas quando estou prestes a marcar um gol esbarro em uma espécie de paredão e caio no gramado. De repente tudo fica escuro e todos somem exceto o homem que esbarrei. Ergo meus olhos lentamente para ver quem me derrubou. É apenas uma sombra, mas sinto todo o meu corpo tremer quando reconheço aquele sorriso asqueroso. Tento correr e gritar por socorro, mas a voz não sai.

Acordo banhada em suor e com o grito preso na garganta. A escuridão do quarto me assusta e tento acender a luz do abajur, mas acabo derrubando o despertador no chão que faz o maior barulho e me assusto ainda mais.

_ Filha, o que houve? – Logan questiona ao mesmo tempo que entra no quarto e acende a luz.

_ Não foi nada. – Digo com a voz mais alta que um sussurro e o coração tão acelerado que parece que estive correndo uma maratona.

_ Como não foi nada? – Pergunta sentando na cama ao meu lado. – Você está pálida e chorando. – Fala e toco meu rosto me dando conta das lágrimas.

_ Foi apenas um sonho ruim sem importância. – Minto tentando me recompor.

_ Me parece ter sido mais que um pesadelo. – Diz acariciando meu rosto. – Pode falar, filha.

_ Por que? – Questiono e ele me olha confuso. – Por que está fingindo que se importa comigo?

_ Eu realmente me importo com você. – Afirma cobrindo minhas mãos com as suas, mas me apresso em afastá-lo.

_ Não foi o que dez anos de ausência mostraram. – Explodo cansada de guardar tudo para mim. – Você não dá a mínima para mim. Não dava antes e muito menos agora. Sou apenas uma responsabilidade que você aguenta, mas que está contando cada segundo para se livrar e voltar a ter a sua família perfeita de comercial de refrigerante. – Levanto me mantendo longe.

_ As coisas não são assim, Amélia. – Diz em tom firme.

_ Então, como são? – Falo sem me importar com meu tom de voz elevado. – Vai me dizer que sempre me procurou e que me ama? – Questiono sem esconder a ironia em minha voz.

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