Eric

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Já fazem duas semanas desde que Mia chegou a cidade e a essa altura imaginei que ela estaria mais a vontade e sociável conosco ou ao menos com seu pai. Mas ela se mantém distante. As únicas pessoas com quem a vejo conversar de fora relaxada são Jane e Andy, mas já esperava que ela não resistiria ao encantos do garotinho por muito tempo e Jane é garota e garotas geralmente se dão bem umas com as outras. Até mesmo Dylan consegue tirar algumas risadas dela com suas piadas bobas. Já a mim ela ignora solenemente. Por mais que tente ser legal ela sempre me trata com certa indiferença ou dá respostas atravessadas. Não entendo porque ela age assim comigo.

A sua perna está quase completamente recuperada. No início dessa semana abandonou a tala e ontem aposentou a segunda muleta. Ainda manca um pouco quando anda, mas acho que é normal. Com a sua recuperação nossas caronas até a escola foram suspensas. A partir dessa segunda-feira nós vamos caminhando até o colégio.

_ Ainda vai dormir ou acabou de acordar? - Meu pai pergunta ao entrar na cozinha me despertando dos meus pensamentos.

_ A segunda opção. - Respondo fechando a minha garrafinha de água. - Vou correr. Preciso estar em forma para a competição mesmo que o treinador insista em me deixar na reserva.

_ Está chateado com isso? - Questiona se inclinando sobre a bancada da ilha.

_ Não tem como não ficar chateado. - Suspiro me apoiando na pia. - Se essa posição fosse pelo fato de eu não ser um bom nadador eu até aceitaria. Mas sei que parte dessa sua decisão de não me deixar competir é a minha asma.

_ Ele apenas não quer que se esforce muito e acabe se sentindo mal. - Ele tenta justificar para levantar um pouco o meu ânimo.

_ Não é isso. - Falo negando com a cabeça. - Mas não quero falar sobre isso. Preciso sair agora ou vou perder a manhã. - Digo de forma evasiva encerrando o assunto.

Antes de sair lhe dou um meio abraço. É uma manhã fria de sábado o que é apenas um sinal de que o inverno se aproxima. A pior estação do ano para mim. Nessa época do ano costumo ter algumas crises severas que na maioria das vezes me obrigam a ir ao hospital para tomar uma injeção que me fazem melhorar. E com o inverno chegando não terei manhãs como essas para me exercitar.

Ajusto o relógio que tenho no pulso, dou play na música que começa a tocar em meu fone e só então começo a corrida. Faço os exercícios de respiração que o meu médico me ensinou quando o ar encontra dificuldade para entrar nos pulmões e diminuo o ritmo. Falta apenas mais uma volta no quarteirão para completar a minha rotina de exercícios quando vejo Mia em uma caminhada lenta com passos agora mais firmes.

_ Bom dia. - A cumprimento reduzindo a corrida a uma caminhada para acompanhá-la.

_ Bom dia. - Responde aí da concentrada em suas passadas que ficam mais apressadas.

_ Calma aí. - Falo quando sua perna direita vacila e a envolvo pela cintura evitando a sua queda.

_ Droga! - Pragueja em uma careta de dor.

_ Vamos sentar um pouco. - Sugiro indicando a calçada ao seu lado.

_ Não. - Diz tomando fôlego. - Preciso terminar o percurso. - Fala se afastando dos meus braços.

_ Mas está com dor. - Pontuo quando ela recomeça a andar lentamente. - Não deveria forçar muito a perna. - Argumento enquanto a sigo.

_ Acredite. Essa dor não é nada perto do insuportável. - Responde focada no caminho a nossa frente.

_ Você quase caiu. - A lembro.

_ Porque pisei errado quando tentei aumentar o ritmo. - Diz dando de ombros ainda caminhando.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora