Assistir ao sofrimento e angustia da minha filha me dói muito. Quero toma-la em meus braços e protege-la de toda maldade do mundo, mas simplesmente não consigo porque ainda existe um maldito abismo entre nós dois. E o pior de tudo é que não posso culpar aquele padrasto nojento dela. Esse abismo foi construído por mim no dia em que me afastei por conta do orgulho masculino idiota.
_ Sei que garanti não intervir, mas acredito que a minha filha não está em condições de responder mais nenhuma pergunta. – Digo reticente.
_ Tudo bem – O detetive Cooper fala voltando a guardar o seu bloquinho e caneta no bolso interno do paletó. – Acho que já temos o suficiente para chegar ao real motivo do crime. – Diz levantando e faço o mesmo.
_ Eu também. – Falo agoniado com o estado de Mia. – Vou leva-lo até a porta.
Ele me segue até o hall de entrada e trocamos um rápido aperto de mãos antes dele seguir até o seu carro parado no final da rua.
Quando volto para dentro o estado de Mia é ainda pior. Ela balança o corpo para frente e para trás enquanto aperta ainda mais os braços em torno de si. Sem pensar salto o abismo que insiste em nos separar e a tomo em meus braços. Ela se encolhe em meu peito e sinto o tremor em seu corpo.
_ Vai ficar tudo bem, cerejinha. – Sussurro em seu ouvido enquanto acaricio seus cabelos. – Vai ficar tudo bem.
Deixo que ela chore o que precisa chorar. Aos poucos percebo que o tremor em seu corpo e os soluços diminuem. Sua respiração é ainda ofegante quando se afasta um pouco. O lindo rosto, que estava tão iluminado ao chegar em casa, agora carrega as marcas do choro.
_ Está melhor? – Pergunto acariciando seu rosto.
_ Sim. – Diz usando as costas da mão para secar uma lágrima solitária que escorre por seu rosto e noto o band-aid de Hello Kitty em seu cotovelo. – Desculpe pela cena. – Pede sem graça.
_ Não precisa se desculpar. – Garanto. – O que houve com o seu braço? – Pergunto pegando o seu braço para examinar melhor.
_ Caí da bicicleta. – Responde recolhendo o braço. – Onde está o resto do pessoal? – Pergunta se afastando determinada a reestabelecer a distância entre nós.
_ A Chloe foi buscar o Andy na casa de um amigo, mas eles já devem estar voltando. – Digo checando as horas em meu relógio de pulso. – Está bem mesmo?
_ Sim. – Funga se erguendo do sofá. – Acho que vou subir e tomar um banho. – Fala voltando a abraçar o próprio corpo.
Queria impedir que fosse embora. Queria que ela ficasse comigo e falasse como estava se sentindo. Mas não consigo. Fico apenas ali parado enquanto ela corre escada acima se afastando mais de mim.
Me jogo no sofá esfregando as mãos no rosto no exato momento que Chloe e Andy chegam em casa. Meu pequeno super-herói corre para sentar no meu colo e me abraçar como faz desde que era um bebê. Enquanto retribuo o seu abraço penso em quando chegará o dia em que Mia deixará toda essa armadura, que usa para se proteger, de lado e vai permitir que me aproxime dela.
_ Está tudo em ordem, querido? – Chloe questiona me examinando e assinto forçando um sorriso, mas sei que não consigo convence-la.
_ A Mia já voltou, papai? – O pequeno questiona se afastando de mim. – Quero mostrar o brinde que ganhei na festa do Greg. – Diz eufórico.
_ Ela subiu para tomar banho e acho que deveria fazer o mesmo. Logo vamos servir o jantar. – Ele assente antes de correr para o andar de cima. Mas diferente da irmã, ele emana alegria.
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Segunda Chance
RomanceMia é uma adolescente de 16 anos que sonha fazer sua carreira no futebol e liberar a mãe do relacionamento abusivo com seu padrasto. Porém nem sempre as coisas acontecem como planejamos. Depois de perder a mãe em ato brutal de violência doméstica a...