Mia

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Buffalo Grove - 2010

        Meus olhos ardem pela falta de algumas horas de sono enquanto observo mais um dia nascer através da janela do meu quarto. É fim de verão e tem apenas algumas poucas nuvens a pintarem os céus o que significa que o dia será fresco. Logo o outono chega e dias como esses não aconteceram com tanta frequência. Gosto dos dias de sol, mas prefiro os dias frios assim não pareço uma esquisitona quando preciso usar meu velho moletom do Star Wars para incobrir os hematomas deixados por Bill sempre que tem seus acesso de raiva quando, segundo ele, não me comporto como uma boa garota.

        Ainda carrego as marcas de seu último ataque de fúria na semana passada quando chegou bêbado e mamãe não estava na sala para recebe-lo porque não se sentia muito bem e como não deixei que a incomodasse ele descontou toda a sua raiva em mim. Balanço a cabeça afastando as lembranças e deixo a janela para me preparar. Hoje é dia de jogo o que significa que tenho que me apressar em cumprir as minhas tarefas de casa para poder sair sem grandes problemas. Encontro com mamãe na cozinha preparando o café da manhã quando deixo meu quarto.

         _ Acordada tão cedo, filha. - Comenta vindo me beijar a testa. - Pensei que aproveitaria o sábado para dormir mais um pouco.

         _ Não consigo dormir muito em dia de jogo. - Digo e não é de tudo mentira. Sempre fico ansiosa antes das partidas e perco o sono. Mas também venho evitando dormir desde que os pesadelos ficaram mais intensos. - Vou começar com a limpeza assim termino cedo e não corro o risco de me atrasar e perder a chance de entrar em campo por falta de pontualidade.

         _ Come alguma coisa antes. - Pede voltando a remexer os ovos na frigideira. 

         _ Estou sem fome agora, mãe. - Digo pegando os materiais de limpeza na pequena lavanderia que divide espaço com a cozinha. - Prometo comer alguma coisa quando terminar. - Falo me afastando sem lhe dar espaço para protestar. 

         Começo tirando a poeira dos móveis com um paninho e coloco a sala em ordem evitando ao máximo fazer barulho para não acordar o desocupado do meu padrasto. Quando termino com a sala sigo para o meu quarto e por último o banheiro. Não chego perto do quarto do casal. Essa é uma zona proibida da casa. Apenas mamãe tem permissão para limpar e no fundo até gosto de não ter contato com as coisas daquele homem.

         Quando volto a sala Bill já está todo espalhado no sofá com uma latinha de cerveja na mão e mamãe lhe serve um prato com algumas azeitonas verdes e pequenos cupos de um queijo que estava escanteado na geladeira à quase três semanas. Passo direto em direção a cozinha para guardar o material que usei na limpeza e ver o que sobrou do café da manhã para mim. Encontro um sanduiche de manteiga de amendoim e um copo de suco de laranja sobre a bancada que, com certeza, foram deixados aqui pela minha mãe.

       Depois de comer sigo para o meu quarto e guardo as chuteiras, caneleiras, meias e uniforme na minha velha mochila. Também guardo a minha única foto do meu pai comigo para me dar sorte e para que sinta que ao menos ele estará assistindo ao jogo e torcendo por mim como vejo os pais das outras garotas fazerem. Saio de casa por volta das 1h35min depois de lavar a louççça do almoço e colocar tudo na secadora.

         Não dá para ir caminhando calmamente como pensei mais cedo. Quando chego ao campo todas as garotas já começaram a aquecer e preciso me apressar em trocar de roupa e fazer o mesmo. A treinadora não fala nada quando me junto as meninas quinze minutos depois, mas sei que notou o meu atraso e está esperando o momento certo para me chamar a atenção. Depois do aquecimento tem toda aquela cerimônia pré-jogo e então a bola rola em campo.

        Mesmo cansada pela correria não deixo que meu rendimento caia em campo e aos vinte minutos do primeiro tempo recebo uma boa bola e a mando direto para o fundo do gol. As garotas comemoram, mas logo o outro time empata mostrando a que veio. Toda a partida é acirrada, mas ao final conseguimos virar o jogo e garantir a vitória.

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