Eric

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Ainda ouço o desabafo raivoso de Mia ressoando em minha cabeça a todo instante. Nem mesmo o meu segundo encontro com Olivia no orfanato me fez desligar as suas palavras duras da minha mente. Ela não acredita que existem coisas boas, não acredita no amor que tio Logan tem por ela e não posso julgar. Ela passou anos distantes e muitas coisas podem ter acontecido com ela nesse meio tempo que a machucaram dessa maneira.

Mia não enxerga cores no mundo e isso me afeta de um modo diferente. Por alguma razão que desconheço quero ajuda-la. Quero mostrar a ela que existem mais cores além do cinza ou rosa. Sei que para isso preciso fazê-la abaixar a guarda e confiar em mim. Só não sei como vou conseguir essa proeza já que ela parece estar sempre preparada para um confronto. Mas estou decidido a não desistir.

O resto da semana é marcado pelas tentativas falhas de quebrar a barreira que existe entre nós e me aproximar dela. Também tiveram os encontros com Olivia que foram restringidos pela diretora do orfanato depois de uma pequena confusão interna com as crianças. A partir da próxima semana só podemos vê-la durante uma hora duas vezes por semana. O que achei um absurdo. Ao menos recebemos a notícia do advogado que já fomos aprovados para a segunda fase do programa de adoção e vamos começar com as avaliações e também as visitas.

Passamos todo o sábado liberando um dos quartos de hóspedes e no domingo começamos a montagem do futuro quarto de Olivia. Pintamos as paredes com tinta antialérgica azul e os frisos pintamos de branco. Os móveis que mamãe comprou durante a semana também chegaram e deixamos tudo montado.

_ Agora só falta a Olivia. – Digo quando paramos para apreciar tudo pronto. – Acham que quando ela vier morar conosco vai voltar a falar?

_ Não podemos dizer com precisão porque não sabemos a razão emocional por trás do trauma dela. – Mamãe fala indo arrumar um ursinho de pelúcia torto sobre a cama. – Talvez seja pela morte do pai, a falta de presença da mãe ou mesmo o choque da mudança de realidade. – Lista as razões que podem ter sido responsáveis pela falta de fala da pequena e não consigo deixar de pensar em Mia.

_ Mas tenho certeza que com cuidado, carinho e amor ela vai voltar a falar sim. – Papai afirma ainda parado ao meu lado. – E se for como você vai ser uma tagarela. Lembra como o Eric falava pelos cotovelos, amor?

_ Como poderia esquecer. – Ela diz com um largo sorriso. – Ele falava com todo mundo em todos os lugares que íamos. – Sorri ainda mais com a lembrança, mas o sorriso some dando lugar a uma expressão séria. – Será que vamos conseguir produzir boas lembranças assim com ela?

_ Mas é claro, mãe. – Falo a abraçando de lado. – Agora o que vocês acham de irmos comer alguma coisa. – Sugiro.

_ Antes vamos todos tomar um bom banho para limpar toda essa tinta. – Ela diz esfregando meu rosto. – Deve ter mais tinta em vocês do que nas paredes.

_ Não é possível mexer com tintas e não se sujar, mãe. – Respondo deixando o quarto da futura nova integrante da família.

Realmente estou bastante sujo e tenho algum trabalho em limpar toda a tinta espalhada por meu corpo, mas dá tudo certo no final. Como estamos todos cansados pelo trabalho do final de semana o nosso jantar de hoje é um sanduíche natural com suco de morango. Deixamos para cuidar da louça suja amanhã e vamos direto para a cama.

Dormir até que foi fácil já que o dia hoje foi puxado. O complicado foi ter que levantar quando o despertador tocou insistentemente às seis da manhã e tive que sair da cama para me arrumar para ir para a escola. Tomo uma ducha rápida, visto uma calça jeans preta, uma camiseta branca e ponho o meu velho moletom do Star Wars por cima e calço meu tênis branco, que já está ficando meio encardido de tanto que o uso. Passo apenas os dedos nos cabelos os jogando para trás antes de deixar o quarto remexendo a mochila para ter certeza de que está tudo aqui.

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