Minha cabeça dói e meus olhos pesam quando acordo em um quarto com teto branco e paredes azuis claras. O cheiro forte dos produtos de limpeza me fazem lembrar de onde estou e traz a minha mente as imagens das piores horas da minha vida. O peso das lembranças e o quarto me sufocam. Sem que consiga conter as lágrimas inudam meu rosto e me entrego a elas sem resistir. Me abraço enquanto meu corpo estremece com os soluços.
_ Amélia?! - Ergo a cabeça quando ouço uma voz masculina me chamar.
Os cabelos castanhos desgrenhados e os olhos azuis a me mirarem com urgência me atingem em cheio. Não preciso de muito para reconhece-lo. Sei que ele é o meu pai. O homem que está sorrindo ao meu lado na foto que sempre carrego comigo na esperança de senti-lo por perto. O cara que foi embora depois de se divorciar da minha mãe e simplesmente esqueceu que eu existo. Não consigo evitar o pensamento de que se ele não tivesse sumido nada disso teria acontecido. Bill nunca teria entrado em nossas vidas, mamãe estarei viva aqui comigo e, com certeza, seríamos felizes agora. Um sentimento de raiva preenche meu peito quando o assisti caminhar lentamente até onde estou e parar ao lado da minha cama.
_ Filha, está bem? - Pergunta erguendo a mão para tocar meu rosto, mas a abaixa quando me encolho para me desvencilhar do seu toque. - Calma, filha. - Diz apertando de leve minha mão. - Sou eu. Seu pai.
_ Eu sei quem é você. - Digo me afastando do seu toque. - O que está fazendo aqui?
_ Um policial conseguiu me contatar e contou o que aconteceu. - Explica um tanto deslocado. - Como se sente?
_ Como acha que eu me sinto? - As lágrimas voltam a embaçar minha visão quando o pergunto. - Minha mãe está morta, o homem que a matou está a solta, estou machucada e um estranhou acabou de invadir meu quarto dizendo ser o meu pai quando, na verdade, não o vejo ou tenho notícias a mais de dez anos. - As palavras parecem amargar em minha boca enquanto as cuspo sem me importar se o estou magoando.
Ele abre a boca com a intenção de falar algo, mas é interrompido pela chegada do médico e de uma moça que fica ao lado de Logan e que imagino que seja a sua nova esposa. Tem um rápido momento de apresentações entre eles antes que o médico volte sua atenção para mim. Ele me faz perguntas enquanto abre a tala para avaliar melhor minha perna. Respondo a todas suas perguntas ignorando propositalmente a presença de Logan e sua esposa. Eles também perguntam coisas relacionadas ao meu estado ao médico que contesta com simpátia e paciência.
_ Já posso ir embora, doutor? - Questiono quando ele volta a prender a tala em minha perna.
_ Não vejo porque a manter aqui por mais tempo. - Fala ao enfiar as mãos nos bolsos do jaleco. - Seus sinais estão bons e a recuperação da sua perna depende apenas de repouso e algumas sessões de fisioterapia. Cuidados que podem ser feitos em casa.
_ Quanto tempo até ela está completamente recuperada? - Quem pergunta dessa vez é a minha madrasta.
_ É um processo de recuperação um tanto lento que leva de 8 à 10 semanas.
_ Vou poder voltar a jogar bola depois disso? - Questiono mesmo temendo sua resposta. O futebol foi uma das poucas coisas boas que me aconteceram na vida e não consigo me imaginar vivendo sem ele.
_ Claro que vai poder voltar a jogar. - Sorri ao me tranquilizar. - Lógico que vai precisar voltar aos gramados aos poucos. - Pontua e apenas afirmo aliviada por não ter o esporte arrancado da minha vida também. - Bom. Agora vou assinar os papeis para a sua alta e pedir que uma enfermeira venha aqui tirar o seu acesso.
O médico deixa o quarto sendo seguido por Logan, que me deixa sozinha com a minha madrasta. Ela me sorri simpática, mas não fala nada ou se aproxima muito. Com certeza deve estar em choque ao descobrir que seu marido perfeito tem uma filha adolescente do primeiro casamento que abandonou sem pensar duas vezes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segunda Chance
RomanceMia é uma adolescente de 16 anos que sonha fazer sua carreira no futebol e liberar a mãe do relacionamento abusivo com seu padrasto. Porém nem sempre as coisas acontecem como planejamos. Depois de perder a mãe em ato brutal de violência doméstica a...