Capítulo 2

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                                                                         Guilhermo Rodriguez

São 5 da manhã e eu ainda não dormi, graças à minha acompanhante da noite anterior. Conheço Alexa há algumas semanas, e preciso admitir: ela é ótima no que faz.

— Alexa, acorda. Já está na hora de você ir — disse, tentando despertá-la de maneira suave.

— Ah, não... já? Vamos mais uma vez, prometo que não vai se arrepender — ela sugeriu com aquele olhar provocante que sempre tenta me convencer.

— Não posso. Tenho um dia e tanto pela frente — desconversei, desviando o olhar.

— Tudo bem, fica para a próxima, então — ela aceitou, finalmente, a derrota.

Ela entende que o que temos não envolve sentimentos. E ainda bem que aceita isso numa boa. Ela me usa para saciar seus desejos, e eu a uso para me desligar dos problemas de ser o CEO de uma das maiores empresas do mercado.

Hoje vai ser um dia daqueles. A SG abriu novas vagas, e agora terei que passar pelo processo exaustivo de entrevistas para encontrar o candidato ideal. Desde que cheguei ao Brasil, tive que aprender muito. Além de comandar a empresa, tive que me adaptar ao idioma. Mesmo com o português básico que estudei antes de vir, só para saber pedir um café, acompanhar os brasileiros e seus bordões não é fácil.

Sair de Nova York foi complicado. Deixar para trás minha vida, meus amigos, até a maluca da Hayley, minha melhor amiga... Mas, ao mesmo tempo, foi libertador. A vida longe da velha rotina tem suas vantagens.

Olhei para o celular. Já são quase 6 da manhã. Hora de me arrumar — a SG não vai se manter sozinha.

Fui para o banheiro, tomei um banho rápido e fiz minha higiene matinal. No closet, depois de avaliar entre vários tons de preto, optei por uma calça social, uma camisa creme e o terno de milhões que adoro usar. Calcei meus tênis e desci para comer algo antes de sair.

Nena, minha empregada, já estava na cozinha preparando o café da manhã.

— Bom dia, Nena! — cumprimentei ao entrar no cômodo.

— Bom dia, patrão. Imaginei que você precisaria recuperar as energias depois da noite que teve — ela respondeu, enquanto finalizava de arrumar a mesa.

Adoro o ritual do café da manhã, o silêncio antes do caos diário da empresa. Após terminar de comer, me despedi de Nena e fui para a garagem pegar o carro.

O trânsito do Rio já me atacou os nervos logo de cara. Eu odeio o trânsito daqui.

Estacionei em frente à SG e, assim que entrei, vi uma fila de candidatos se formando. Ana, minha recepcionista, me olhou tentando decifrar minha expressão, que provavelmente mostrava todo o horror diante do que me esperava.

— Bom dia, Ana. Dia longo, né? — perguntei, indo direto para a minha sala.

— Muito longo, chefe — ela respondeu com um sorriso cúmplice.

— Me dá alguns minutos antes de mandar o primeiro candidato. Preciso me preparar — pedi.

— Certo, chefinho. Vou levar o tempo que preciso para preencher as fichas dos candidatos. Assim que estiver tudo pronto, chamo o primeiro, combinado? — respondeu com a habitual eficiência.

— Você sabe o quanto sou grato por ter você na recepção, não sabe? — brinquei, deixando um beijo rápido em sua bochecha.

Depois de entrevistar mais de dez candidatos, finalmente chegou o último. Nas fichas que Ana trouxe, vi que era uma jovem, quase uma menina. Parecia ter acabado de sair do ensino médio. Não era exatamente o que eu esperava para a SG, mas ela não perderia seu tempo.

Chamei Ana pelo interfone e pedi para que a jovem entrasse.

Ouvi duas batidas na porta.

— Pode entrar — disse, tentando manter a voz neutra.

— Boa tarde, senhor. Meu nome é Maya Nascimento e sou uma das candidatas para a vaga. Estou determinada a contribuir para o crescimento da empresa e ajudar a alcançar bons resultados. Aqui está meu currículo e os documentos necessários — disse ela, entregando uma pasta simples, mas organizada.

— Por que você quer essa vaga? Vi na sua ficha que está cursando psicologia, e esse emprego vai exigir muito de você — perguntei, curioso.

— Para ser sincera, estou disposta a fazer o que for preciso. Minha família está passando por dificuldades e, depois de tudo o que minha mãe fez por mim e meus irmãos, acho que é minha vez de retribuir — respondeu com uma sinceridade que me chamou a atenção.

Olhei para o currículo dela novamente. Era simples, sem muita experiência, mas sua determinação e honestidade contavam mais do que qualquer item no papel.

— Seu currículo é um pouco vago, mas isso não te desqualifica. Pelo que li, esse seria seu primeiro emprego com carteira assinada, certo? — perguntei, num tom mais sério.

— Sim, senhor. As oportunidades aqui no Brasil são escassas, principalmente para quem acabou de sair do ensino médio. Acredito que isso seja justificável — respondeu, um pouco insegura com meu comentário.

— Muito bem, senhorita Maya. Entraremos em contato caso seja necessário. Espero que tenha gostado de conhecer a empresa — finalizei, tentando não transparecer o fato de que, por mim, ela já estaria contratada.

— Ah, sim... gostei muito. Obrigada. Tchau — ela respondeu, com um leve vacilo na voz, como se tivesse se abalado com o que eu disse. Não era minha intenção desanimá-la, mas agora não havia mais o que fazer.

Depois de resolver todas as pendências da SG, enfrentei um trânsito caótico e, finalmente, cheguei em casa. O dia foi tão cheio quanto imaginei.

Tomei um banho, vesti meu pijama de "não vou receber ninguém hoje" e preparei algo rápido para jantar. Depois de lavar a louça, fui para o quarto, coloquei Brooklyn Nine-Nine na Netflix para desligar do dia. Não me lembro em que momento, mas acabei apagando completamente.

A GAROTA DO CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora