Capítulo 19

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                   Maya

Ana entrou na sala assim que Guilhermo e eu nos desgrudamos, ela caminhou até nós dois, nos deu uma longa olhada que me deixou completamente desconfortável.

Guilhermo notou meu incômodo e decidiu parar a vistoria de Ana.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou.

— Nada demais, só que os outros rapazes passaram pela recepção e pelo horário, nosso expediente acabou e você ainda não tinha saído, achei que estivesse com problemas, mas aí, passei pela sala de Maya e notei que as coisas dela ainda estavam lá, fiquei curiosa e vim verificar, só isso chefinho — Ana respondeu.

— Estávamos apenas falando sobre a reunião, fiquei empolgada e o Guilhermo estava me falando mais sobre o assunto e os tipos diferentes de mercado com os quais lidamos — tentei desconversar, mas acredito que não fui convincente.

— Hmm, sei — Ana disse me dando um sorriso malicioso.

Comecei a me questionar o quanto ela conhece Guilhermo ou se ela tem tanta certeza de que não estávamos apenas em uma conversa porque o Guilhermo costuma se agarrar com todas as funcionárias e isso se tornou comum.

Não quero pensar na possibilidade, pois me conheço e sei o quanto doeria saber que fui mais uma atraída para o abatedouro do lobo.

Guilhermo me lançou um olhar que dizia que ele claramente sabia o que eu estava pensando e pude notar o desconforto nos olhos dele, como se ele estivesse pedindo internamente para que eu não pensasse mal das intenções dele, mas como não poderia? ele enfiou a mão dentro da minha calça antes mesmo de me beijar ou começarmos a falar sobre esse tipo de coisa.

Tenho total consciência de que eu quis e participei tanto quanto ele, mas meus pensamentos estavam voando soltos, eu não estava conseguindo ignorar a sensação de me sentir usada.

— Já estamos de saída, vamos Maya? — Guilhermo disse.

Olhei para ele confusa esperando-o falar, pois ele não precisa de mim para se retirar e voltar para casa dele, não sei por que ele falou o "estamos" como se me incluísse.

— Estamos? — retruquei a pergunta.

— Sim, estamos! Irei te levar para casa, quer você queira ou não — falou.

— Não precisa, você já tem gastado muita gasolina me levando nos dias anteriores — eu disse.

— Você sabe que isso não é nada para mim Maya, você sabe que não me importo em te levar — Guilhermo murmurou e algo na postura dele me disse que eu não escaparia tão fácil disso.

— Está bom — disse soltando um resmungo.

Fui até a minha sala pegar minhas coisas, quando já estava com tudo, caminhei até a sala dele para esperá-lo.

— Eu sei o que você pensou — ele disse ao me ver chegar.

— E é? E o que eu pensei — perguntei usando tom de desafio.

— Você passou a se perguntar com quantas outras garotas eu fiz o que fizemos mais cedo — murmurou.

— Talvez — eu disse dando de ombros.

— Você foi a única, aliás, você é a única pessoa que trabalha comigo e conseguiu chamar a minha atenção o suficiente para que eu pudesse tentar me aproximar, nunca me envolvi com funcionárias Maya, você tem me dado bastante primeiras vezes — falou se aproximando mais e deixando os lábios há poucos centímetros do meu.

Aposto que ele ouviu minha respiração ofegar e a forma com que os batimentos do meu coração passaram a bater absurdamente mais rápido.

— Eu não faço ideia do que esperar de você - confessei.

— É compreensível, mas eu assumo o desafio de te mostrar o quão bom posso ser, mas, por enquanto deixe-me apenas te levar até a sua casa — ele disse.

— Ok, mas antes preciso passar em uma loja de conveniência, certo? — perguntei.

— Certo, Maya — murmurou.

Descemos os elevadores que levam até o estacionamento interno da SG, pelo jeito que está tudo tão quieto, somos os últimos a sair.

Chegamos até o carro de Guilhermo, ele abriu a porta para mim e logo depois foi para o banco dele. O sol está se pondo e é impossível não babar o laranja extremamente lindo que ele está esbanjando hoje.

Guilhermo parou em uma loja que não fica muito longe da empresa, desci e entrei. Fui direto para a prateleira em que ficam as xícaras cafonas, esse final de semana é aniversário de mamãe e ela adora essas xícaras.

Peguei várias delas porque estamos precisando, os gêmeos são craques em quebrar coisas de vidros, xícaras e pratos nunca conseguem escapar deles.

Pedi ao rapaz do caixa para pôr todas juntas, menos a de mamãe, pois pedi que ele a embrulhasse com papel presente.

Voltei para o carro, Guilhermo analisou minhas compras e pude sentir a curiosidade emanando dele, então resolvi fazer-lhe somente este favor, para que ele não fique mal-acostumado.

— São xícaras — falei sentando-me no banco de passageiro.

— Interessante, então você é uma louca obcecada por xícaras ou três ladrões invadiram seu estoque? — perguntou.

— Tenho irmãos pequenos, eles são gêmeos e juntos põem fogo na casa se deixarmos eles sem supervisão. Quebram tudo que é de vidro, então aproveitei que teria que comprar uma de presente de aniversário para minha mãe e comprei um novo estoque — respondi dando de ombros.

Guilhermo estava prestes a falar algo, mas o celular dele começou a tocar, ele tentou ignorar, mas quem quer que fosse, precisa falar com ele com urgência.

Ele atendeu e pela cara que fez, aposto que não é boa notícia.

— Maya, mudaremos de rota, preciso ir ao hospital, certo? se você preferir, peço um Uber, mas gostaria que você não preferisse porque estamos ou estávamos há poucos minutos atrás em uma boa sintonia e eu tenho medo de quanto tempo precisaria esperar para termos algo assim novamente — ele disse quase como súplica.

— Tudo bem, irei junto — falei.

Guilhermo desviou do caminho que estávamos percorrendo, ele estava dirigindo muito rápido o que nos ajudou chegar depressa no hospital.

Entramos e ele foi correndo para a recepção, em busca de informações sobre a pessoa que estava precisando de socorros médicos agora.

— Droga moça, será que por favor poderia me dizer qual o quadro dela? se ela está bem? se é grave?! — Guilhermo exclamou alterado.

— Calma, senhor. Mantenha a calma, pois gritaria e estresse não vai fazer com que ela melhore. Já estamos fazendo o necessário, tudo que você pode fazer por ela é esperar e rezar para que ela fique bem — a enfermeira falou.

Guilhermo se afastou da recepção e veio até onde eu estava sentada esperando por ele.

— Quem está aqui, é muito importante para você? — perguntei.

— Demais, é a Nena. Ela trabalha com a minha família há anos, não lembro de uma época sem ela na minha vida, é praticamente minha mãe — murmurou e pude ver uma lagrima solitária escorrendo pelo rosto dele.

Qual a probabilidade desse homem com marra de cafajeste, acabar sendo além do que costuma mostrar para pessoas?

Me aproximei mais de Guilhermo e dei-lhe o abraço mais caloroso e acolhedor que eu poderia dar. 

A GAROTA DO CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora