Capítulo 17.

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— Parabéns, você está...

— Grávida?! — dissemos juntos, nos entreolhamos e o meu coração parou por tempo indeterminado.

— Não, não pode ser! — disse, assustada. — Faz apenas uma semana, eu acho, da última ida ao ginecologista e ele deixou bem claro que eu havia sofrido um aborto.

— Querida, está aqui o saco gestacional, e nos exames constam perfeitamente a quantidade de hormônios em seu sangue. — a médica explicou, passando mais um pouco de gel gelado em minha barriga.

— Então por quê? Porque o outro médico falou que ela perdeu o bebê, por que o sangramento? — eu estava desesperada e o meu noivo estava mais perdido do que eu, não sabia o que estava sentindo, eu só conseguia suar pelas mãos e imaginar o que seria de mim agora, logo agora que eu ia tentar voltar a estudar, trabalhar, escrever.

— Disfunção hormonal, os remédios. Não consigo ser tão exata, a medicina às vezes é assim. — ela riu, deslizou o aparelho pela minha pele, enquanto eu segurava firme a bata que haviam me dado para vestir. — Precisamos de mais alguns exames, mas... está aqui!

— O quê? — perguntei, arregalando os olhos e receosa que ela tivesse encontrado alguma anomalia dentro de mim ou no feto, tudo estava ocorrendo rápido, acontecendo tanta coisa em tanto tempo que eu não conseguia me acostumar com a ideia de que eu não era mais a universitária pobre que dividia o apê com a amiga, minha barriga embrulhava e eu me sentia perdida, angustiada, com medo dessa rapidez da vida.

— Outro saco gestacional, são gêmeos. — rapidamente olhei para Artur, que desabotoava os poucos botões, dois para ser mais específica, da camisa gola polo, ele passou a mão pela testa onde o suor descia e deslizou pela sala na cadeira de rodinhas de acompanhante, sorri como efeito do nervosismo.

Que legal, gêmeos! Eu não esperava por nenhum bebê e agora tenho dois.

— Uma gravidez gemelar, talvez tenham sido três e por serem tão pequeninos o outro médico não encontrou os outros dois que ficaram. — explicou, ainda mexendo em minha barriga e eu olhei para aquela tela borrada na qual eu não entendia nada. — Você tem histórico na família?

— Eu. Eu e o meu irmão somos gêmeos. — engoli seco, me acomodei na cama e a médica me encarou.

— Gravidez de risco, máximo repouso, sem estresses e vai ficar tudo bem. — recomendou, limpou o gel da minha barriga com um papel e levantou-se indo em direção a sua mesa. — Os sangramentos são por conta dos hormônios aflorados, qualquer situação chata pode ocorrer, como são dois os cuidados têm que ser dobrados, e por conta da medicação precisamos ficar de olho neles.

Me levantei, comecei a vestir a minha roupa e Artur permaneceu calado e pensativo, queria ao menos que ele desse uma palavra de apoio e se mostrasse interessado na frente da médica, mas além de preocupado, acho que ele ainda estava bem chateado.

— Então, eles correm algum risco de doenças por conta da medicação que eu estava tomando? — perguntei, me aproximando da mesa da médica e não tendo paciência nem para ficar sentada.

— Muito cedo para te dizer, minha linda, mas vamos acompanhá-los direitinho. — falou, me entregando alguns papéis. — Terá que fazer esses exames, nos vemos próxima semana, pode ser?

— Tudo bem. — disse, com um sorriso entristecido no rosto, ela levantou-se e caminhou na minha direção, segurou meus ombros e sorriu.

— Às vezes as coisas não planejadas são as que dão mais certo em nossa vida. Não se preocupe, eles vão ficar bem e você também. — falou, e por um segundo me senti acolhida e um por cento mais confiante. — E papai! Nada de estressar a mamãe, tá bom?

Meu Amado VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora