3. Escola

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– DIA 3.231 – 2/2 –

A minivan para em frente a um portão branco com a tinta descascada, bem largo e alto. Olho pelo para brisa e pelas janelas o máximo de informação possível. A escola tem muros de três metros de altura, com a tinta azul clara descascada e esse portão devia servir para a entrada de coisas de grande porte através de caminhões. Até onde meus olhos enxergam, a rua está desobstruída, com eventuais carros abandonados nos acostamentos da rua. As casas e lojas da rua estão com os vidros das janelas e vitrines estilhaçadas, espalhando cacos de vidro pelas calçadas.

Marcelo abre a porta do motorista e sai, acenando com a mão acima da cabeça e entra novamente no carro. Tento ver alguma pessoa, mas não vejo nem uma alma viva. Mesmo assim, o portão de metal abre as portas e Marcelo entra com um carro.

O que vejo é a lateral da escola, com seus três andares e cheio de janelas grandes de vidro. As paredes são intercaladas com as cores azuis e brancas, mas como já era de se esperar, a tinta está desbotada pelo tempo. Próxima a parede da escola tem uma pequena calçada, mas por uma distância de seis metros entre a calçada e o muro apresenta uma grama aparada em um tom amarelado, causado pela falta de chuva.

Mas as coisas que mais chamam minha atenção são os cinco homens armados entre pistolas e fuzis que se aproximam da minivan. Sinto meu sangue gelar por baixo da pele quente e engulo em seco.

– Esperem aqui. – pede Marcelo saindo do carro e indo falar com um cara careca que carrega um fuzil no ombro.

– Yorick... – Sarah chama minha atenção ao meu lado. – Eu não sei nada sobre o seu passado, mas... sinto que você não é problema. Mas se você fez algo que possa prejudicar a sua permanência aqui, omita se te perguntarem. Mas não finja que nunca fez nada de errado. Se você tentar se passar por uma pessoa quase santificada, eles saberão que está mentindo e ficarão de olho em você. Mais que do já vão ficar por ter acabado de chegar.

– Procurar um meio termo. – falo. – Um equilíbrio.

– Isso. – diz a garota me lançando um sorriso tranquilizador. – Exatamente isso.

Um minuto depois Marcelo faz um sinal para irmos até eles. Saio do carro sendo seguido por Sarah e Nigreos que fecha a porta atrás de si. Vou até onde fui chamado e sou observado dos pés à cabeça pelo homem careca que termina encarando meus olhos de forma dura.

– Orlando, esse é Yorick. – apresenta Marcelo ao careca. – Yorick, esse é Orlando. O segundo homem no comando daqui.

Orlando é um homem dez centímetros mais alto que os meus um metro e oitenta centímetros. Não tem um fio de cabelo na cabeça e isso permite ser visível uma cicatriz profunda e longa na lateral dela. Tem um cavanhaque espetado castanho, assim como suas grossas sobrancelhas. Seus braços e tronco são cheios de músculos e possui muitas tatuagens de todos os tamanhos e cores. Usa pesadas botinas nos pés e calças camufladas, estilo militar, e não usa camisa. Ele não parece ter credibilidade para ser o segundo no comando em um lugar como esse, mas transmite medo, o que já é suficiente. Orlando me cumprimenta com um aceno de cabeça e retribuo o gesto.

– Como fez essa cicatriz, garoto? – pergunta ele olhando meu rosto, sem rodeios.

– Um amigo meu fez isso há muitos anos. – respondo.

– Amigo? – ele dá uma risada e os outros homens o acompanham. – E onde está esse seu "amigo"? – ele faz aspas com os dedos grossos.

– Ele... – olho para Sarah com o canto de olho. – Morreu!

– E você quem fez o serviço?

Olho novamente para Sarah e tento pensar no que dizer. Ela me orientou a tomar cuidado com o que falo, dosando as coisas. Mas como ela mesma disse, Sarah não me conhece. Não sou santo, mas também nenhum demônio. Sou dosado por completo, então não vejo motivos para esconder algo desses homens.

Yorick: IntroduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora