20. Déjà-vu

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Capítulo final deste volume. Boa leitura. *u*

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– DIA 3.285 –

– Olha Yorick. – Sarah aponta para a nossa frente na estrada. – Foi ali que nós te trouxemos naquele dia em que nos conhecemos.

Estico o pescoço e identifico a ponte onde Marcelo e Sarah me levaram depois que os ajudei (ou pensei ter ajudado) na primeira vez que nos vimos. Como agradecimento eles me levaram até esse córrego por onde a ponte passa, para que eu abastecesse minhas garrafas.

Parece que foi a uma vida atrás que isso aconteceu, mas fazem apenas dois meses. Nesse tempo eu reencontrei Marciano e o matei. Reencontrei Benjamin e estamos namorando. Fiz dois bons amigos. Matei pessoas que eu tinha nada contra. Perdi parte de um braço. Não sou mais virgem. Nesse tempo aconteceram coisas boas e ruins, em um equilíbrio perfeito de acontecimentos.

Saímos ontem à tarde da casa de dois andares, onde acampamos na cozinha. Eu quis muito repetir a dose de sexo com Benjamin, mas não tivemos mais oportunidades.

Eu até gostaria de pedir para Marcelo nos dar privacidade, assim como combinamos dias atrás, mas fiquei com vergonha de pedir isso e não sei se meu namorado estaria afim e nem sei como dar iniciativas sexuais em Benjamin. Ainda preciso quebrar a barreira da vergonha quando se trata do meu parceiro.

Seguimos pela estrada em linha reta, lado a lado uns aos outros. Na ordem: eu, Benjamin, Sarah e Marcelo, com Nigreos na frente, como se nos guiasse.

Olho para meu casaco moletom que visto e vejo a manga esquerda, onde pedi para Benjamin cortar o tecido cinco centímetros abaixo do coto. Aquela manga pendurada no braço já estava me dando nos nervos.

Olho para Benjamin e quase consigo ver seu corpo nu debaixo de sua roupa. O contorno de seus braços sobre a jaqueta de couro, suas pernas e a ondulação de suas nádegas no jeans logo abaixo da sua mochila. Ele me olha e abre um largo sorriso, o qual retribuo. Ele vem até mim e passa o braço ao redor dos meus ombros, em um abraço de lado enquanto caminhamos pelo asfalto. Estica o pescoço, aproxima a boca do meu ouvido e cochicha.

– Animado?

– Com o que?

Ele baixa o olhar e eu o sigo. Mais uma vez estou de barraca armada, nem tanto quanto poderia estar, mas no moletom cinza qualquer coisa é muito. Eu bufo e ele ri da minha cara.

Tiro a mochila das costas e faço-o a segurar para mim, tiro casaco moletom e ele me ajuda a repor a mochila. Então eu amarro o casaco na minha cintura com um nó, onde as mangas cobrem a minha meia ereção. Aprendi esse truque desde que comecei a usar calças moletons e viver em grupo.

Chegamos até a ponte e paramos em cima dela para ver a água negra correndo logo abaixo com um volume maior e com mais velocidade que dois meses atrás. O riacho faz um som tranquilo de água correndo, as árvores altas e robustas preenchem ambos os lados das margens, assim como outras formas de vegetação. O cascalho que antes ficava à beira do córrego, desapareceu debaixo da água, que subiu o ocultando e levando consigo uma ossada humana que vi da outra vez. Outra coisa que mudou é ocalor daquele dia que era alto e agora a temperatura não parece estar acima dos vinte graus.

Nós passamos a ponte e descemos pela lateral, em um barranco, e fomos até a margem do córrego encher nossas garrafas com água, o que fizemos e as devolvemos para as mochilas jogadas ao chão.

– Quanto tempo mais de caminhada, Yorick? – pergunta Sarah. – Até a cidade que você conhece?

– Tinha pedalado por três dias até o ponto em que encontrei vocês na minivan, então talvez em quatro ou cinco dias cheguemos lá a pé.

Yorick: IntroduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora