– DIA 3.248 –
Me deixo cair sentado no chão, começo a tossir e a esfregar meu pescoço dolorido. Nigreos caminha até mim, apoia as patas dianteiras na minha perna e tenta cheirar meu rosto como se tentasse se certificar que estou bem. Gostaria de retribuir seu cuidado e atenção, pois ele merece mais do que ninguém, mas é difícil me concentrar em outra coisa além de do ar em meus pulmões.
– Você está bem? – pergunta Benjamin se ajoelhando ao meu lado e esfrega minhas costas.
– Não. – respondo com a voz rouca e tusso em seguida. – Mas vou... ficar.
– Ai meu Deus Yorick! Você está sangrando. Tira a camisa, vou cuidar disso.
Ele me ajuda a tirar a camiseta e encaro o corte que a adaga me fez no peito, próximo a axila esquerda. Não deve ter mais que cinco centímetros de comprimento e é um corte fino, mas profunda e o sangue escorre de forma lenta e constante.
– Atravessou. – ele constata o que já imaginava. – Não é muito grande, mas acho melhor fazer alguns pontos para parar de sangrar.
– É uma boa... ideia. Tem agulha e... linha?
– Tenho um caixa de primeiros socorros. Então sim, eu tenho.
Benjamin tira a mochila das costas, vasculha nela e tira um pequeno baú vermelho com a alça branca. Segura sua lanterna no pescoço, pega um isqueiro e esteriliza a agulha e põe a linha.
– Isso vai doer. – ele avisa. – Um pouco de álcool não faria nenhum mal para você agora.
Coloco a minha camiseta na boca e a mordo para não gritar e piorar a dor na garganta. Dói como o Diabo ele lavar com água e costurar os dois lados da ferida, mas aguento firme, apesar de quase chorar de felicidade quando ele termina. Benjamin também lava e enfaixa minha mão direita que segurou a lâmina da adaga, limpa o sangue do meu rosto e faz um curativo no ferimento da testa.
– A briga foi boa. – ele comenta.
– Na verdade... foi melhor que imaginei.
– Melhor? Você esperava ser morto?
– Eu estou mais cansado que machucado, na verdade.
– Você quase morreu.
– Mas não tive... nenhum dano permanente. – sorri e olhei o corpo de Marciano com uma poça de sangue ao redor do pescoço. – Estou melhor que ele.
– Pelo que percebi quando cheguei, as coisas não estavam tão favoráveis para seu lado. – ele vai até minha mochila que está jogada no chão próxima a porta, onde ele deve tê-la jogado quando chegou.
– Por falar nisso... o que faz aqui? Falei para me esperar no seu quarto.
– Não consegui esperar sentado sabendo que você estava enfrentando esse homem. Bom, eu até esperei, mas a espera estava me matando. Fiquei preocupado. – ele tira da mochila uma camiseta vermelha e vem até mim novamente.
– Que bom que trouxe o Nigreos. Ele foi... mais útil que você! – brinco.
– Ei! – Benjamin ri. – Olha que ele fez com aquela cotovelada... – ele aponta o próprio rosto e vejo uma mancha vermelha arroxeada na sua bochecha direita, um machucado a mais nos que ele já carrega. – Eu vi estrelas!
– Você está bem? – pergunto e toco seu rosto, passando o polegar suavemente próximo ao novo hematoma.
– Vou ficar. – ele sorri e me ajuda a vestir a camiseta.
Eu me ponho em pé e fico feliz por estar inteiro. O ferimento próximo à axila dói bastante, os cortes na mão doem quando mexo os dedos, o corte no lábio inferior incomoda e a garganta arde quando falo, mas todas as dores são suportáveis. O ferimento mais grave é o da mão, onde os tendões poderiam ter sido cortados, mas felizmente consigo flexionar os dedos, sinal de que está tudo bem. Olho no meu relógio do pulso esquerdo e vejo que agora são meia noite e vinte minutos.
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Yorick: Introdução
Science FictionYorick passou os últimos 8 anos vivendo sozinho em uma cabana isolada em meio a mata, sobrevivendo com pequenas criações de animais e com aquilo que planta em sua horta. O único ser vivo com quem ele conversou nesse tempo todo foi com o seu melhor e...