9. Revelações

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– DIA 3.247 - 1/2 –

Saio do quarto assim que o dia surge, levo Nigreos para fazer suas necessidades na rua e o deixo novamente no quarto. Geralmente tomo meu banho no final da tarde, mas essa noite foi tão quente e abafada que suei igual um leitão indo para o abate. Então pego uma muda de roupas limpas e sigo para o vestiário.

Passo por duas mulheres andando de mãos dadas aos risos. Cruzo por um senhor de idade sem camisa, sem se importar em exibir sua barriga protuberante e seus abundantes pelos grisalhos. Vejo um casal brigando aos gritos pelo corredor, onde concluo que a causa da discussão é que ele comeu sozinho a última lata de comida que ambos tinham. Passo por um homem com uma barba comprida, um tapa-olho no rosto e vestindo uma roupa quente de mais para o clima.

Assim que entro no vestiário reencontro Marcelo já sem camisa, exibindo seu peito negro esculpido em músculos e retirando sua bermuda. Vejo também um homem branco, alto e musculoso terminando de se secar em uma toalha velha e manchada.

Arrisco dizer que depois do tempo que passo com Benjamin, o melhor momento do meu dia é esse: o banho. Mas como é de praxe, observo apenas o suficiente para grudar na memória, mas não encaro seus corpos nus por muito tempo para não ser inconveniente ou zoado por ficar excitado.

– Fala Marcelo.

– Fala Fernando. Vai para o Mercado hoje?

– Acho que vou mais tarde.

– Vai ficar com aquele cara?

– É, vou sim. – falo sem jeito, preparado para a zoação.

– Nesse ritmo vai acabar assando o furico do moleque.

Não aguento e caio na risada junto com Marcelo, o que serve como confirmação de sua teoria, o incentivando a fazer mais comentários maldosos. Ele entra no chuveiro, eu tiro minha roupa e vou para o box ao lado do dele e o outro homem presente termina de se secar, se veste e sai do vestiário.

– Você parece estar se adaptando bem aqui na Escola. – comenta Marcelo enquanto tomamos banho frio, separados pela parede.

– Na medida do possível. Esse lugar tem muitas coisas que não me agradam.

– A mim e a Sarah também. Às vezes a gente tem vontade de dar o fora daqui, sabe?.

– Sério? Pensei que vocês eram os melhores desse lugar. Melhores em vários sentidos.

– Nós nos damos bem, mas não significa que gostamos desse lugar.

– E porque não dão o fora? Até perceberem que vocês não vão voltar, já era!

– É que... Deixa pra lá!

– Fala logo, cara. O que acontece no vestiário fica no vestiário.

– Isso é uma proposta? Porque se for, saiba que eu sou um homem comprometido. Mas se fizer uma coisinha em especial que eu gosto e você estiver disposto a isso, eu abro uma exceção na minha relação e na heterossexualidade.

– Deixa a Sarah saber disso. – falo rindo.

– Ela sabe dessa minha obsessão secreta, mas ela não curte muito. É desconfortável para ela.

– Cara, para de falar asneiras. – caio na risada. – Tô começando a imaginar e não quero isso.

– Para ilustrar melhor sua imaginação, não estou falando de lá atrás. Eu me amarro em uma garganta profunda, mas o problema é que não sou muito romântico nessa hora.

– Gente do céu. Minha mente tá pegando fogo e não é no bom sentido.

Nós rimos juntos e gosto disso. Eu nunca estive em uma conversa entre homens falando besteiras do universo masculino. Sinto-me como um homem adulto jogando conversa fora e é isso mesmo que está acontecendo.

Yorick: IntroduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora