𝐅𝐀𝐊𝐄 𝐋𝐎𝐕𝐄, jiara.

𝟬16 | Narração

DEPOIS QUE JJ havia mostrado suas composições e arranjos que tinha em seu caderno de ideias, Kiara tirou um pedaço papel dobrado de sua bolsa.

── Aqui ── disse ela, entregando-o para JJ que pegou, desdobrando-o, meio confuso. ── É um refrão que escrevi há um tempo atrás. Os versos são românticos e meio tristes, o tipo de coisa que deve ter em qualquer música descente de romance. O tipo de coisa que Jacob e Michael esperam e exigem.

Maybrank segurou com as duas mãos, ajeitando-se no assento e lambendo os lábios. Estava curioso, muito curioso. Nunca tinha se dado o trabalho de ouvir nada autoral de Kiara, nunca mesmo. Tinha se recusado a ouvir o primeiro single e se recusou ainda mais a ouvir o álbum da cantora, mesmo com todos falando. Por isso que, quando começou a ler cada sílaba escrita, ficou sem palavras.

Era algo romântico, de fato, e intenso. Era algo que JJ gostaria de ter escrito, mas nunca se permitiu ir muito além de sua zona de conforto o suficiente para escrever daquele jeito. Era arte. Para a sua surpresa, não era melosa como a maioria das músicas românticas que tem por aí. Ela era trágica. E, estranhamente, combinava com Kiara e com JJ.

── Porra, ── ele não conseguiu de controlar, estava maravilhado demais para se lembrar que havia prometido a si mesmo bons modos na frente de Kiara e 100% de postura profissional ── isso é bom pra caralho.

Sentia-se estranho ao admitir isso, mesmo assim, JJ Maybrank podia ser muitas coisas, mas sempre era sincero, quando notava algo e sentia algo tendia a dizer abertamente e não esconder.

Kiara odiou ter gostado tanto da expressão do loiro enquanto lia o que estava escrito. E odiou ainda mais ter gostado da frase elogiando sua arte recheada de palavrões. E odiou ainda mais por ter gostado da boca suja de Maybrank.

Ela tentou não sorrir, mas acabou cedendo. Afinal, o homem também cedeu ao fazer o elogio, certo? Era justo fazer o mesmo.

Kiara olhava para JJ quando o próprio finalmente tirou os olhos da letra da mulher e olhou para ela. Eletricidade. Foi isso que ambos sentiram. Uma corrente enquanto sorriam e se olhavam. Algo perigoso e magnético, talvez. Carrera sentiu-se arrepiar um pouco pela intensidade do azul dos olhos dele e Maybrank se deliciou com os olhos castanho como a terra da outra. O loiro gostou do fato de que Kiara não estava tentando ser durona naquele momento, parecia que ela tinha abaixado sua guarsa por alguns segundos. Era estranho, mas ele não queria parar de olhar para seus olhos enquanto ela estava assim.

Kiara, por outro lado, não compartilhava o mesmo sentimentos já que decidiu desviar o olhar e coçar a garganta, ajeitando a postura e a expressão, se mantendo séria. E JJ soube que era a hora dele também se recompor.

── Então, vamos usar esse refrão ── Kiara falou, como uma ordem, pegando o papel da mão de Maybrank

── Hm, não tão rápido ── rebateu ele, pegando o papel novamente e deixando a outra com raiva.

── Como assim? ── rangiu os dentes.

── Temos que ver se combina com a nossa voz e com um dos arranjos de violão que tenho no meu caderno ── constatou e, por mais que odiasse, Kiara sabia que ele tinha razão.

── Ok, então... ── deu os ombros, esperando que ele desse alguma sugestão de como fariam isso.

── Acho que esse verso combina com esse arranjo aqui ── ele pegou seu caderninho novamente e se viu abaixando do lado de Kiara, estava de joelhos para que ela visse o conteúdo que carregava em mãos. Ele colocou na página correspondendo a um arranjo bem lento, talvez o mais lento que ele já compôs.