𝐅𝐀𝐊𝐄 𝐋𝐎𝐕𝐄, jiara.

𝟬23| narração

KIARA NÃO SABIA o que havia acontecido. Com certeza, havia perdido completamente a razão, a sanidade e toda a sua consciência. Não sabia porquê a proximidade de JJ havia a deixado tão afetada, nem sabia porquê o fato de JJ brincar de quase beijá-la estava a irritando. E, principalmente, não sabia o porquê de ter pedido para que JJ a beijasse.

Muito menos sabia o motivo de ter gostado tanto disso.

No momento em que o loiro juntou seus lábios, como ela havia pedido, Kiara sabia que estava perdida. Que havia passado de um limite seguro. E sabia que não havia volta a partir de então. E, para ser sincera, naquele momento, Carrera pouco se importava.

Deliciava-se com o beijo lento e violento que havia começando com um selinho meio sem jeito — mas logo os dois trataram de melhorá-lo. 

As mãos de JJ faziam carinho no rosto de Kiara, o que a fez aprofundar um pouco mais o beijo. O que fez as mãos de Maybrank ficarem um pouco mais bobas: descendo até a bunda de Kiara, parecendo mais do que confortável bem ali. Carrera não reclamou, pelo contrário, apenas afundou suas mãos no cabelo do homem; algo qhe secretamente queria fazer a muito tempo, os bagunçando.

Eles se afastaram, porque o ar ainda era necessário. Ofegantes e desnorteados, juntaram suas testas. Kiara se recusava pensar muito sobre o assunto — sobre o que havia acabado de acontecer — e o fato de que em seu organismo havia uma quantidade considerável de álcool apenas ajudava ainda mais nessa função.

JJ era o mais afetado. Estava atordoado. Tudo cheirava a Kiara Carrera. Desde que se conheceram, ela sempre teve o mesmo perfume. Perfume esse que apenas ela tinha. Um cheiro agridoce que havia a cabeça de JJ ferver e apenas pensar na cacheada que o irritava profundamente. Mas aquilo era diferente. O cheiro de Kiara estava quase palpável. O cheiro de Kiara estava nele também. E isso o fazia mais do que satisfeito: quase um homem completamente feliz. Sabia que havia conquistado algo ali hoje. Sabia que havia gostado de cada segundo do momento nada profissional — ou muito profissional, se pensar no contrato que assinaram — um pouco mais do que ele pensava que gostaria.

E, bem, levantando o olhar dos lábios dela até seus olhos. Olhos esses que estavam meio distantes, mas o encaravam... Bem, ele meio que soube.

Ele soube que...

Alguém tentou abrir a porta.

── JJ? Kiara? Estão aí? ── uma voz abafada dizia do outro lado da porta.

Droga, merda, puta que pariu.

Pânico era o que Kiara sentia, rapidamente pulou para longe de JJ, quase que parando do outro lado do quarto.

── Quem é? ── JJ perguntou querendo saber quem era o infeliz de estragar sua felicidade. Merda, ele literalmente estava com Kiara nas mãos.

── Pope ── disse ele. ── Abre logo essa porra, porra.

── Já vai, madame ── JJ queria fingir não estar realmente bravo por Pope tê-los interrompido.

Antes de abrir, Maybrank parou no meio do processo e encarou Kiara do outro lado do quarto. Ela ajeitou o vestido que JJ havia tateado, ahora retocava o batão. Carrera o olhou, um olhar cruelmente indecifrável.

JJ lambeu os lábios controlando-se para não ignorar Pope e tentar a sorte novamente beijando Kiara mais uma vez, mas contentou-se em apenas abrir a porta.

Pope estava impaciente.

── Vocês estavam aqui o tempo todo? Vamos! Já está na hora do show, estamos esperando vocês ── esbravejou Pope. ── Mas que droga vocês estavam fazendo?

O sangue de Kiara congelou.

── Conversando ── os dois responderam, imediatamente. Se entre olhando quando o fizeram.

── Ok... ── Pope estranhou, mas decidiu perguntar para o amigo detalhes mais tarde.

Voltando para a festa, o loiro e a cacheada receberam olhares de todos os tipos por absolutamente todos os convidados. Pelo jeito, já havia feito a contagem regressiva para a meia noite e o álbum já estava disponível para todo o mundo: apenas faltava o show de estreia da música do grande destaque do álbum que havia combinado. Eram meia noite e quinze.

Eles haviam ficado tanto tempo assim... conversando?

── Aí, estão! ── John B falou baixo para JJ. ── Detalhes depois.

Kiara fingiu que não escutou, procurou Sarah com os olhos. A loira estava a alguns metros de distância, perguntou fazendo leitura labial:
── O que aconteceu?

── Nada ── respondeu Kiara da mesma forma.

O DJ que tocou a noite toda fez a apresentação da banda com a participação de Kiara — pelo o que parecia a segunda vez — dando a deixa para os quatro subirem e tomarem seus lugares no palco.

Carrera tentou engolir tudo o que estava sentido — igual fez com todas as doses de vodca e tequila que bebera durante a noite — não podia lidar com nada disso naquele momento, talvez jamais pudesse. Agora era a hora de fazer a única coisa que havia bem: cantar. Cantar com toda a sua alma.

A melodia começou a ser tocada, pelo violão de JJ, a bateria de Pope e o baixo de John B. Depois de uns segundos, Kiara começou a cantar a música quase como no dia da gravação.

Quase.

Dessa vez, a mulher estava mais potente. Mais melancólica também. Pelo jeito, seu olhar e sua podiam ser indecifráveis, mas sua arte era mais do que transparente. Ela comunicava por si só.

Tal fato adicionado a voz rouca de Kiara, fez a música ficar ainda mais alucinante e, quando JJ começou a cantar também, apenas completou tudo aquilo. A voz dele não era tão trágica quanto a de Kiara, na verdade, era um pouco mais feliz, digamos assim. Como quando você realiza algo que havia idealizando e isso consegue ser ainda melhor do que você esperava.

Era um contraste. Um contraste que casou perfeitamente bem com o conteúdo da música.

A plateia ia a louca e os comentários da live disparavam. Eles eram um sucesso. Era de tirar o fôlego. Suas vozes eram opostos completamentares, sua química era perceptível e inegável. Todos ali estavam mais do que ciente disso, pois presenciavam com seus próprios olhos.

JJ, então, para refrão, aproximou-se de Kiara. Na verdade, decidiu que seria uma boa ideia — para agradar os fãs, é claro — eles dividirem o mesmo microfone. O que obrigava Kiara fazer o que ela estava evitando: olhá-lo.

Os dois então cantaram com todos os seus seres um de frente para o outro. Olhando um no olho do outro. O azul oceano intenso de JJ contemplava o castanho terra indescritível de Kiara.

No último verso, Kiara sussurrou, deixando a voz meio falhada, cantando tão perto de Maybrank que ele conseguiu sentir o ar deixado escapar por Kiara na forma de um suspiro.

Todos foram a loucura. Todos sabiam que ali havia algo. Não sabiam o quê, mas esses dois tinham alguma história.

Ou podiam ter.

Depois, Kiara saiu do palco, deixando os Pogues cantarem o restante do álbum.

No começou da segunda música, JJ Maybrank sentiu falta do corpo de Kiara ali ao seu lado, dividindo o microfone. E sentiu ainda mais falta sa voz dela preenchendo tudo — até ele própria.

E foi então que ele soube, de novo.

Ele soube que...

Soube que estava apaixonado por Kiara Carrera.

Não sabia como, mas havia todos os porquês do mundo para isso.

E, acima de tudo, ele sabia que estava perdido. Completamente perdido.

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capítulo meio curto,
mas acho que valeu a pena 😝

não revisei ainda, portanto está sujeito a erros

beijocas 💋