Capítulo 1 - Reencontros

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A brisa soprava tênue por entre a mata, carregando os aromas orvalhados e nuances da floresta enquanto as copas das árvores deixavam escapar os últimos raios de luz anunciando a despedida daquele dia.

Com o vanescer do último raio de sol, um silêncio quase sepulcral instaurou-se ali, quebrado apenas por sons delicados como o estridular dos grilos, bater de asas de morcegos, farfalhar das folhas ao vento, e o correr das águas de um rio ao longe.

Howdar e Tarien haviam chegado prévios ao crepúsculo do dia em busca de um cervo de açafrão para as festividades no mais tardar daquela noite, mas tal rara criatura era conhecida por ser muito safa e conhecia bem seu caminho pela floresta tal como os perigos que nela habitavam. Hoje seria dia de Vel-Terâ e, como de tradição, jovens escolhidos pela regente da cidade eram enviados à floresta em busca do cervo cuja carne seria oferecida a divindade conhecida como Galardë, patrono da cidade.

Howdar era o irmão mais novo, acabara de fazer vinte cinco anos, idade mínima para participar da caça aos cervos, Tarien era dois anos mais velho.

Howdar era um garoto corpulento e mais alto que a média, bem como Tarien, tinha cabelo e barba castanhos claros, sua, porém era mais cheia e comprida. Sempre usava o cabelo curto e rente, enquanto Tarien optava por deixá-lo comprido. As únicas coisas que tinham de fato em comum eram os olhos cor de jade e as feições duras dando-lhes um ar de constante impaciência.

Para atrair o cervo, os irmãos adentraram a mata até sua parte mais densa onde crescia uma flor chamada Brisa de Veludo. Ela tinha esse nome pois ao ser tocada com a brisa mais rala, exalava um odor adocicado tão afável e leve que dizia-se dar a impressão de se estar sendo acariciado por um lenço de veludo perfumado.

Tal rara flor, dava a graça de seu desabrochar apenas ao fim da primavera, quando a natureza reservava seus maiores tesouros àqueles dotados da virtude da paciência. E era justo durante este período, tão único do ano, que os cervos de açafrão, notadamente tímidos, deixavam as sombras para se deleitar no néctar das flores que cresciam apenas em clareiras abertas, banhadas pelo luar.

- Sem chances de tentarmos pegar um cervo nessa escuridão toda – Sussurrou Tarien enquanto caminhava agachado a curtos passos.

- Ei, para, para! – Sussurrou Howdar, puxando o capuz do irmão. Apontava

o dedo para uma direção mais a frente onde podia-se ver o lampejo da lua clarear uma pequena área descoberta pelas copas.

Os irmãos se aproximaram cautelosos até a beira da clareira, foi um alívio recompensador após as horas se esgueirando pela mata em busca de uma.

- Aqui tá bom, o que acha? – Perguntou Howdar, ao irmão que confirmou com um leve acenar de cabeça.

- Dá pra ter uma boa visão, e olha só, tem três flores bem ali. São elas, certo? Brisas de veludo? - Perguntou Howdar se acomodando atrás dos arbustos que circundavam a clareira – Me responde, são aquelas flores, certo?

Tarien que preparava as flechas e o arco, confirmou que sim, eram as tais flores com um resmungo abafado e impaciente. Ambos estavam encapuzados e cobertos por longos mantos verde escuros, deixando escapar apenas os antebraços, cobertos por braceletes de couro com tiras de metal.

- Quanto tempo acha que vai demorar até um deles apar...

- Shhh! – Sinalizou Tarien enquanto apontava o dedo para as folhas se movendo logo adiante e sussurrou - Tem algo vindo, faz o favor de ficar quieto.

O leve sacolejar das folhas parecia anunciar algo prestes a entrar na clareira onde estavam as três flores, mas de súbito o movimento cessou, deixando os irmãos em alerta, com os arcos armados

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora