Capítulo 28 - Uma brisa de esperança

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Havia se passado uma hora inteira, Layav tinha os olhos combalidos, quase foscos, como se a vida aos poucos a deixasse. O ar em seus pulmões era fino e por mais esforço que fizesse, mal conseguia enchê-los pois estavam frágeis tal qual o resquício de esperança que lhe restava, ficando distante em sua mente como uma lembrança que, em um dia longínquo ansiou por um novo alvorecer.

Val'Er torceu a mão outra vez, a garota estremeceu e agora, ao invés de um grito estridente, soltara um gemido esganiçado com a pouca voz que restava dentro dela, mas desta vez, o cavaleiro antecipou o cessar da tortura.

Arquejante de cólera, aproximou-se da vär rendida, os pés suspensos do solo. Com a mão, contraiu os dedos fazendo o corpo da jovem pender para frente, o rosto dela estava agora apenas a meio metro do seu.

Enquanto mirava-lhe as pupilas turvas, Val'Er sentira um nó na garganta, e sem que notasse, levou a mão á boca ao examinar de perto o estado de Layav, e mesmo em sua condição, a garota espantou-se ao notar um suspeito marejar nos olhos de seu algoz que, ao dar-se conta do que deixava transparecer, deu lhe um tapa no rosto e rosnou, cerrando os dentes.

- Olhe o que me fez fazer! – Resmoneou ele, com a voz trêmula, levando a mão ao rosto, tampando metade da face. A seguir, contraiu o lábio enquanto inspirava afoito e com ênfase, falou – Sabes o que tive que abandonar quando reneguei meu voto?

Perguntou ele, apontando para o orbe de vidro no chão, que ele havia aberto mais cedo, quando Layav estava prestes a atacá-lo.

- Eu fiz um voto para renegar meu direito de usar a magia dos primeiros artífices...Mantendo meu juramento, eu viveria para sempre! Viveria até que eu pudesse cumprir meu objetivo, mas agora – Estremeceu o cavaleiro, sacolejando a mão enquanto fechava o punho – Agora, embora eu possa mais uma vez usar este poder, me restam apenas cem anos de vida...Cem anos! Um sopro na vida de um belerah! Tenho apenas cem anos para dar a meu povo, este mundo que lhes é de direito! Portanto, saiba que não vou descansar até...

Val'Er freou a frase de chofre quando uma lufada adentrou a clareira e seguida dela, respingos de chuva, subitamente começaram a cair e dentro de pouco mais de dois minutos, o repentino chuviscar tornou-se uma chuva intensa, quase torrencial, e logo, relâmpagos percorreram o céu e num curto decorrer, uma tempestade de raios instaurou-se nas nuvens, culminando em um raio que caíra apenas a alguns metros de onde estavam.

O cavaleiro vränyr, com a mão livre que lhe restava, sacou a espada e afastou-se lentamente, a outra mão ainda estava estendida, mantendo a garota suspensa. E enquanto averiguava os arredores, a chuva crescia forte e quaisquer outros sons, bem como o fogo que se espalhava pela floresta, foram tomados pelo chiar intenso da tempestade. Foi então que, quase como se pressentisse, o cavaleiro num gesto súbito ergueu a espada para os céus ao mesmo tempo que um raio verteu sobre ele, mas fora, pouco antes de atingi-lo, pareado pela espada. A lâmina ardeu em um brilho quase cegante e com uma rápida estocada, Val'Er redirecionou o raio, lançando-o contra uma árvore.

Aturdido pelo ocorrido que parecia para ele, não ser um acidente, arregalou os olhos enquanto esquadrinhava a clareira buscando o suposto autor daquele ataque. Entrementes, sentira uma inesperada corrente de vento vinda de seu flanco esquerdo, o cavaleiro apontou sua espada para a floresta e lançou uma centelha de energia na mesma direção de onde, outro raio, agora vindo da floresta, quase o acertara mas o ataque, porém chocou-se com a centelha, resultando em um fulgor cuja explosão fez seus ouvidos zumbirem.

- Quem é? Apareça! É o apostata que vem até mim? Decidiu dar as caras? Será que... – Val'Er cessou as palavras e uma súbita risada macabra tomou o lugar do ardor com o qual proferia as palavras. Olhando para a garota, apontou a espada na direção da floresta e falou, erguendo a voz o tanto que conseguia – Não...Não é ele! Mas seja então quem for...É ela que queres? Vieras ao socorro desta imunda?

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora