Capitulo 17 - Um despertar infeliz

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A noite correu quieta e solene, após a ceia, o grupo estendeu algumas lonas que

Haviam trazido e ali adormeceram. Apesar da atmosfera um tanto soturna do castelo, da poeira, e do chão duro, conseguiram adormecer.

De todos ali, Tarien fora o único, que, apesar de ter os olhos fechados, não conseguia dormir. Cada rajada que entrava pela fresta da porta, cada estridular de um grilo, ou bramir de algum animal o mantinham alerta; havia em seu peito, algo que pesava, o garoto respirava fundo em uma constância afoita de modo que sua inquietação crescia a cada instante pois o ar parecia não preencher seus pulmões. Após longos minutos encarando a escuridão umbral do teto do castelo, o garoto sentiu finalmente sua pálpebra pesar e aos poucos, pendeu a cabeça para o lado enquanto uma leveza calorosa se espalhava, vindo dos pés e indo até sua cabeça e estava prestes a entregar-se ao sono quando um odor característico lhe tocara as narinas, terra molhada. A seguir veio o tintilar da chuva contra o telhado, gotas que em poucos instantes tornaram-se um toró e assim, Tarien conformou-se, não iria mais dormir naquela noite.

Tomando cuidado para não acordar os outros, o garoto descobriu-se da lona e tirou uma das tochas do encaixe e optou por seguir com a exploração que havia começado mais cedo.

Logo então, estava ele outra vez de frente para a tapeçaria azul mas não se demorou ali, mais cedo, as duas portas no fundo do salão, separadas pela escadaria, haviam chamado sua atenção, mas sabia que os outros não deixariam que ele fosse até lá sozinho, contudo, todos dormiam agora. Tarien tinha consciência de que, desbravar um lugar daqueles sozinho não era a decisão mais sábia, decidiu fazê-lo mesmo assim – É só um castelo velho – Pensou consigo enquanto abria uma das portas com cautela, tentando evitar o ranger da madeira contra o chão. E quem sabe, se saciasse sua curiosidade de saber o que estava por de trás daquela porta, conseguisse enfim, pegar no sono quando voltasse.

Estava agora diante de um corredor que parecia dar para um abismo, não havia qualquer resquício de luz ou qualquer nesga de luar, a chama da tocha era tudo capaz de afrontar as sombras. Ainda parado no batente da porta, o garoto respirou fundo enquanto uma forte ponderação recaíra sobre ele; talvez não quisesse mais explorar aquele lugar, mas se desse meio volta agora, ficaria o resto da viagem pensando o que teria lá dentro.

Além disso, os acontecimentos da prisão ainda se faziam presentes em sua mente, sendo assim, qualquer coisa seria melhor do que ficar remoendo o que vira naquele lugar. Deu outra inspirada, bem mais funda dessa vez e acabou não só inalando a coragem que precisava, mas também um bocado de poeira e um odor úmido, carregado de mofo, lhe fazendo tossir vigorosamente ao mesmo tempo que pressionava o braço para abafar o barulho.

- Merda – Sussurrou logo após, olhando acuado para onde estava o grupo. Felizmente, ninguém ouvira nada, em parte devido à chuva que caia intensamente. Sem novas ponderações, o garoto adentrou o corredor, que mostrou-se ser mais largo do que aparentava conforme a tocha ia iluminando o caminho. Andara por breves minutos, passando por algumas portas, muitas possivelmente trancadas e outras bloqueadas por escombros.

Minutos depois, chegara em um pequeno átrio parcialmente iluminado por um feixe de luar que adentrava por uma rachadura no teto. Havia uma mesa redonda, circundada por altas cadeiras e sob o tampo jaziam velhas taças, pratos, livros e pergaminhos carcomidos pelo tempo.

O garoto examinou a saleta, erguendo a tocha para ver os destroços do antigo recinto e notou que havia alguns quadros ao redor, com desenhos similares aos que vira na tapeçaria no salão de entrada. Um dos quadros, o maior especificamente, lhe chamou a atenção. Mais perto, cerrou os olhos para ver os desenhos já opacos e desbotados e percebeu que estavam retratados ali, cavaleiros, sentados a uma mesa redonda. Não demorou para notar que a mesa em questão era justa a que estava às suas costas. Havia contudo, algo familiar naquela pintura: as pessoas no quadro aparentavam suspeitamente alegres, alegres demais, bem como as que vira na tapeçaria no salão de entrada.

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora