Capítulo 7 - Abismo dos sonhos

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Layav expirou, fechando os olhos enquanto esfregava a testa, então após tomar um bocado de ar, encarapitou-se na cadeira e respondeu, tentando firmar a voz.

- Tá bom, estou pronta.

Havia sido decidido, fariam o ritual. Enquanto fitava a capa adornada do grimório, alisando-a com uma das mãos sob os relevos e enfeites de metal, Ulgrad buscou como pôde acalmar a respiração antes de abri-la e ao expirar abriu o livro. Folheando por alguns minutos, achou a sessão que buscava.

- Vamos começar, peço que tente relaxar e quando eu começar a entoar as palavras, não fale. Quando eu mandar fechar os olhos, feche e aconteça o que acontecer, não os abra e quando eu disser para fazer algo, faça, não hesite. Se entendeu o que eu disse, acene com a cabeça.

Ainda de olhos abertos, a jovem pendeu a cabeça em resposta e se aconchegou na poltrona.

Antes de seguir com o procedimento, foi até uma das estantes onde pegou um estojo de madeira, dele, tirou dois potinhos, cada um contendo pó moído de incenso, um sendo de sândalo e o outro, alfazema. Pôs os dois em pequenos braseiros, do tamanho de um cinzeiro e os acendeu, cada um de um lado da poltrona. Rapidamente, o odor de ambos inundou o recinto, deixando imerso numa atmosfera quase mística, e surpreendentemente leve.

Pela ótica de Layav, conforme o odor dos incensos se intensificava, seus sentidos pareciam se expandir, ao mesmo tempo que sua pressão parecia cair, ficando cada vez mais leve e sonolenta.

Enquanto os incensos faziam seu trabalho, o mago puxou a outra poltrona, deixando-a de frente para a garota e enfim, com o livro em mãos, inspirou fundo uma última vez e iniciou a leitura em voz alta.

- Dthir let yernae, jyev... - Entoava o mago, quando foi interrompido por um murmúrio, vindo da garota

- O que foi que disse?

- Shh! – Chiou o mago - Estou entoando o que está escrito, não ouviu o que eu falei?

- Que língua é essa? Isso é Therenil?

- Sim, é, e você sabe – Respondeu impaciente – Layav, preciso que fique em silêncio! Não fale!

- Aham, ficar quieta, já sei, estou quieta, pode continuar.

O mago expirou fundo, acalmando-se enquanto buscava encontrar onde havia parado na página e uma vez que achou a linha onde deixara a leitura, limpou a garganta e seguiu a entoar, desta vez com a voz mais alta

"Dthir let yernae, jyev mhyer ...Norath, Phëus, Fyar, Dyar..."

(Aqui, que venham até mim...Norte, sul, leste, oeste...)

"Thull et mhyer yr alas'pher ulm vit odros yet hithenir ud dearg..."

(Conceda a mim o caminho pelo desconhecido, oculto nas sombras...)

"Thull et mhyer ther aeng g'eil"

(Permita-me espreitar pelo véu...)

"Usda et echtel vit amnn dagrvhû ul kheil"

(Que se perde por entre sonho e realidade)

Terminando os primeiros versos, o mago correu os olhos pela página, havia imagens, símbolos e textos foram tomando forma conforme recitava os versos, convergindo aos poucos num espaço circular onde havia o contorno desbotado de uma mão, também cercada por símbolos, porém menores. Ulgrad cerrou o olhar, havia uma pequena estrofe em tom rubro, abaixo do desenho que, traduzida dizia "Que seu juramento se mantenha firme durante a viagem, nos dê a vossa mão e não se solte até ter encontrado o que veio buscar – Destinados ao esquecimento e ao vazio estarão aqueles que não cumprirem sua palavra...Estejam avisados antes de continuar"

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora