Capítulo 12 - Moedas de sangue

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Após a extensa descida marcada pelas visões e cenas mórbidas, Saol recomendou que os jovens usassem alguns breves minutos para que pudessem digerir tudo o que haviam presenciado até aquele momento.

O veterano, olhava com apreensão para o grupo, comprimindo os lábios e disfarçadamente perambulando de um lado para o outro com relutância.

- Venham – Disse Saol, junto a um expirar longo e prolongado ao fim do qual falou – Iremos apertar o passo uma vez que entrarmos, esse lugar me enjoa e então quero chegar a Valggor o mais depressa possível, fui claro?

Confirmaram todos com a cabeça e outra vez, Saol expirou. Agora, enquanto apoiava as mãos contra as ombreiras do portão enorme, de cabeça baixa inflou os pulmões como se tomasse coragem. Havia, em cada porta, grossas argolas usadas como gongos para alertar que alguém estava a á espera.

Saol, agarrando uma das argolas, golpeou-a contra o metal pausadamente algumas vezes, de modo que daquele golpear, prorrompessem badalos longos e graves que reverberam abafados como os de um sino.

Breves segundos decorreram e logo as portas começaram a abrir, irrompendo em um ranger vagaroso e ensurdecedor, ao ponto de deixar algumas faíscas escaparem do atrito com o chão abrasivo. Uma vez aberta, retumbaram vindos dos salões, prantos, lamentos e berros distantes e dissonantes, quase que em coro dano aos recém-chegados, um tremendo frio na espinha junto a uma inevitável, porém, compreensiva hesitação.

Depararam-se então com um largo corredor de pedra onde altas pilastras contornadas por suportes de ferro convergiam a um teto côncavo e rebaixado onde inúmeras hastes de metal se costuravam como se fossem uma malha. Do teto, pendia um grande candeeiro onde uma chama queimava difusa. A luz inconstante, junta ao desgaste da pedra e do ferro nas paredes, e o forte odor úmido e oxidado criava uma atmosfera enrubescida, densa e perturbadora que se estendia pela extensão do caminho até certa altura, que, de onde estavam, era possível ver que dava para uma área maior. Conforme andavam, notou-se um o som de um repentino chape e respingos que seguiram, havia poças que inundavam parte do caminho, fruto de alguns canos que desaguavam ali.

Layav que conseguia enxergar melhor do que os demais na presença de pouca luz, notou que a água que saia dos canos, além de turva, estava avermelhada e logo conseguiu notar o odor de linfa que impregnava o recinto, como se não bastasse o forte ar mofado e de ferrugem nauseantes.

Após uma curta caminhada pelo claustro de entrada, chegaram a uma câmara hexagonal cujo chão estava coberto por uma mistura de lama e um conteúdo vermelho indistinto que poderia ser sangue, ferrugem ou ambos ou, quaisquer outros restos que pudessem escoar pelos canos e rachaduras das paredes espurcas. Piras, queimavam sob baixas plataformas contra as arestas do salão hexagonal, dividido pelos vértices de onde partiam os caminhos para outras áreas da masmorra.

- Para onde nós vamos agora? – Perguntou a capitã para Saol, uma vez estavam no meio do salão, enquanto apertava o cabo de sua espada ainda na bainha e cobria o nariz com uma das mãos.

- Não sei. – Respondeu seco, examinando os arredores com o olhar cerrado – Temos que esperar até que nos recebam, se perder aqui é extremamente fácil.

Ao passo que aguardava apreensivo, Saol percebeu que Belian se afastava a curtos passos em direção a um dos corredores e rapidamente segurou-lhe pelo ombro, puxando para perto dos outros

- Fique perto garoto!

- Não vou a lugar nenhum! – Resmungou – Só estou achando isso daqui bem estranho. Ninguém, desde que entramos aqui, veio falar com a gente, como sabem que estamos aqui? Em falar nisso, não havia ninguém atrás das portas quando entramos. Onde estão os responsáveis desse...Lugar?

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora