Capítulo 27 - Ofuscados

1 0 0
                                    

Após o último suspiro de Howdar, houve um longo e demorado hiato pelo qual estendera-se um silêncio quase sepulcral, quebrado apenas pelo crepitar das madeiras tomadas pelas chamas que se espalhavam ferozmente pela brenha. O silêncio, porém, fora rompido por um segundo pranto e soluços vindos de Layav, agora, caída com as mãos no chão, lágrimas tamborilando marcando o solo em pequenas manchas. Rhaela já havia a soltado e estava ajoelhada a seu lado, com a mão em seu ombro, seus olhos, imersos em lágrimas.

Próximo a ela, estava Tarien. Suas feições estavam pétreas, olhos oscilavam, incertos do que viam enquanto sua boca buscava em vão, falar alguma coisa.

Belian havia acabado de ficar de pé, usara a estrutura da carruagem para se levantar e quando ergueu a cabeça, notou a expressão de Tarien e, confuso, franziu o cenho sem saber a princípio a razão para que o amigo esboçasse tamanho terror. Demorara, porém, apenas alguns instantes para dar-se conta do ocorrido pois logo quando olhou na mesma direção que Tarien, avistou o corpo de Howdar. Imediatamente, um repentino nó formou-se em sua garganta acompanhado de uma violenta vertigem e ânsia de vômito que fora sucedida por uma intensa dor gélida no peito culminando em repentinos soluços, abafados pela mão que levara contra a boca.

Onde estava, Val'Er encarava o rosto do jovem caído, prestando especial atenção a seus olhos cujas cores haviam esmaecido deixando-os opacos e estáticos. A seguir, dirigiu os olhos aos machados, o brilho incandescente ainda era nítido, mas bem como metal quente, a brasa parecia esfriar, e não demoraria para que as lâminas retomassem seu tom original.

- Estás aqui!? Você quem deu os machados a este jovem? – Bradou de súbito, o cavaleiro vränyr, olhando ao redor com inquietação como se desconfiasse estar sendo observado – Mostre a cara, apóstata! Veja! Aquele a quem incubira a missão de carregar Skarphas e Rhaesir está morto! Quantos mais terão de morrer para que você venha a mim?

Não houve resposta, bem como antes, apenas o farfalhar das chamas se espalhando com o vento era o que se podia ouvir. Com dentes cerrados e os a saltar das órbitas, brilhando em tom ciano, Val'Er urrou para o nada, o grito vindo de seus pulmões antecedeu uma outra indagação

- Me responda! Venha até mim, covarde, traidor do seu povo! Irei liquidá-lo como fiz com este moleque!

Enfim, o cavaleiro desistiu, concluiu que não conseguiria nada falando com o vento, sendo assim, caminhou até o corpo de Howdar e quando abaixava para pegar um dos machados, ouvira a voz de Layav dirigindo-se a ele

- Não se atreva! – Bradou a garota, o antebraço direito limpava a lágrimas que escorriam em seu rosto. Sem dar chance a qualquer hesitação que pudesse surgir, caminhou a passos largos em direção ao cavaleiro. Suas mãos, já paralelas ao corpo conflagraram como se ela usasse manoplas de fogo.

- Desgraçado, desgraçado! – Bradou Tarien enquanto levava as mãos à testa, mirando de onde estava, o corpo caído do irmão. Absorto, o jovem franziu o rosto em conjunção aos braços, tentando, novamente, evocar a energia que usara na prisão e ao convencer-se que, outra vez, falhara em fazê-lo, ajoelhou-se e com as duas mãos, socou o solo enquanto gritava. Ao fim do breve rompante, o garoto ergueu-se com os olhos marejados, desembainhou a espada e prestes a avançar, surpreendeu-se quando Layav ergueu a voz

- Não! Nem mais um passo...Essa morte, é minha.

- O que? – Questionou Tarien, a espada tremulava em seu punho – Ele é meu irmão!

Cerrando os dentes, a garota fuzilou-o com os olhos e incisiva, falou

- Você não foi capaz de fazer nada nessa luta! Por que acha que vai ter alguma diferença agora!? Ele está morto!

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora