Capítulo 25 - Encurralados

1 1 0
                                    


Sem saber quanto tempo se passou, Howdar abrira os olhos lentamente enquanto uma dor latejante agulhava sua testa se espalhando por sua cabeça e castigando a traseira dos olhos.

Ao tentar se mexer e não conseguir, rapidamente reparou que algo o envolvia e então logo, constatou que estava amarrado. Quando sua visão retomou a nitidez, notara que estava em um espaço fechado e apertado, Thomus estava a sua frente, observava-o espantado.

Apesar da visão turva, era possível ver que seus lábios se moviam, mas as palavras, bem como os sons que ouvia estavam abafados e distantes, não eram mais do que ruídos tiritantes.

- Moleque, me ouve? Howdar, não é? – Perguntou Thomus, baixando o queixo e franzindo os olhos próximos do rosto do garoto cujos olhos zonzos contraiam tentando focar no rosto do homem – A sua capitã veio correndo, trouxeram você desacordado...Um sujeito estava atacando as casas, vi vários mortos e ela disse que você estava fora de si e que tínhamos que dar o fora. História sem pé nem cabeça! Eu perguntei o que mais aconteceu, mas ela só me mandou entrar aqui e...Guilhermo, está mor...

- Pare de falar – Rosnou Howdar com a voz lânguida e olhos pesados – Deuses, essa miserável me apagou.

Ajeitando-se no que percebera ser uma poltrona, e ao prestar atenção nos constantes solavancos, deduziu que estavam na carruagem de Thomus

- Pra onde estamos indo?

- Para Barnva, ora? Para onde mais? –

O garoto grunhiu deixando um rosnar de frustração escapar por entre os dentes

- Pare a carruagem e abra a porta – Comandou Howdar mas ao notar a expressão desavinda do comerciante, reiterou, desta vez com um berro – Abre essa merda!

- Ela deu ordens que...

- Você é o contratante, você nos pagou, seu bosta! Ela não dá ordens aqui! Rhaela, abre essa porta, Rhaela! – Insistiu Howdar e sem resposta da capitã, começou a chutar a porta, chamando pelo nome da militar repetidas vezes no tom mais alto que conseguia.

- Abra pelo menos a janela, deixe o menino respirar um bocado! – Ouviu-se uma voz feminina e um pouco esganiçada vinda de fora e aparentemente, pertencia a alguém já velho, ou velha.

- Ele vai aguentar até lá. Não podemos parar! – Respondeu outra voz, era Rhaela, foi fácil de reconhecer desta vez

Ficando mais frustrado e confuso ao passar dos segundos, Howdar reclinou-se no assento e erguendo um dos pés, aproveitou que a base de sua greva era de ferro e chutou a janela da carruagem que era de madeira. O primeiro chute a fez a malha da janela envergar, o segundo a arrancou por completo, debruçando o pescoço para fora, viu que o grupo estava todo ali, era noite e cada um carregava uma tocha consigo enquanto cavalgavam a um ritmo moderado.

Apertando a visão para enxergar melhor, viu que alguém cavalgava junto a Rhaela, montado atrás dela e à primeira vista, não conseguiu identificar quem poderia ser.

Foi apenas quando viu dois olhos azuis que lembravam os de uma coruja, iluminados pelo lume oscilante da tocha de Rhaela que um assomo de surpresa e cólera ferveram em seu peito num único instante, queimando-lhe as entranhas. Howdar voltou para o interior da carruagem e ao reparar o ar espantado com o qual o comerciante o fitava, sentiu sua raiva eclodir na garganta como ânsia de vômito, todavia, toda sua raiva desaguou num histérico gargalhar de alguns segundos, então, meneando a cabeça inconformado, falou em tom de constatação

- Nós vamos morrer.

- Como assim? Nós estamos fugindo, estamos...

Howdar pendeu a cabeça, fechando os olhos e deixando um riso chiado escapar em tom de suspiro, perguntou

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora