Capítulo 24 - Vränyr

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Descendo a escada sem espiralada, Howdar chegou ao térreo e a primeira coisa que lhe chamou a atenção foi o corpo de Ghuilermo estirado e debruçado sobre o balcão. Um esgar de raiva e frustração apossou-se de seu rosto quando pensou no dinheiro que escapara de suas mãos agora que o suposto devedor estava morto. Mas algo visto como ele havia sido liquidado não seria prudente se aprumar ou demonstrar raiva naquele instante, sendo assim, o jovem vantelian caminhou com relutância até ficar diante do sujeito encapuzado que o havia chamado.

Ele estava no meio da sala, estático como uma estátua e ao caminhar em sua direção, o garoto prendeu a respiração; ele era muito mais alto do que parecia visto do segundo andar. Algo insólito prorrompia daquela presença, estar diante daquele ser não era muito diferente da sensação caminhar por um beco escuro sem saber o que se espreita no breu.

- Estamos aqui, como você falou, o que quer de nós? – Perguntou Howdar com a voz falhando levemente ao mesmo tempo que Tarien e os outros vinham descendo os últimos degraus da escada. O grupo reuniu-se logo atrás do garoto que com os machados em mãos, mal conseguia disfarçar a tensão a julgar por como seus ombros estavam contraídos.

- Ora, fico satisfeito em ver que fizeram a coisa certa. Foi sábio de vossa parte, tens um nome? – Perguntou a voz reverberante vindo de um rosto turvo cuja boca movia-se sob o capuz.

O garoto engoliu sem seco, seu peito movendo-se para cima e para baixo enquanto seu pé vacilava um bocado. Uma cálida frustração tomou-o por inteiro ao perceber que, não importava o que fizesse, não conseguia disfarçar um suposto pânico que borbulhava em seu peito. Não era claro contudo por que sentia aquilo, pensando por um breve momento nas criaturas, feras e homens horrendos com quem lutara no passado, questionou-se por que justamente ele, o fazia tremer daquele jeito?

- Isso...Importa? Por que quer saber meu nome?

A figura encapuzada rangeu a voz soltando um leve grunhido de satisfação ao ser questionado

- Pois seria de malgrado lhe requisitar algo sem chamá-lo pelo nome, não acha?

- Talvez... – Balbuciou o garoto

- Pois bem, eis o meu, chamo-me Val'Er, cavaleiro da ordem dos Vranÿr. Agora tens o nome daquele que lhe dirige a palavra...Por educação, você deveria me dizer o vosso nome.

Howdar apertou o cabo dos machados enquanto disfarçadamente os punha para baixo

- Ho...Howdar, soldado de Van'Tell

- Ora, um soldado, hã? Que honra a minha – Respondeu Val'Er com um riso abafado - Ótimo, agora, excelso soldado, veio a mim que tens algo que é de meu interesse. Mas sei também que não está com você, mas irei pedir que me leve a essa tal curandeira que possui o item que é de alta valia para mim.

Howdar contraiu os lábios, sentindo o gosto do suor frio que corria por seu rosto e olhou para trás, o grupo inteiro parecia compartilhar de sua sensação, dada a nítida a expressão tensa no rosto de cada um ali, especialmente de Tarien que havia recuado e estava apoiado contra o corrimão da escada. Ele, em particular parecia carregar algo a mais, todavia, visto como olhava erraticamente para todos lados, entretanto, não seria possível amparar o irmão naquele instante. Voltando a atenção ao encapuzado, pensou outra vez no que Layav lhe dissera quando estavam no castelo pela trilha das bétulas e ponderou, algo dentro dele queria simplesmente levá-lo a curandeira e ver-se livre daquilo, mas ao mesmo tempo, sentia algo, uma intuição voraz em seu âmago lhe dizendo que deveria resistir.

- Não sei de curandeira nenhuma... – Respondeu o garoto ao mesmo tempo que dirigia o olhar ao corpo de Guilhermo e inspirando fundo, buscou forças para não fraquejar a voz. Ergueu a postura, olhou diretamente par Val'Er e falou – Se foi aquele sujeito que falou isso, ele te confundiu. Ele nos devia dinheiro e quando nos viu, achou que apontando pra gente ele ia se livrar, mas...– Howdar suspirou tenso, olhou uma última vez para o cadáver e continuou – Olha, eu não sei o que é que você busca, mas não temos como te ajudar, a gente só veio aqui pra cobrar o nosso dinheiro daquele traste e ir embora, bom, pelo menos esse era o plano – Disse o garoto, terminando a frase com um encolher dos ombros.

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora