Capítulo 33 - Reunidas

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Azul se agachou, ficando próxima à fresta entre as muretas; cada músculo de seu corpo havia enrijecido e toda a atenção que conseguia reter foi dirigida a seus ouvidos enquanto ela atentava-se aos passos da criatura. Suspirando uma última vez, engatinhou para fora e ao ficar de pé, conseguia ver a silhueta enorme do espreitador de costas para ela, esgueirando-se por uma por entre os escombros a pouco mais de quinze metros dali. Segura de que aquela era sua chance, gesticulou para que Layav e Ulgrad saíssem do esconderijo. Uma vez com os três de pé, seguiram para a escadaria em espiral que levaria ao próximo e, com sorte, último andar.

O primeiro degrau ficava a pelo menos cinquenta metros de onde estavam os três, o que seria, em condições normais, uma distância percorrível em instantes, mas devido às circunstâncias, tiveram que prosseguir com cautela e ponderando cada passo dado.

Azul andava á frente do mago e atrás dele, vinha Layav, olhando por cima do ombro sempre que desconfiava ouvir algo, estavam a poucos metros agora, a garota de olhos safira, ofegava a cada centímetro que se aproximava da escadaria. Seu entusiasmo e, a princípio, alívio, cresciam a cada instante, todavia, chacoalharam quando, de chofre, um hexápode surgiu do alto de um lance de escada, descendo com agitação e ao alcançar o último degrau, o grupo o fitou com uma expressão pétrea que acompanhou o ser de seis pernas até perdê-lo de vista.

- Não parem agora, andem! – Estremeceu Layav, contendo a voz o máximo que conseguia.

Enquanto apressavam-se em direção ao degrau, ouviram um guincho agudo e outro som que seguiu a seguir, este, porém, soava ao mesmo tempo como o rugido de uma fera e o urro de cólera de um homem ensandecido.

Entrementes, o guincho repetiu-se três vezes e do corredor atrás do grupo, viera o hexápode em disparada, estrambelhado em seus seis membros e em sua cola, um tropel alto como o baque de marretas. Das sombras, surgira aquilo que temiam, o espreitador, pálido, de aparência quase demoníaca, alcançara o hexápode em uma questão de poucos segundos, e o estraçalhara com suas enormes garras e presas, devorando-o parcialmente enquanto o restante de suas entranhas era lançado a sua volta.

Sem rosto e apenas com a boca escancarada, a criatura rugiu e disparou, cada passo reverberava pelas galerias como um estrondo.

Ulgrad urgiu que as duas seguissem em frente enquanto ele, ao enrijecer as mãos, gastou apenas um segundo para canalizar sua energia e logo, a meia luz do recinto ardeu em um brilho azul esbranquiçado quando a energia pura de relâmpagos se fez presente nas mãos do mago. Ele então, golpeando o ar lançou uma violenta descarga contra o monstro que ao ser atingido fora paralisado, estremecendo enquanto urrava de dor até que, após alguma insistência, caiu para trás com um baque que ressonou pelo chão e paredes de pedra.

- Por que ainda estão aqui? Querem morrer!? – Bradou o mago, empurrando as duas enquanto ele também, corria para a escadaria, certo de que seu ataque não iria parar o espreitador, apenas atrasá-lo.

Bem como previra, Ulgrad, de soslaio viu a monstruosidade erguer-se com ferocidade enquanto ele e as duas jovens galgavam os degraus.

A subida foi tortuosa já que, enquanto subiam, tinham que atentar-se às beiradas da escada que davam para a imensidão do abismo sem fundo abaixo das galerias. A cada degrau percorrido, a antecipação resvalava no peito de Layav, palpitando dolorosamente como se o sangue a agulhasse por dentro, cada arquejo, parecia vazio, rarefeito, o ar, escasso.

Tendo alcançado o terceiro andar da galeria, irromperam com toda velocidade que suas pernas podiam lhe conferir enquanto contornavam as vielas formadas por escombros e pilastras tombadas.

Os rugidos da criatura não haviam cessado, ao invés disso, ficavam mais próximos a cada instante. Enquanto os três empenhavam-se para desviar dos obstáculos à frente, ouvia-se o resvalar truculento daquele ser gigantesco que se chocava contra tudo que surgia em seu caminho, nada parecia ser capaz de conter ou sequer atrasar a fúria daquele que os perseguia.

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora