Capítulo 3 - Vel-Têra

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Houve uma grande calada, todos os olhos estavam voltados para a anciã que caminhava pelo salão, escoltada por Saol e outros soldados de alto escalão. Hellena, do alto de seus setenta e nove anos inspirou fundo e com um olhar orgulhoso sorriu solene, destacando as rugas que compunham seu rosto carregado de vivências. Seus olhos cor marrom-rubro brilhavam por entre seus cabelos brancos trançados, era consideravelmente alta sendo apenas uma cabeça mais baixa que Saol. Trajava longos mantos de linho cor de cobre e peles de lobo que pendiam de sua ombreira de ouro fosco, adornada em relevo com o brasão da cidade que era seguido pelos olhos de todos parecendo até mesmo, chamar mais atenção que a regente. A ombreira que Hellena usava era uma relíquia da nação, utilizada apenas em eventos muito importantes, nela estava um dos primeiros entalhes registrados do Alvorecer dos arcos, nome pelo qual se conhecia o brasão de Van'Tell.

O símbolo em questão era constituído por um longo e curvo arco em meia lua que era cortado ao meio por um grosso rasgo vertical, largo no topo e fino na base e logo abaixo, havia outro meio arco, com metade do tamanho do primeiro e ao topo de tudo, rente a porção mais alta e larga do rasgo havia um círculo, originalmente vazado, mas na ombreira, estava preenchido por uma joia dó'vah, que brilhava escarlate ao dia e violeta a noite representando o sol e a lua.

Segundo a tradição, os arcos adjuntos ao pilar e o círculo, compunham os pilares e história de Van'Tell. O primeiro arco representava a grande partida, ocorrida a quase mil e quinhentos anos onde as tribos originais se dividiram em três, o segundo arco, a ruptura de Van'Tell que se deu a aproximadamente quatrocentos anos quando a já concebida nação dividiu-se em dois grupos: aqueles que optaram pela paz e os que ainda seguem o ideal expansionista, e ao fim, o círculo, representa a unidade da nação como uma só coisa, um só ideal.

A simbologia dos arcos remetia também aos tempos em que a nação vantelian desbravou os quatro mares ao redor dos cinco continentes. A ombreira e a joia, além de relíquias da cidade, eram uma herança de família, pertenceram ao pai da regente, Sygon de Windther, neto de Ghaelah, filha de Eythán, o famoso general responsável por assentar a nação de Van'Tell onde está hoje.

Ainda em silêncio, enquanto caminhava, a regente exibia discretos sorrisos e curtos acenos de cabeça aos que a olhavam e devolvivam reverências.

Ao fim de sua curta marcha, assentou-se ao trono da cidade, uma alta e robusta cadeira lembrando um grande bloco de mármore branco. As ombreiras e o encosto do trono eram envoltos em aço adornado com detalhes dourados e repleto de entalhos. Do topo a base do assento estendia-se uma longa e grossa lona feita de seda cor vinho, ao fim de cada braço do trono, acoplava-se um crânio de urso. Várias peles pendiam pelos braços e encosto, joias dos mais variados tipos jaziam penduradas por pequenos adornos como ganchos dourados, rentes ao alto encosto do assento.

- Como é de tradição, a cada dez anos, jovens escolhidos pelo chamado de Galardë, caso acolham esta honra, saem em caça dos cervos de açafrão que como recordam bem e faço questão de lembrar, nos alimentaram e nos aqueceram com seu couro durante os pesados anos de luta que precederam a fundação desta cidade, muito antes de mim ou qualquer um aqui – A regente deu uma boa olhada ao redor do alto do trono, não havia sons de vozes, ouvia-se apenas o estalar grande fogueira, próxima ao trono. Inspirando fundo enquanto exibia um sorriso discreto, ela continuou

- Vel-Têra, é sempre um novo começo, nos lembra de onde viemos, e quem nos tornamos, mesmo que nosso passado de conquistas não tão honrosas e pavimentadas pela ganância ainda marquem nossa história. Nos lembra também que hoje em dia somos um símbolo, não mais de medo, mas de coragem, um só símbolo, um ideal! Somos a mão forte do reino de Dhéas, somos a cidade do aço, a cidade guerreira! – Após uma pausa, a anciã pediu uma caneca de cerveja, ficando de pé, tomou um gole e em seguida, retomou o discurso - Me encho de alegria de vê-los aqui, sem mais atrasos, devemos alegrar nosso bom patrono, Galardë. Em nome de Van'Tell e de nosso patrono, Bebam, festejem e aproveitem o banquete, um feliz Vel-Têra a todos!

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora