Quando desceu para o primeiro andar, Ulgrad seguiu para o refeitório na esperança de encontrar algum dos jovens, mas logo ao chegar no recinto, rapidamente constatou que nenhum deles estava lá.
A seguir, foi até o jardim central e com uma breve inspeção, também não encontrou ninguém, mas no átimo em que dava as costas, pensou ter visto, com o canto dos olhos, um rosto familiar. Era Valggor, sentado em um dos bancos. O general descascava uma maçã com uma faca enquanto observava as carpas nadando no laguinho do jardim.
- Ah, Ulgrad – Resmungou o militar de soslaio ao avistar o mago se aproximando, seus olhos ainda na maçã, mastigando de cabeça baixa.
- Eu não o vi desde que chegamos, onde esteve?
Valggor inspirou fundo, guardou a faca, recostou no banco e só então, olhou para o mago. Seu rosto duro e barba naturalmente densa e bagunçada pareciam acentuar as olheiras escuras que contrastavam com os olhos azuis do general, enfim, após um grunhido preguiçoso, ele respondeu
- Passei os últimos dois dias no distrito militar da cidade. Parece que Thomus, apesar de ter chegado vivo, não apreciou a escolta. Adivinha de quem ele mais reclamou na auditoria que fui obrigado a ficar por três horas ouvindo aquele leitão falar?
- Howdar?
Valggor forçou um riso e balançou a cabeça em reprovação
- E quem mais? – Bufou o general – Ele citou outros nomes, mas uma vez só, no máximo duas. Acredita que Howdar chutou a cara dele pra se soltar quando estava dentro da carruagem?
Ulgrad cruzou os braços e crispando os lábios, encolheu os ombros sem saber o que responder.
- Mas eu não acredito que ele tenha feito isso de graça, certo?
Valggor deu uma última mordida na maçã e com a boca ainda cheia, respondeu
- Ele estava amarrado, Rhaela o apagou com uma pancada na cabeça, o moleque parecia estar fora de si segundo ela e por isso ele foi amarrado e posto na carruagem, e pro azar do gordinho, o moleque foi na cabine junto dele.
- Realmente, azar o dele – Concordou Ulgrad inspirando após falar e a seguir, cruzando as mãos, frisou um sorriso e perguntou – Por acaso sabe onde estão os garotos?
- Quais deles? – Perguntou o general com um ar rabugento - Rhaela está na prisão com Howdar.
- Eu sei, os outros, sabe deles?
Valggor se levantou da cadeira, bocejando com um alto uivo ao ficar de pé, o som fez com que os monges ao redor o olhassem perturbados, mas ele pouco deu importância.
- Rhaela disse que estariam no quarto de Tarien, eu acho, no segundo andar. Por quê?
- Ora por que...
- Dane-se, não precisa me falar, mago. Eu estou indo de volta para a prisão daqui a pouco, só vim aqui pra tirar um cochilo. Você vem?
- Ah, sim. Mas não agora, tenho uma pendência a resolver com Laevir.
Valggor deu de ombros e se despediu com um tapinha no ombro de Ulgrad, um tapinha que no caso, mais parecia um soco visto que a mão do general devia pesar mais que seu braço inteiro.
Ao chegar diante da porta do quarto, logo conseguiu ouvir vozes familiares, sendo a de Layav a que mais se destacava pela cadência firme e estridente.
O mago deu três batidas com os nós da mão fazendo a conversa que decorria lá dentro cessar subitamente.
A porta se abriu e era Layav, após a expressão de surpresa ao ver Ulgrad ela sorriu e lhe deu um abraço.
- O que houve? Quer entrar?
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Herdeiros de Karlari - A bússola de Holdra (Beta)
FantasiaAo fim de um breve exílio, Layav retorna à cidade de Van'Tell para um reencontro os irmãos Howdar, Tarien e um velho conhecido, Belian. Era uma viagem em busca de paz e um possível recomeço. Contudo, quando os jovens são assombrados por vislumbres...