Capítulo 46

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Naquela noite, depois de quase duas horas se exercitando como podia na cela, Howdar terminava de lavar o rosto suado usando o restante da água que havia na bacia. A seguir, deitara-se na cama e por longos minutos, refletiu a respeito do encontro com Rhaela, de sua vinda à Barnva e de tudo que o correra desde o dia em que encontrara o Umbrol nas florestas de Van'Tell. Pensara consigo o quanto sua vida havia mudado em tão poucos meses, era um fato que, particularmente, lhe causava uma inquietude no peito, por não saber ao certo a extensão ou veracidade os supostos perigos que o aguardavam e, por não saber a real natureza dos machados, que, a quase dez anos estavam com ele.

- Ora, está pensando nos machados outra vez...

Os olhos quase fechados do garoto se arregalaram ao ouvir aquela voz insólita e vinda do nada, com um sobressalto, Howdar ergueu-se da cama. Ofegante, rapidamente olhou ao redor, inclusive para trás e debaixo da cama

- Você não está louco, garoto. Sim, eu estou falando com você.

Howdar recuou até ficar contra a parede e seu arfar sobrepôs-se aos demais sons que prorrompiam pela cela.

- Não estou? Palhaçada! Me convença então de que não sou eu que estou imaginando isso! – Disse o garoto, prendendo a respiração conforme esquadrinhava tudo que havia a sua frente.

Foi quando uma mão, tocou seu ombro e fez com que Howdar soltasse um grito e corresse para o outro lado do cômodo e, olhando para trás, não havia nada ali.

- Ainda acha que está louco? – Perguntou a voz. Agora, mais nítida, era possível notar sua cadência rouca e trêmula conforme reverberava pelas paredes de pedra.

Subitamente, todos os sons externos haviam cessado. Era como se nada além daquela cela existisse no mundo.

- Volte pro vazio, demônio...Ou seja lá o que for, saia da minha cabeça! Eu não...estou...Louco!

Após sua última fala, Howdar sentira uma corrente de ar fluir pelo chão, contornando suas pernas e braços como se o ar viesse de frestas do chão e paredes, contudo, não havia entrada alguma ali senão a porta e a janela.

Pouco tempo depois, uma estranha bruma começou a tomar forma do outro lado da cela. Conforme crescia, a luz da lua, bem como a chama da tocha pareciam ser engolidas por um pequeno redemoinho escuro que aos poucos tomava a forma de uma figura esguia, alta e disforme até que, instantes depois, toda a luz da cela, exceto por um débil lume do luar havia sido extinguidas.

Houve então um silêncio sepulcral, os tímpanos de Howdar pulsavam a cada palpitar enquanto ele forçava-se, sem sucesso, contra a parede de pedra gelada.

Na escuridão, dois olhos amarelos surgiram, emanando uma luz intensa e penetrante que iluminara o chão a sua frente, bem como o contorno da silhueta que, do outro lado, fitava o garoto.

- Vê? Não está louco, estou bem aqui com você.

O jovem vantelian queria gritar, pedir por socorro, mas terror e pânico preenchiam sua garganta por completo. Paralisado, aos poucos perdera as forças nas pernas e deslizara, impotente conforme a figura de olhos dourados se aproximava, emitindo um som vibrante como se estivesse diante de chamas revoltas, mas que, naquele caso, não emanavam calor ou brilho qualquer.

- Vou lhe contar uma coisa, garoto. Eu o conheço desde que deu seus primeiros passos neste mundo, mas, não se sinta especial, pois eu conheço quase todos os seres pensantes, saiba...Eu estou aqui há muito tempo – A voz rouca fez uma pausa, deu mais um passo e retomou a fala - Pode-se dizer que eu sou, muito, muito velho. Na verdade, mais velho que o seu mundo.

Com aquela citação, Howdar, apesar de ainda estar apavorado, uma palavra veio-lhe à mente.

- Vränyr?

Herdeiros  de Karlari - A bússola de Holdra  (Beta)Onde histórias criam vida. Descubra agora