2.

3.4K 218 69
                                    

*Flashback on*

- S/n, você está novamente errando esse passo. Tem que ter leveza e a graça de uma borboleta, isso que você faz está longe de ser balé. - A professora que aparentava ter seus 50 e poucos anos falava num tom baixo mas de maneira ríspida comigo aos meus sete anos de idade - Desse jeito teremos que reforçar os treinos.

- Eu sinto muito, senhora Nara. Prometo me esforçar. - Meus pés possuíam as mais diversas feridas após fracassar várias vezes tentando arabesque no dia anterior.

- Nem que tivesse que treiná-la por 24 horas conseguiria obter resultado. - Falou uma das alunas mais velhas ao lado das outras bailarinas que riam de mim - Que inútil.

- Seria mais fácil ela desistir - A outra concordou

Elas tinham razão ou pelo menos era o que eu pensava. Mas minha mente ingênua apenas aceitou aquelas palavras e naquele dia eu realmente desisti do balé após a aula ser finalizada pela professora.

Inventei diversas desculpas aos meus pais até finalmente eles entenderem que eu não queria mais estar naquele ambiente.

Mas sempre que eu passava pelo quarto deles eu conseguia ouvir a mamãe reclamar com papai que sua filha era uma decepção, que possivelmente nunca daria honra a nossa família.

- Vovó - Chamava a atenção da mais velha que penteava cada fio de cabelo meu com atenção e maestria - A senhora me odeia ?

- Que história é essa, S/n ? De onde você tirou isso ? - Parou por alguns minutos até que a mesma soltou um suspiro pesado - Seus pais são mesmo uns imbecis.

Ela amarrou meu cabelo em um perfeito rabo de cavalo e pediu que eu me sentasse ao seu lado. Beijou minha testa me olhando com ternura.

- Eu te amo mais que tudo S/n, você é a mais bela flor no jardim dessa velha - Ela deu um sorriso que não consegui deixar de retribuir - Nunca deixe que seu brilho se apague, querida, anjos como você precisam iluminar aqueles que se encontram perdidos na escuridão como os seus pais.

- Tenho esse poder ? - A olhei com um sorriso radiante de uma criança que acabara de ganhar um doce - Eu posso iluminar a senhora vovó ?

- Minha pequena - A senhora que vestia um vestido florido e tinha seus óculos no meio do nariz quase caindo soltou uma risada melodiosa - Você iluminou a vida dessa pobre velha solitária no momento em que nasceu e eu a peguei no colo.

*Flashback off*

A voz daquele rapaz ecoava em minha mente junto com milhões de pensamentos que foram reprimidos durante anos.

Eu acreditava que o que falavam de mim era verdade, que eu não me esforçava, que era fraca e que tudo que eu fazia era inútil. Por diversas vezes tentei tirar esse fardo das costas das pessoas e colocava em mim, sempre fui a esponja que absorvia os problemas dos amigos para ver o sorriso deles. Mas ninguém pensava em mim, ninguém pensava como eu me sentia e porque eu não respondia as mensagens que mandavam pedindo a resposta do trabalho.

*flashback on*

Aos meus 15 anos eu entrei no ensino médio. E como uma completa azarada, não conseguia me encaixar em nenhum grupo de amigos, para eles eu era invisível.

- Essa garota sempre nos causando problemas em toda escola que a colocamos - Meu pai reclamava para a minha mãe - Devíamos tê-la colocado em um reformatório.

- Eu teria feito isso se não fosse a sua mãe nos atrapalhando - Revirou os olhos enquanto digitava algo em seu celular.

Eu estava parada na escada de casa ouvindo tudo, havia acabado de chegar da escola e meu rosto possuía hematomas após apanhar das garotas da minha turma. Uma delas supôs que eu estava dando em cima do seu namorado e simplesmente resolveu tirar satisfação me agredindo.

- Mãe? Pai ? - Resolvi fingir que não havia ouvido nada já que eles não perceberam minha chegada em casa até aquele instante, mas o que recebi foi o silêncio deles.

Dei um sorriso fraco sentindo um gosto de ferro na boca, lembrei do corte que haviam feito e resolvi ir para o meu quarto limpar.

*flashback off*

"Deixe sair." "Acabe logo com essa dor." Vozes em minha cabeça discutem tentando me controlar, meu peito dói com cada lembrança, cada ferida que ainda está aberta tentando cicatrizar. O remorso esta me corroendo pouco a pouco.

Culpa... A culpa é minha... O tempo todo foi minha.

S/n havia desamarrado o nó que a prendia a todos aqueles sentimentos. Suas pupilas dilatam, sua mente diante de tantas vozes não conseguia ouvir ninguém em sua volta muito menos a psiquiatra Yumi que tremia em desespero pela sua paciente. 

Porém, no meio de tantas acusações e pessoas que um dia a machucaram, ela consegue reconhecer uma voz instantaneamente entre o caos que a garota se encontra.

- Não foi sua culpa, querida. - Aquela voz doce ela reconheceria de qualquer lugar, era sua vó. - Sei o quanto esta doendo, mas preciso que preste atenção em minha voz e escute tudo que irei dizer agora.

Uma corrente elétrica passa pelo seu corpo e tudo o que antes estava preso foi solto. Seus gritos eram estridentes e ouvidos pelos corredores por todos que ali passavam. Lágrimas escorriam como um pedido de ajuda que sempre lhe foi negado. Era o fim de um luto, mas o início de um novo futuro.

O maior causador daqueles sentimentos que agora se encontravam soltos ouvia com um sorriso nos lábios e os olhos fechados, era quase uma melodia para ele. Estava em frente a porta do quarto de S/n, não havia dado um passo sequer dali.

O espetáculo estava feito.

- Finalmente a roseira aceitou suas rosas - Olhou para o final do corredor onde haviam médicos correndo em sua direção - Parece que meu trabalho está feito - Caminhou lentamente até o elevador, passou pelo quarto oito sem conseguir deixar de se amaldiçoar por ter ajudado uma desconhecida mas ainda ter seu amigo em um estado cada vez pior.

A verdade era que o rapaz havia se interessado pela moça desde a primeira vez que esbarrou com ela e sua avó na primeira semana daquele mês.

Sempre se interessou por diversas mulheres, passou noites em que mentiu dizendo ter sido inesquecível enquanto olhava bem no fundo dos olhos da acompanhante. Mas não aquela garota, apesar da energia caótica que ela transmitia seu aroma era pureza e isso ele sentiu sem muito esforço.

O que ela tinha para ter conseguido seu interesse ao ponto de roubar sua ficha de cadastro na recepção do hospital ? Bom, para ele poderia ser somente uma diversão enquanto precisasse estar ali, mas a vida estava traçando algo muito além disso.

Chegou no primeiro andar e virou-se à direita. Quarto 210. Puxou todo o ar tentando ter pensamentos positivos, a situação não estava legal mas precisava continuar acreditando que tudo se resolveria.

Se aproximou da cama em que estava o mais novo e tocou sua mão que tinha fios conectados a uma bolsa de soro e monitores. Permitiu-se jogar na poltrona ao lado e encarou a parede com certo cansaço.

- Estou de volta Rindou - Falou baixo quase como um sussurro. Alguns segundos em silêncio se passaram até tomar postura e abrir um sorriso convincente para qualquer um que o encontrasse - Por onde posso começar a história de hoje ?

 Alguns segundos em silêncio se passaram até tomar postura e abrir um sorriso convincente para qualquer um que o encontrasse - Por onde posso começar a história de hoje ?

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


É isso galerinha :)

Passando pra agradecer @Olhaeuaqkkkk por me permitir usar a ideia que teve para acrescentar no capitulo, achei maravilhoso <3 

Beijinhos, pessoal

𝐂𝐈𝐓𝐘 𝐎𝐅 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 - BONTENOnde histórias criam vida. Descubra agora