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Acabou que Haruchiyo e eu dormimos abraçados por algumas horas e só fomos acordados por batidas fortes na porta. O rosado me olhou assustado e se levantou rapidamente colocando uma cueca box e uma calça moletom, me jogou uma camisa que vesti de imediato antes dele abri-la.

Nossos olhares foram de encontro para Kokonoi que transpirava e respirava com dificuldade. Por um momento ele falou algo para Sanzu que o mesmo apenas me encarou e se retirou sem dizer nada.

Meu coração se apertou com o pressentimento de que algo não estava certo. Em silêncio e com a mente a todo vapor, apenas terminei de colocar uma roupa e fui atrás dos garotos. Logo os encontrei na sala e o cheiro de ferro veio até minhas narinas me embrulhando o estômago, respirei fundo e me aproximei, todos estavam envolta de alguém e ao ter uma visão melhor eu pude perceber que se tratava de Takeomi.

Ele havia sido esfaqueado. Não parecia um corte profundo, mas com certeza ele tinha sido encurralado por mais de um homem já que seu corpo todo estava sujo e com sangue por toda a roupa.

- O que ela esta fazendo aqui ? - Seu olhar veio em direção a mim. - Tire-a antes que a mesma comece com seus chiliques.

- Eu estou bem - Tirei as mãos do Haitani mais novo de mim e fui em direção a um cômodo nos fundos da cozinha.

Tudo que eu consegui ouvir foi que os caras que ele havia ido cobrar uma dívida eram membros da gangue de Kisaki. Ele mandou um recado para Mikey.

"Não terá próxima vez para o seu companheiro. Pense bem na minha proposta e não tente nenhuma gracinha."

Obviamente o Sano não conseguiria ficar quieto por muito tempo, provável que ele já tenha um plano. Imediatamente ele ligou para os membros da antiga Toman e se afastou de nós. Voltei para sala com uma maleta de primeiros socorros, Takeomi me olhou de maneira indecifrável, mas não falou nada e muito menos soltou suas graças.

Me limitei a encarar ele e os demais, na verdade, minha mente ao observar a facada só me fazia lembrar de Baji. Minhas mãos tremiam conforme eu manuseava o álcool e o algodão para desinfectar.

- Se não se sente bem, não precisa fazer isso - Takeomi já havia colocado um cigarro em seus lábios e tragava. Sem pensar duas vezes eu retire e joguei o maço no chão, Ran com seus sapatos pisou, o que fez o rapaz ferido nos olhar - Não lembro de ter uma dona.

- Continue com a boca fechada que estava melhor assim - O encarei séria - Ou eu farei com que você realmente tenha motivos para se contorcer de dor.

A verdade era que eu não me sentia nenhum pouco confortável com essa situação, mas o pior de tudo são as lembranças de alguém que se matou para me proteger vagando em minha mente. Ter Takeomi rindo e esnobando a chance de ter saído vivo fez meu sangue ferver, me faz olhar seu machucado e querer com que ele sentisse o que Keisuke sentiu. Que porra de sentimento é esse? Eu não sou assim.

Meus olhar estava perdido naquelas feridas, apesar de passar com delicadeza o algodão, minha mente parecia longe. Mas tudo se dissipou quando Rindou tocou com delicadeza meu ombro e meu olhar foi de encontro com o dele e os outros rapazes.

Acho que agora entendo o que é você se doar e se preocupar com alguém. Se sentir frustrado e decepcionado por não ter salvo quem você mais amava, ver pessoas se destruírem sem ser capaz de impedi-las. Apesar de vivermos em um looping de "porquês", nossas respostas costumam aparecer mais rápido do que imaginamos, mas será que estamos preparados para lidar com cada uma delas?

Baji me protegeu na medida do possível e eu não fui capaz de perceber seus sinais, ele se foi e eu fiquei, tentando seguir a vida que almejamos para nós dois. Meus pais constantemente demonstraram sinais de que me odiavam e meu coração foi tolo o suficiente em acreditar que iria conseguir mudá-los. E quando tudo estava sem vida, vovó tentava colorir um arco-íris e me fazer sorrir novamente... Tudo que aconteceu durante esses anos foram as respostas das minhas diversas perguntas. "Será que alguém seria capaz de me amar ? de me proteger? O que eu farei quando tudo estiver perdido? E se eu ficar sozinha?"

𝐂𝐈𝐓𝐘 𝐎𝐅 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 - BONTENOnde histórias criam vida. Descubra agora