6.

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Estou andando pelo hospital vagamente faz algumas horas. Meu corpo está no quarto e eu não sei porque não consigo retornar de volta, de inicio me assustei, mas agora não acho que isso seja ruim. Nunca pensei que morrer fosse me fazer continuar a ficar na Terra, que desgraça.

Basicamente ainda continuaria vivendo a mesma vida de antes, só que dessa vez sozinha e invisível para todos. O que eu estou falando ? Ainda nem estou morta, bom, eu acho.

 A cada passo que dou pelos corredores, consigo sentir uma mistura de angústia, medo e principalmente tristeza. Nada disso vem de mim... Vem de cada pessoa que eu me aproximo. Então essa é a energia de um hospital.

Uma melodia calma toca por todo lugar que eu vá, mas não consigo decifrar a origem. Então simplesmente decido voltar ao meu quarto, mas ao passar de novo pelo quarto oito, meus planos mudam.

O mesmo estava ali comendo um dorayaki, parece que alguém trouxe para ele. Estava tão concentrado em comer seu doce que tinha uma expressão fofa, totalmente diferente da que me apresentou durante a noite. Com certeza ele não notara minha presença já que virei um fantasminha, um sorriso se abre em meu rosto pensando em novos meios de me divertir com as pessoas.

- Volta para o seu corpo logo, Iekami. - Ele fala sem desviar seu olhar para minha direção. Olho para todos os lados e vejo que não tem ninguém além dele. Me sinto surpresa com a possibilidade dele estar falando sozinho ou será que o mesmo consegue me ver ? - Ah, eu consigo sim te ver sim...

- Pa-Para c-com isso! E-Está lendo mentes também ? - Coloco a mão no peito com o susto que ele me deu. Dou um passo em sua direção e fico ao seu lado na cama - Como consegue me vê?

- Não consigo te ver, estava brincando, mas por algum motivo eu consigo te sentir. - Respirou fundo e se abraçou - Você tem uma energia forte...  Alias, mesmo que baixinho, eu consigo te escutar também - Ele devora mais um doce antes de limpar a boca com as costas da mão, por alguns segundos só consigo imaginar alguém entrando e vendo ele olhar para uma parede branca e falando sozinho. - Você tem um cheiro maldito de bondade, me deixa completamente embriagado.

- Cheiro de bondade? - Franzi o cenho como se ele pudesse ver minhas expressões - Do que você está falando ?

- Nada, esquece - Tentou arremessar o pacote vazio de doce na lixeira comemorando ao marcar ponto - Deveria parar de vir aqui, não seria legal sua família saber com que tipo de pessoa você anda conversando. - Ele dá uma risada nasal mas logo negou com a cabeça - Você precisa voltar para o seu corpo, esta perdendo tempo tentando encontrar respostas onde não tem.

- E porque eu voltaria ? Não tenho motivos para querer continuar viva.

- E deixará sua avó ? Ela não é um motivo ? Bom, se você diz que não tem, então não sei. - Ele parou por alguns segundos ficando com uma cara emburrada - Existem pessoas que se preocupam com nós, pessoas que farão o possível para nos salvar. Então, apenas se dê a oportunidade de conhecer essas pessoas, nós ainda somos novos demais para nos estressarmos com essas coisas.

Após essas palavras tudo o que Manjiro dizia era como sussurros, pois a música havia aumentado. Parecia mais próxima do que antes. Ignorei o que ele dizia pois já estava saturada de ouvir desabafos de alguém que até ontem estava deitado sobre a cama morrendo. Corri até o meu quarto e lá estava meu corpo com o tal Haitani ao meu lado, ele dizia coisas que me faziam ficar desacreditada. Nós nem ao menos nos conhecemos ... Por que ele quer fazer isso por alguém como eu ?

Não, eu não posso voltar.

- Eu não iria voltar depois do que disse aquela hora. - Ele sussurrou - Mas de algum forma tem algo em minha mente que me diz que você está me ouvindo, então irei tentar mais uma vez.

𝐂𝐈𝐓𝐘 𝐎𝐅 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 - BONTENOnde histórias criam vida. Descubra agora